Ordem dos Enfermeiros denuncia falta de segurança e qualidade dos serviços no Centro Social de Nespereira

“Incumprimento das medidas de prevenção de infeção” foi uma das situações detetada.

© Eliseu Sampaio/ Mais Guimarães

A Ordem dos Enfermeiros (OE) realizou uma inspeção à Unidade de Cuidados Continuados do Centro Social da Paróquia de Nespereira, no dia 23 de maio, tendo encontrado uma série de problemas que levaram à elaboração de uma lista de recomendações para alterações. A OE aponta situações como a prestação de cuidados de higiene a começar às cinco horas, a falta de recursos humanos de enfermagem, nomeadamente de enfermeiros especialistas e a falta de qualidade das refeições, entre outras. A direção do CSN refuta todas as conclusões do relatório, chegando mesmo a referir que “o relato é falso” no que toca aos horários de higiene.

A liderança do CSN diz que estas questões “surgem de um interesse que não compreendemos de desviar as atenções do assunto mais importante – a sustentabilidade a curto prazo do Centro Social da Paróquia de Nespereira”.

Na sua visita ao CSN, a OE detetou “múltiplas substituições a nível de recursos humanos que impactam na necessária dinâmica de trabalho” e que “comprometem os cuidados de saúde das pessoas internadas”. A mudança do sistema de confeção das refeições, que agora é transportada a partir da freguesia vizinha de Polvoreira, é apontada como a razão para as refeições serem servidas frias. Ao nível alimentar, a OE registou relatos, documentados com imagens, de alimentos crus ou banhados em gordura.

A OE refere também que os enfermeiros informaram que há dificuldade em garantir o sigilo no tratamento dos dados dos utentes, “por alterações às dinâmicas de gestão documental da unidade”. Os enfermeiros queixam-se de terem de enviar documentos com dados clínicos para uma impressora situada na secretaria. No decorrer da visita, que foi acompanhada por elementos da direção, a OE constatou que não existiu integração dos novos enfermeiros em regime de prestação de serviços.

De acordo com o relatório da visita, “é entendimento, dos órgãos de direção e da gestora de enfermagem que são enfermeiros do CSP de Polvoreira e, por isso, ‘estão habituados’”. O organismo que tutela os enfermeiros tem um entendimento distinto e pede que seja criado um Manual de Integração e que “as integrações não realizadas até ao momento sejam cumpridas”.

A OE recomenda também que sejam observados os tempos necessários para a transição dos cuidados de enfermagem entre turnos, sublinhando que 15 minutos, “parece manifestamente incompatível com a transição efetiva e segura de cuidados relativos a 34 doentes”.

Cuidados de higiene de madrugada e falta de controlo de infeção

No relatório da visita da OE lê-se que “foi confirmado, no decorrer da reunião que existe indicação emanada pela direção, corroborada pela gestora de enfermagem, para prescrição de cuidados de higiene a iniciar pelas cinco horas”. A higiene dos utentes será feita em função da “comodidade” da limpeza dos espaços, “em detrimento de serem organizados e ordenados mediante as necessidades do utente”.

A OE expressa preocupações relativamente ao controlo de infeção, nomeadamente por lhe ter sido relatado que os assistentes operacionais fazem a distribuição de alimentos com equipamento de proteção individual que não é trocado entre utentes.

Para prestar cuidados aos 34 utentes internados, a OE calcula, nos termos da lei, que são necessários 34 enfermeiros alocados diretamente à prestação de cuidados, mais cinco enfermeiros especialistas em Reabilitação e um enfermeiro gestor. No CSN existem 10 enfermeiros (nove em regime de prestação de serviço), nove estão a prestar cuidados e um é enfermeiro gestor. Há 10 enfermeiros, em regime de prestação de serviço, que podem ser chamados para colmatar necessidades. A OE conclui que as dotações seguras de pessoal de enfermagem, tal como elas estão regulamentadas, não estão a ser cumpridas no CSN.

Direção está empenhada em impedir que a instituição feche portas

Relativamente à substituição dos recursos humanos, a direção do CSN recorda que elas aconteceram nos últimos três meses e, portanto, “não há nenhum indicador que demonstre objetivamente que os cuidados de saúde foram comprometidos”. Em resposta às questões do MG, a diretora executiva, Mónica Pereira, do CSN diz que é falso que não tenha sido feita a integração dos novos profissionais de enfermagem. “A OE ignorou nas suas conclusões os testemunhos que receberam de enfermeiros que fizeram integração e que sentiram que a sua integração foi suficiente para o desempenho da sua atividade profissional”, acusa. Ainda assim, reconhece que está a ser elaborado um Manual de Integração como foi recomendado pela OE.

No que toca às dotações seguras, a direção do CSN afirma que “o regulamento da OE está desatualizado”. “Não conhecemos nenhuma unidade da nossa tipologia que cumpra a dotação recomendada pela OE no País inteiro e desafiamos a que nos apresentem uma. Do ponto de vista financeiro é simplesmente impossível cumprir essa dotação”, aponta.

Para a direção do CSN, não há nenhum problema com as refeições e lembra que tem uma nutricionista que faz o controle de qualidade. Monica Pereira diz que o facto de a OE se “imiscuir neste assunto, parece ser uma usurpação de funções”. Sobre a higienização dos doentes, feita durante a madrugada, a direção do CSN é perentória: “este relato é falso”. Já sobre o controlo de infeção, Mónica Pereira afirma que “não está comprometido”, mas reconhece que “existem aspetos a melhorar como na quase totalidade das instituições de saúde”.

A direção do CSN, presidida pelo padre Francisco Xavier, tomou posse no dia 4 de fevereiro e, segundo afirma, “tem a missão difícil de garantir que o centro não fecha portas, em breve, pelas avultadas dividas deixadas pela direção anterior” que contabiliza em mais de um milhão e 700 mil euros.

Antigas diretoras clínica e técnica e chefe de enfermagem já saíram

Segundo relatos da enfermeira Cláudia Fernandes já saíram da instituição aproximadamente 30 profissionais de várias categorias, desde que esta direção tomou posse. Entre as saídas estão cinco enfermeiros, incluindo a anterior enfermeira chefe, seis médicos, entre os quais a anterior diretora clínica, assistentes sociais, fisioterapeutas, psicólogos e até a diretora técnica. Cláudia Fernandes acaba de se demitir “por não aguentar a pressão psicológica, depois da visita da OE, sempre a ver se cometemos um erro, para nos acusarem”. De acordo com esta enfermeira, os outros profissionais que têm saído fazem-no por que “não concordam com as medidas de gestão e não querem compactuar com más práticas”.

(Pelo jornalista Rui Dias)

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