Recordar… o Vitória #20

Por Vasco André Rodrigues.

Recordar-o-Vitória

Por Vasco André Rodrigues,
Advogado e fundador do projeto ‘Economia do Golo’Eram outros tempos…

Tempos de outro futebol, na sua inocência, praticamente baseada na paixão dos pioneiros.

Contudo, terá sido uma das primeiras temporadas em que a paixão falou alto pelo Vitória.

Estávamos em 1942… há 78 anos, portanto.

A Amorosa, ainda, não existia, o recinto onde, hoje, se ergue, de modo imponente, o D. Afonso Henriques era uma miragem e o Vitória jogava no Campo do Benlhevai, pela zona onde, hoje, se ergue o Centro Comercial Triângulo.

O campeonato, esse, assumia contornou de originalidade. Para chegar ao nacional, era necessário conseguir-se o apuramento no distrital. Para isso era preciso vencer a prova, sendo que o principal rival não era o tradicional e o de (quase) sempre. Era o Famalicão, equipa, na aluta, conhecido por Oitavo Exército, em alusão ao batalhão do General Montgomery, que, por alturas da Segunda Grande Guerra, por onde passava levava tudo à frente.

Porém, os Conquistadores de El Rei D. Afonso não foram em modas! Golearam os famalicenses por sete bolas sem resposta, para delírio de um campo a “rebentar pelas costuras”.

Os rapazes do mestre Alberto Augusto iriam, novamente, disputar o nacional, depois do êxito da temporada anterior (a primeira que os vitorianos competiram a nível nacional, tendo inclusivamente chegado à final da Taça de Portugal, frente ao Belenenses). E entre eles, alguns mereciam destaque.

Desde logo, o guardião Machado, pai do treinador vimaranense Manuel Machado, e que era um verdadeiro garante de segurança nas redes vitorianas.

Mas, além deste, destaque para Zeferino, uma das grandes lendas dos anos da génese da afirmação vitoriana, o avançado Alexandre, ou o goleador Ferraz, um temível homem de área que seria o pai de muitas alegrias vitorianas.

A época nacional começaria sob o signo do terror. Três derrotas consecutivas e duas delas com números que nem naquele tempo se usavam. Falamos da desfeita por oito bolas a três no Benfica e uma dúzia de golos sem resposta no Belenenses.

A vida estava difícil para os filhos de D. Afonso!

Contudo, de um momento para o outro os vitorianos passariam a sensação da prova. Uma série de seis jogos consecutivos sem perder, do qual se destacou a vitória sobre o FC Porto, no Benlhevai, por três bolas a duas, com Ferraz a bisar nos dois primeiros minutos da contenda, faziam acreditar num brilharete. O Vitória levava ao rubro os muitos adeptos que enchiam o rudimentar recinto que ficaria na história do nosso clube.

A derrota essa chegaria no Lumiar, frente ao Sporting, talvez a equipa mais forte daquela altura. Peyroteo, um dos maiores goleadores de sempre do futebol português, resolveria a questão muito cedo e a derrota por quatro bolas a uma, apenas, significou a galhardia com que os vitorianos se bateram.

Porém, o melhor e o pior ainda estavam para chegar!

O melhor viria logo de seguida! Três sumptuosas vitórias a demonstrar a classe da equipa! Primeira ao Belenenses, que na primeira volta, havia ganho pela dúzia de golos, mas que naquela tarde de 21 de Março de 1943 foi incapaz de suster a genialidade de Miguel, Ferraz e Laureta que bateram o guardião Salvador, garantindo uma vitória por três bolas a uma. De seguida, um momento inolvidável para quem o presenciou: a goleada ao Benfica por cinco tentos a um, em dia de grande alegria nas bancadas. Uma exibição sublime, inesquecível reduziu a sobranceria lisboeta a cinzas, continuando a excelência na deslocação a Matosinhos, onde o Leixões, que já naquela altura demonstrava não gostar do Vitória, seria dizimado por seis bolas a duas.

Faltavam cinco jogos para acabar o campeonato e ninguém esperava o que viria a seguir. Cinco derrotas consecutivas, com 27 golos sofridos, impediram que os nossos “avôs” vitorianos fizessem história. A contribuir para isso a lesão do guarda-redes Machado que não pôde defender as redes da equipa nos últimos jogos. Aliás, tal terá ajudado a acontecer a maior derrota de sempre da história dos Branquinhos. O Vitória deslocava-se ao Unidos de Lisboa e já se sabia que Machado não poderia jogar. O seu suplente, Ricoca, durante a semana, também, ficara fora de combate.

Para a equipa não se apresentar sem guarda-redes, chamou-se à pressa um jovem, de nome Nicolau, que apesar de não fazer parte da equipa, costumava aparecer aos treinos e que demonstrava um certo gosto pela baliza. Seria ele o guardião das esperanças vitorianas! Porém, seria, também, a primeira e única vez, pois na baliza da jovem esperança entrariam catorze tentos, nos mais dolorosos 90 minutos da história do Vitória.

No final da temporada, o oitavo lugar em dez equipas saberia a pouco… não fosse a quebra final, aquela época poderia ter sido a primeira a ficar debruada a letras de ouro bem vivo na nossa história!Foto: gmrvisual.blogspot.com

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