A 10 À HORA
ANA AMÉLIA GUIMARÃES Professora
por ANA AMÉLIA GUIMARÃES
Professora
Professora
O problema da mobilidade/acessibilidades dentro da cidade (falo da minha cidade, Guimarães) e no concelho é, há décadas, uma dor de cabeça para quem tem a má sorte de se deslocar por estas bandas. É neste contexto que surge a proposta autárquica de criação de um tramway – aquilo a que na nossa língua materna designaríamos por metro de superfície (o recurso aos estrangeirismos, sobretudo anglo-saxónicos, em tempos, era sinal de uma pretensa “competência cosmopolita”, agora é simplesmente pretensioso. A autarquia devia ser a primeira, tal como as escolas, por exemplo, a defender o património imaterial da nossa língua, mas enfim…). Sendo uma proposta que já vem tarde – como vem sendo hábito deste executivo – ela poderá, porém ser uma forma de fomentar uma melhor acessibilidade aos equipamentos da cidade, democratizando o seu usufruto e contribuindo ainda para a desejada aproximação dos vimaranenses às vivências da cidade, promovendo-se, assim, uma maior unidade territorial, que várias vezes é posta em causa.
Como dissemos, esta proposta chega bem tarde e começa a ser penoso elencar, aqui nestas crónicas, as décadas de atraso a que as sucessivas maiorias do PS autárquico local votaram a cidade e o concelho… por falta de visão, por deficiente hierarquização de prioridades, e também – e isso é que é intolerável – por casmurrice e arrogância antidemocrática. É que de forma sustentada, a CDU já fez esta proposta há quase 20 anos (1997), usando a terminologia portuguesa “metro de superfície”. Tal como com outras propostas de desenvolvimento integrado, verde e sustentável apresentadas pela CDU, o PS autárquico fez orelhas moucas e menoscabou a proposta. Agora mais uma vez, muito virginal, vem a autarquia dizer-nos que descobriu a pólvora. Enfim.
Já agora: é necessário também, como o bom senso ordena, uma ligação rápida à estação da CP de Famalicão, uma vez que a ligação ferroviária ao Porto/Lisboa continua a ser muito lenta, mesmo utilizando o Intercidades (7h 43) que demora 1h 09 a chegar ao Porto (com apenas duas paragens, Sto Tirso e Trofa) ou o Alfa (às 16h 55) que demora 50m a chegar ao Porto. Já de Famalicão a Lisboa temos seis comboios diários, que demoram 24 m (Alfa) e 30 m (Intercidades) a fazer Famalicão – Porto. Resumindo: é urgente combater e resolver esta situação de periferia. Até porque, em 2004, aquando da eletrificação da linha, que foi “vendida” aos vimaranenses como remodelação, perdemos a oportunidade de ganhar uma via dupla e um traçado mais rápido. Assim, hoje, para viajarmos a sul do Douro temos ainda que recorrer a Famalicão ou Porto para irmos ou mais rápido ou noutros horários (para além dos dois que temos em Guimarães).
Na altura alertei para a oportunidade existente de se proceder a esse traçado mais rápido. E, nessa altura, mais uma vez, a autarquia diz não e que o que se estava a fazer era melhor que nada. Mais uma vez, enfim.
Para terminar: li na imprensa local que “A Comunidade Intermunicipal do Ave vai implementar a 2ª edição do projeto de Educação para o Empreendedorismo “Ter Ideias para Mudar o Mundo”, em parceria com a Associação Coração Delta – Grupo Delta Cafés. Este projeto pretende iniciar o treino do empreendedorismo em crianças dos três aos doze anos e visa ensinar às crianças competências que serão muito úteis ao longo das suas vidas.”
A ideia de mudar o mundo é, para mim, marxista, um horizonte que tracei desde jovem. Parece-me uma ideia generosa se não se cair em messianismos e em idealismos de pôr na lapela para aliviar a consciência ou para animar sessões mais ou menos bem-intencionadas. Associar o jargão empreendedor/empreendedorismo ao objetivo de mudar o mundo parece-me contranatura. O empreendedorismo (uma moda do neocapitalismo americano) está ligado a uma ética individual de sucesso. O sucesso individual como paradigma existencial e quem assim não for ou fizer é um loser, mais um estrangeirismo marcadamente ideológico imposto pela ditadura linguística neoliberal.
A escola pública propõe-se contribuir para a formação integral dos/as alunos/as, como indivíduos autónomos, solidários, críticos, e com competências de autonomia e criatividade que lhes permitam seguir o seu próprio destino, contribuindo para uma sociedade e um país melhor. É a partir destas “competências” (as tais skills) que se pode construir um mundo melhor.
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