A absoluta necessidade de suspender a AG

Por Diogo Leite Ribeiro.

Diogo Leite Ribeiro

Por Diogo Leite Ribeiro.É insofismável que, de há uns anos a esta parte, pequenos, e agora grandes, grupos financeiros tomaram conta do capital de uma multiplicidade de clubes de futebol. Não é porque passaram a gostar de desporto, muito menos porque o futebol os encanta, ou ainda porque gostam de Guimarães, ou nutrem uma paixão pelo Vitória. É porque buscam o lucro numa indústria de margens “gordas”.

Um clube com história, com fervorosos adeptos e ávido de vitórias e títulos, imerso numa frágil situação financeira, aguça o apetite de qualquer fortuna.

Não se espere que o fundo V Sports seja um sleeping partner como foi a MAF, mesmo quando maioritária na SAD. O fundo V Sports vem para mandar. E hoje, mais do que mandar na tática, é importante mandar na gestão desportiva: quem se contrata, quanto se paga, que agente se indica, quem é o jogador que se vai promover, qual a notícia que o jornal vai fazer “do jogo”, …

Conjugue-se este cenário com a absoluta necessidade de um empréstimo que é para ontem, não é um empréstimo para hoje e, ao contrário do que se pretende fazer acreditar, muito menos para amanhã.

Com o clube em estrangulamento financeiro, os sócios do Vitória têm de escolher entre o caminho das pedras – como definiu o Presidente e em que será preciso investir em poucos e bons ativos – ou o acesso a um pote de 20 milhões de euros. A escolha, que não é fácil nem simples, pode ter consequências catastróficas, precisando de ser balizada por critérios de utilização desse pote. Basta recordar que, nos últimos 20 anos, em circunstâncias de facilidade de dinheiro, hipotecamos o futuro e voltamos repetidamente a falar do “ano zero”.

É imprescindível, portanto, amadurecer, clarificar, salvaguardar, obter compromissos e, em face dessa premência, suspender a Assembleia Geral até que estejam reunidas condições para uma decisão esclarecida e ponderada.

Esperava-se a apresentação de um plano de negócios, fazendo jus ao know how do fundo V Sports. O que surgiu é pouco para a muita importância do assunto.

Grosso modo e sem qualquer avaliação, temos um recebimento de 5,5M€ contra a entrega de 46% da Vitória SAD. Pode-se resolver a questão da falta de pagamento à MAF de 3,55M€ mas bastaria vender 30% do capital, pelo proporcional valor da dívida de 3,55M€, dando-se a oportunidade dos restantes 16% serem subscritos pelos associados. Seria a última oportunidade de os Vitorianos entrarem no capital da SAD e, caso o valor não fosse subscrito, encontrar-se outro parceiro, mas nunca pelo valor agora definido, antes pelo proporcional aos múltiplos de vendas de outras SAD’s. Seria o momento de o Vitória ficar com direito de preferência sobre uma futura venda do capital pela V Sports.

Com limitações financeiras e necessidade de contenção, importa que a Direção assuma que o Vitória não pagará pelos 5 ou 7 administradores mais do que os previstos 1,5M€, em 5 anos, pelos atuais 3 membros.

É indispensável que a Direção do Vitória, previamente ao negócio, preste contas, oficiais e exatas, em detrimento de lançar para a praça pública números avulsos, como que fazendo uma seleção dos resultados e da oportunidade das datas.

É necessário que a linha de crédito de 20M€ seja usada para reduzir o passivo com o pagamento por um valor muito reduzido (talvez 50%) das dívidas perpétuas, por exemplo, a alguns agentes de futebol.

É fundamental que com 20M€ o VITÓRIA reduza substancialmente o seu passivo, não utilizando o dinheiro para comprar jogadores, sendo o montante exclusivamente afeto ao passivo não corrente, às dívidas vencidas e não a novas dívidas.

É imprescindível que o Conselho Fiscal monitorize, garanta e faça cumprir o plano da linha de crédito, impedindo que os 20M€ fiquem à mercê de ímpetos ou apetites perdulários desfocados do essencial.

Com os 20M€, o VITÓRIA terá um custo financeiro anual de 1,1M€, não sendo no mandato desta Direção que se pagarão os juros da operação (junho de 2025 – 2,2M€) e muito menos o capital (junho de 2028 – 20M€).

É fundamental que as garantias em caso de incumprimento (direitos televisivos, direitos económicos de jogadores e as ações da SAD) contemplem todas as ações (do Vitória e da V Sports), sendo exercidas de forma sucessiva, começando pelos direitos televisivos, seguindo por parte das vendas (e não por parte de passes) e, por fim, pelas ações.

Se apenas em 2025 terão de ser pagos juros e caso não haja o “abuso” de novamente onerar as receitas televisivas, mesmo num cenário pessimista em que ainda não ocorreria a centralização dos direitos ou se manteria o valor a receber pelo Vitória, sempre se afetaria apenas 33% da receita televisiva em vez dos atuais 90%.

Importa prevenir a inexistência de partilha encapotada de passes com o financiador e que aquilo que será dado de garantia será a parte da venda e não parte da propriedade dos direitos económicos, evitando-se vendas forçadas e interesses duplos na venda de algum jogador do Vitória.

Em suma, o que se espera e deseja, para além do sucesso do Vitória, é que a Direção assuma a suspensão dos trabalhos e a sua continuação após: Apresentação do Relatório e contas reportadas a 31/01/2023; apresentação da Projeção das contas a 30/06/2023; o Conselho Fiscal assumir a monitorização permanente da utilização da linha de crédito; a Direção assumir que a linha de crédito será afeta exclusivamente ao serviço de dívida e não ao investimento em direitos económicos de jogadores; a Direção confirmar que as garantias do empréstimo são sucessivas; a Direção assumir que não onerará ou cederá os direitos televisivos; a Direção confirmar que a garantia dos direitos económicos é sobre o produto da venda e não a partilha de passes; o Conselho de Administração não aumente custos ou encargos independentemente do número dos seus membros; apresentação do memorando de entendimento subscrito pelo fundo V Sports;

Só assim os sócios poderão, em consciência, decidir e desviar-se do caminho das pedras.

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