Torneios de Retórica transformam-se numa “enorme festa democrática”

A Universidade do Minho recebeu, esta terça-feira, 25 de novembro, a final de mais uma edição dos Torneios de Retórica, iniciativa promovida pela ASMAV – Associação Artística Vimaranense, que mobiliza anualmente centenas de estudantes e que começa agora a ganhar expressão além do concelho de Guimarães.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães

O encontro decisivo colocou frente a frente as equipas da Escola Secundária Martins Sarmento e da Escola Secundária Francisco de Holanda, num debate centrado na polémica questão da proibição do uso de redes sociais por menores de 16 anos.

Ao longo de cerca de quarenta minutos, as duas equipas protagonizaram um confronto de ideias marcado por rigor argumentativo, profundidade conceptual e forte capacidade de oratória. No final, a equipa da Martins Sarmento acabou por sair vencedora, num desfecho muito aplaudido pelos alunos que encheram o auditório da UMinho.

“Uma enorme festa democrática”

Francisco Teixeira, presidente da direção da ASMAV e mentor do projeto, não escondeu a emoção ao assistir ao nível exibido pelos jovens finalistas. “Enorme alegria porque o entusiasmo foi enorme. A qualidade do debate foi… permita-me o exagero, estratosférica”, afirmou. Para o responsável, o desempenho das equipas demonstra “um nível científico, um nível de racionalidade, de entrega e, simultaneamente, de vivacidade” que traduz o impacto formativo do torneio.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães

Teixeira destacou ainda a intensidade emocional vivida durante a sessão: “A democracia não tem que ser uma missa, tem que ser racional, organizada, mas não tem que ser uma missa, tem que ser vivida com intensidade. E o debate foi vivido com um nível de intensidade emocional e de cuidado e de razão que contagiou profundamente a plateia”.

O presidente da ASMAV lembrou que os alunos chegam à final depois de um percurso exigente: “Para chegarem a esta fase, têm de fazer sete debates ao longo de um ano letivo, sobre os assuntos mais complexos, mais difíceis e mais profundos. Crescem imenso”. Sublinhou também que o modelo vimaranense tem inspirado outros municípios: “Já houve vários concelhos que vieram perceber como funciona. Hoje esteve presente o vereador da Educação da Câmara de Fafe, justamente para acompanhar o processo. Guimarães está a dar cartas no desenvolvimento educativo, intelectual e cívico dos jovens”.

Município garante continuidade do apoio

Presente na final, a vereadora da Educação, Isabel Ferreira, destacou o valor pedagógico e cívico do torneio. “Hoje, nesta sala cheia, sinto essa juventude a conversar, a coragem de argumentar, de discordar, de imaginar caminhos novos”, afirmou. Para a autarca, o projeto “não é apenas um evento, é a prova viva de que Guimarães cresce quando os seus jovens ousam pensar alto e pensar juntos”.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães

A vereadora valorizou o papel estruturante da ASMAV e o envolvimento das escolas: “As boas ideias, quando tocam na escola, raramente ficam pequenas. Este torneio tornou-se um movimento cívico, um espaço de formação crítica, uma tradição que renova a cidade”. E garantiu que o município pretende “reforçar e valorizar o apoio a todos os projetos educativos que promovam o pensamento crítico e a participação juvenil”.

O impacto nos alunos

A equipa da Escola Secundária Francisco de Holanda, que alcançou o segundo lugar, destacou ao Mais Guimarães a importância do torneio no desenvolvimento de capacidades essenciais. Para os estudantes, a participação permitiu aperfeiçoar competências como a recolha rigorosa de informação, a análise crítica e a elaboração de opiniões fundamentadas. A experiência, dizem, reforçou a autoconfiança e a capacidade de intervenção pública.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães

Já os vencedores da Martins Sarmento mostraram-se radiantes. “Gratidão, honra e pura felicidade”, resumiram. Apesar da vitória, fizeram questão de sublinhar o trabalho que esteve na base do resultado: “As pessoas não veem as horas de pesquisa, preparação e organização, que temos de conciliar com a vida académica. Mas valeu a pena”.

O percurso trouxe também novas aprendizagens: “Debatemos temas que nem conhecíamos e agora estamos confiantes a falar sobre isso. Em sete debates, ampliámos conhecimento em sete áreas diferentes”. Para os jovens, os Torneios de Retórica preparam-nos “para uma participação cívica mais consciente” e aproximam-nos das exigências do mundo profissional: “É um ambiente formal, temos de ser objetivos e rigorosos”.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães

Aos futuros participantes, deixam um conselho: “Que se dediquem e que se divirtam. O sentimento de vencer é gratificante, mas o mais importante é o conhecimento, as amizades e a experiência”.

Um projeto que cresce para lá do concelho

Quatro anos após a criação do modelo, os Torneios de Retórica consolidaram-se como uma referência educativa em Guimarães. O envolvimento crescente das escolas, o apoio institucional e a qualidade dos debates tornaram o evento num espaço privilegiado de formação intelectual, social e cívica. Agora, com a replicação do formato noutros concelhos, o projeto abre caminho para se afirmar como um exemplo de promoção da cultura democrática entre os mais jovens.

A final desta terça-feira confirmou isso mesmo: uma comunidade escolar mobilizada, alunos empenhados e um ambiente vibrante de participação pública, onde a palavra se assume como instrumento de cidadania. Como sublinhou Francisco Teixeira, “foi uma enorme festa democrática”.

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