CGTP/Out?

César Teixeira.

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Por César Teixeira.

No passado Dia do Trabalhador o País foi surpreendido com as diversas celebrações ocorridas. Sob a égide da CGTP. Provocou indignação a imagem da Alameda. Em Lisboa. De tal forma que diversos responsáveis políticos foram lestos a criticar a organização do evento. Provavelmente atónitos com a imagem vista. Ou motivados pela indignação popular.

O espanto não deveria ser de agora. E a surpresa é surpreendente. O espanto tem fonte: o Decreto que aprova o Estado de Emergência. E tem data: 16 de abril. Dia em que foi aprovado no Parlamento. Com os votos favoráveis de PS, PSD, BE e CDS. O Decreto é claro: “tendo em consideração que no final do novo período se comemora o dia do Trabalhador, as limitações ao direito de deslocação deverão ser aplicadas de forma a permitir tal comemoração”.

A imagem é forte. Provocadora. Confronta a consciência de quem, por aparente distração, não obstaculizou o que afinal se pretendia obstaculizar. Interpela os milhares de trabalhadores portugueses – que têm feito sacrifícios por motivos de saúde pública – para a indignação e a reprovação.

A cegueira ideológica não justifica tudo. Recorde-se o que ocorreu em Espanha. Ali, a sofreguidão levou milhares de espanhóis para a rua. No dia 8 de março. A cegueira permitiu que, pouco depois, fossem dramaticamente visíveis os seus efeitos na propagação do surto.

É completamente incompreensível que haja um País onde há filhos e enteados. Neste mesmo fim de semana foram apertadas as restrições à circulação. Víamos reportagens com barreiras policiais. Ao invés, os líderes sindicais gozavam de imunidade. Podiam efetuar deslocações entre concelhos. Tudo para marcarem presença em indispensável evento. Tudo em prol de um bem alegadamente superior. Embora não percetível! Que, para os fanáticos, suplantará, o bem fundamental que é a Saúde Pública. Que contraste com a posição da UGT! Que, ponderados os interesses conflituantes em causa, prescindiu do evento publico. Pese embora não tenha prescindido – e bem – de afirmar a sua posição de princípio sobre o momento do País.

Os prejudicados pela inopinada iniciativa têm rosto: os trabalhadores! Como podem os trabalhadores exigir a aplicação de planos de contingência mais rigorosos ou mesmo a aplicação do teletrabalho em alternativa ao presencial, quando são os próprios líderes sindicais a relativizar as normas legais de saúde pública?

Uma outra pergunta se impõe: há algum atropelo reiterado, sistemático, urgente e imperioso ao nível laboral? Que torne premente e inadiável a reafirmação dos valores representados pelo Dia do Trabalhador em detrimento da saúde pública? Não há questão premente a esse nível que justifique o injustificável. Relembre-se que o PCP andou e mão dada com António Costa. Aprovou 4 orçamentos dos últimos 5! Sendo que o orçamento para este ano mereceu a sua abstenção.

A celebração do Dia do Trabalhador serviu apenas para legitimar a nova liderança da CGTP. A Central tinha de fazer uma prova de vida. E o PCP um evento mobilizador para os seus. E assim consegue a sua autojustificação. Transportando diversos atores maiores e figurantes menores para um verdejante palco. Onde protagonizaram uma ópera-bufa e que, se deseja, por aqui fique. Os sindicalistas têm de justificar a sua existência. Que seria dos sindicalistas sem os sindicatos? Que seria dos sindicatos sem o Dia 1 de Maio? Como justificariam a sua existência? Como justificariam os seus privilégios face aos demais trabalhadores? Como se justificaria que continuem anos e anos dedicados aos órgãos sindicais? E afastados da vida laboral e da realidade dos camaradas que dizem defender? O País, entretanto, submete-se a esse particular interesse. Até mesmo a saúde pública.

Temos um sindicalismo que ainda se encontra refém do conceito anacrónico de luta de classes. Instrumentalizados por um partido que assinala com orgulho o aniversário de um dos grandes tiranos do século XX, Lenine. E este espírito conservador entorpece o País. Portugal deve mudar o paradigma. Trazendo a ética para economia, deveremos propiciar a cooperação entre trabalhadores e empresários, na esteira daquele que tem sido o pensamento económico da Igreja Católica.

Sei muito bem que os donos do Dia do Trabalhador dirão uns (mais brandos), que estou a atacar o Dia 1 de Maio outros apelidar-me-ão de fascista. Mas uma coisa é certa: ninguém fez tão mal aos trabalhadores e ao Dia do Trabalhador do que a CGTP. Conseguiram dividir Portugal quanto a uma data que nada tem para dividir. No dia 1 de maio de 2020 não se discutiu uma única mensagem da CGTP. Nada. Neste dia 1 apenas se discutiu o evento e não qualquer mensagem dele decorrente.

Procuram apropriar-se da data. Montam um cenário. Mas a substância do que de lá saiu, evidenciou bem que o evento foi um vazio. E que não justificava a sua concretização face aos riscos de saúde pública. É caso para concluir que a CGTP/In, esteve “out”. E que, neste dia 1 de maio, o sol não brilhou. Quebraram o encanto ao Maio. A voz, definitivamente, esmoreceu.

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