“Tudo em Avignon e eu aqui” celebra 20 anos do CCVF com imersão na memória e nas promessas por cumprir

O Centro Cultural Vila Flor (CCVF) acolhe, a 13 e 14 de dezembro, a estreia de "Tudo em Avignon e eu aqui", nova criação do Teatro Oficina que marca também a primeira encenação de Bruno dos Reis enquanto diretor artístico da companhia.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães

Com apresentações no Grande Auditório Francisca Abreu, sábado às 21h30 e domingo às 18h00, o espetáculo integra as comemorações dos 20 anos do CCVF e propõe uma reflexão profunda sobre o lugar do teatro, atravessando a memória, o desejo e os fantasmas que insistem em acompanhar quem sobe ao palco.

A peça nasce de um diálogo entre teoria e ficção, para questionar a própria natureza do teatro enquanto espaço assombrado pelo que já foi, mas impulsionado pela imaginação de um futuro que teimamos em encenar, mesmo quando esse futuro parece cada vez mais difuso. “Se os fantasmas são tão translúcidos, porque não vemos através deles o futuro?”, lança a produção como provocação central.

Entre esses fantasmas surge a figura de Chalino Sánchez, lendário “rei dos corridos” do México, assassinado em 1992 após receber um misterioso bilhete em palco, episódio que aqui serve de metáfora às fronteiras entre destino, ficção e promessa. A sua presença assombra, de forma simbólica, a atriz vimaranense Rebeca Cunha, que interpreta a única personagem não fantasmática da narrativa. O espetáculo cruza assim a lenda de Sánchez com a história íntima de Rebeca, marcada pela promessa infantil de seguir os passos do pai, Jacinto Cunha.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães

Bruno dos Reis descreve o processo criativo como uma “manta cerzida”: ideias sobrepostas, pontas soltas, fragmentos que se acumulam e se transformam, tal como o próprio teatro, feito de memórias e tentativas de futuro. A peça abraça essa incompletude como força dramatúrgica, convocando a própria história do próprio Teatro Oficina, num jogo permanente entre representação e metarreflexão.

Com interpretação de Ana Carolina Fonseca, Daniel Seabra, Duarte Melo, Jacinto Cunha, João Cravo Cardoso, Iúri dos Santos, Martinha Carvalho e Rebeca Cunha, “Tudo em Avignon e eu aqui” apresenta-se como um comentário sobre diferentes formas de fazer teatro, sobre a distância entre o que desejamos e o que conseguimos alcançar, e sobre a persistente pulsão de subir ao palco, como Chalino, que nunca quis descer, e como Rebeca, que não imagina a vida longe dele.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães

A produção encerra o ciclo programático “nova vida para velhos fantasmas”, reafirmando a missão do Teatro Oficina de criar espetáculos que nasçam de Guimarães e do seu território humano e afetivo. Para Bruno dos Reis, este é também um marco do seu primeiro ano de direção artística: “O Teatro Oficina deve criar aqui, a partir daqui. Não para ficar fechado, mas porque é deste lugar que deve nascer.”

Os bilhetes têm o custo de 10 euros, com desconto para 7,50 euros, e encontram-se disponíveis em oficina.bol.pt e nas bilheteiras dos equipamentos geridos pel’A Oficina. Em palco, o público encontrará uma peça que abraça o risco, a ambivalência e a pergunta essencial que atravessa o espetáculo: poderá o teatro, afinal, suspender o tempo e abrir espaço para imaginar o futuro?

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