Vaudeville Redez-Vous regressa assente na ideia de ciclo
Pela primeira vez vai apresentar-se uma companhia que usa as bicicletas como aparatos de circo: La Bande à Tyrex.

© Maxime Steckle
O festival de circo contemporâneo que se espalha pelas cidades do Quadrilátero Urbano – Guimarães, Braga, Famalicão e Barcelos – Vaudeville Rendez-vous, vai acontecer entre 16 e 19 de julho. A 11ª edição assenta da ideia de ciclo e tem uma espiral em movimento perpétuo, em “Ripple”, mas também reflexões sobre a morte, em “Masacrade”, de Marcel et Ses Drôles de Femmes e “Homenaje”, da Companhia Sílvia Capelli/ En Diciembre. O evento também reserva um espaço para os espetáculos que rompem com as normas e nesse aspeto valerá a pena estar atento a El Dorado”, de NDE Nicanor de Elia, e à coreografia para um homem só – João Paulo Santos – “Une Partie de Sol”. O festival conta com 11 espetáculos, seis estreias nacionais, 28 apresentações nas diferentes cidades e ainda ações de mediação com o público.
A programação, em Guimarães, arranca no dia 16, às 22h00, no recinto da Feira Semanal,, com “La Bande à Tyrex”. A companhia francesa, com o mesmo nome da peça, propõe “um turbilhão de rodas, velocidade e derrapagens, onde a bicicleta se torna num instrumento coletivo”. No dia 17, há apresentações às 19h00, “Nkama”, e às 22h00, “Masacrade”. No primeiro caso, Dimas Tivane leva à praça de pedra dos Duques de Bragança, uma mistura de malabarismo, ritmo e dança. “Nkama” significa tempo em Changana, uma língua do sul de Moçambique, de onde o artista é originário. Dimas Tivane parte de assobios, estalidos e outras particularidades desta língua para criar o seu espetáculo. O segundo espetáculo deste dia é uma reflexão irónica sobre a morte. Na tragicomédia “Masacrade” os trapezistas ensaiam formas de morrer: a que tememos, a que enfrentamos com bravura, a que gostaríamos de escolher…
No dia 18, às 19h00, no jardim do Museu Alberto Sampaio, João Paulo Santos desenvolve uma coreografia solitária à volta do mastro chinês. Durante 35 minutos, sem nunca tocar no solo, o artista desenvolve um trabalho mais poético do que acrobático. Às 22h00, no mesmo dia, na praça de pedra dos Duques de Bragança, Sílvia Capell e o percussionista Bernat Torras apresentam “Homenaje”, um enfrentamento da morte para celebrar a vida.
O último dia do festival, ficou reservado para as coproduções do organizador, o Teatro da Didascália. Às 19h00, no largo Cónego José Maria Gomes, o Instituto Nacional de Artes de Circo propõe “Cream”, uma reflexão sobre a relação entre Homem e máquina num tempo dominado pela tecnologia. Neste espetáculo o malabarismo serve para mostrar um sujeito cada vez mais absorvido pelo sistema. Às 22h00, no Instituto de Design de Guimarães, Alan e Alvin – uma dupla de artistas que têm a particularidade de ter a mesma altura, pesarem o mesmo e terem nascido no mesmo dia – apresentam um trabalho onde a roda ‘cyr’ , o movimento e a poesia se cruzam.

© Rui Dias/Mais Guimarães
Há criações que não passam por Guimarães, mas que vale a pena ver
Destaque ainda para a estreia de “Ripple”, da companhia belga e neerlandesa TeaTime Company, que não passa por Guimarães, mas que pode ser visto no dia 17 de julho, às 19h00, no Ringue de Futebol do parque da Juventude de Vila Nova de Famalicão e no dia 19 de julho, às 11h00, na praça de Pontevedra, em Barcelos.Três artistas a orbitar numa espiral metálica em rotação contínua, mostram que que gesto, cada ação tem consequências.
“El Dorado”, da companhia francesa NDE Nicanor de Elia será apresentado no dia 17 de julho, em Braga, e no dia 18, em V.N. de Famalicão. Trata-se de uma criação que cruza o circo e a dança, num trabalho de malabarismo sem objetos ou em que o objeto é o próprio corpo. “Melic”, da companhia catalã IF Circus, evoca a memória histórica das mulheres do pós-guerra que tricotavam nas ruas, tecendo não só roupas, mas também relações. A corda usada neste espetáculo vai ser tricotada num workshop, em Barcelos, de inscrição gratuita, dirigido a mulheres com mais de 60 anos, que vão também partilhar as suas histórias em pequenas entrevistas. A estreia será no dia 18 de julho, às 22h00, na Praça Municipal, em Braga.
Trabalhando também no campo da tradição e da memória, o coletivo francês Le G.Bistaki usa em “Tancarville” um lençol branco, símbolo de sonhos, memória e intimidade, ligando o mais íntimo dos rituais à memória coletiva. O espetáculo estreia-se no dia 17 de julho, às 22h00, na praceta Francisco Sá Carneiro, em Barcelos.
Para o ano o festival deve alargar-se a Viana do Castelo
No lançamento da edição deste ano, em Barcelos, o presidente do Quadrilátero em exercício, Ricardo Rio, assinalou a “posição confortável que este festival ganhou nos últimos 11 anos”, tornando-se “num marco incontornável das nossas agendas”. O presidente da Câmara de Braga referiu que no próximo ano o festival deverá crescer territorialmente, estendendo-se também a Viana do Castelo, na medida em que o Quadrilátero passou a Pentágono Urbano. Já o vereador da Cultura da Câmara de Guimarães, Miguel Oliveira, sublinhou o facto de o festival ser muito bem recebido e a grande expectativa que gera no público vimaranense.
Todos os espetáculos do Vaudeville Rendez-vous são de acesso gratuito. Nesta edição, pela primeira vez, alguns espetáculos contam também com a interpretação em língua gestual portuguesa, prática que o pretende expandir nas próximas edições a toda a programação. Ao longo do festival decorrem workshops liderados por figuras de referência do circo contemporâneo (em Guimarães, no dia 18, de manhã, na Black Box do CIAJG) e sessões de pitching com programadores internacionais.
Rui Dias