Um olhar sobre o Teleférico da Penha e necessidade da aposta na prevenção
Dezassete pessoas perderam a vida no desastre com o Elevador da Glória, um símbolo da cidade de Lisboa que, de um momento para o outro, se transformou em cenário de tragédia. Mais do que um acidente, foi um choque coletivo: a constatação de que o que damos por garantido, a segurança de um transporte histórico, mantido pela rotina e pela tradição, pode falhar de forma brutal.

© Eliseu Sampaio
A dor das famílias que perderam os seus entes queridos não se apaga. Mas da dor deve nascer também a reflexão: até que ponto estamos, enquanto comunidade, a tratar com seriedade a manutenção e a atualização dos equipamentos que todos os dias transportam pessoas? Quantas vezes se confunde “cumprir calendário” com verdadeira prevenção?
Guimarães orgulha-se de ter sido pioneira ao inaugurar o primeiro teleférico do país, o Teleférico da Penha. Para muitos, é um simples atrativo turístico; para outros, é uma memória de infância, uma experiência única de ligação entre a cidade e a serra. Mas, acima de tudo, é um equipamento que transporta vidas. E vidas exigem cuidado absoluto.
É verdade que o Teleférico da Penha é sujeito a paragens regulares para manutenção. Isso deve tranquilizar-nos? Em parte, sim. Mas a tragédia de Lisboa mostrou-nos que a rotina, por si só, não basta. Um cabo pode parecer em bom estado e, ainda assim, falhar.O cabo do Teleférico da Penha foi substituído em 2022, sabe o Mais Guimarães, quando o anterior esteve em serviço, sem problemas, durante 25 anos.
Um sistema de emergência pode existir, mas não ser suficiente. É por isso que a prevenção tem de ser mais do que um ritual técnico: tem de ser uma aposta contínua em modernização e fiscalização.
Num país que por vezes deixa a segurança cair para segundo plano, em nome de orçamentos apertados, o Teleférico da Penha deve ser tratado como um caso exemplar. Não apenas para preservar uma atração turística, mas para proteger vidas humanas. Porque cada cabine que sobe ou desce a encosta leva consigo pessoas, sonhos, famílias.
O desastre em Lisboa foi um aviso doloroso. Cabe-nos agora escutá-lo e agir. Guimarães deve garantir que o seu teleférico é não só motivo de orgulho, mas também um exemplo de responsabilidade. A melhor homenagem às 17 vítimas do Elevador da Glória será não permitir que a história se repita.