“A EUROPA TEM OLHADO PARA NÓS COMO UM PAÍS QUE CONSEGUIU RESISTIR”
As eleições europeias acontecem a 26 de maio e o distrito de Braga conta com alguns representantes nas listas dos partidos nacionais.

As eleições europeias acontecem a 26 de maio e o distrito de Braga conta com alguns representantes nas listas dos partidos nacionais.
O Mais Guimarães, ao longo destas semanas, terá entrevistas com os candidatos. Isabel Estrada Carvalhais, professora associada de Ciência Política na Universidade do Minho, é a 10.ª na lista do Partido Socialista.
Já há muito tempo que Braga não tinha alguém nas listas do PS. Agora a Isabel está na 10.ª posição. Como se sentiu ao ser convidada e qual a importância para a região?
Relativamente ao convite, foi inesperado. Foi um convite que aceitei com muita honra e também com grande sentido de responsabilidade. Há muitos anos que Braga, como distrito, não tem a possibilidade de eleição de um candidato pelas listas do PS. Portanto, o grande objetivo aqui é reforçar o contingente de eurodeputados que representem também os interesses do distrito. É importante dizer às pessoas que os eurodeputados não são eleitos para representar os portugueses. São eleitos para representar os cidadãos europeus. Mas é evidente que esses cidadãos europeus que nos interessam são, sempre que podemos, os cidadãos do nosso distrito, das nossas regiões.
Quais são as ideias principais desta lista?
Há aquilo que são por um lado as prioridades e a carta de intenções do manifesto eleitoral do PS, que é um manifesto muito completo, que assenta em três grandes pilares: agenda social, agenda para o desenvolvimento e empregabilidade e agenda para a inovação e sustentabilidade. Dentro destas, há propostas concretas. Por exemplo, na agenda social, é muito importante apostar em planos concretos, como o Plano Europeu para a Habitação, para as políticas de habitação por via de fundos comunitários, que permitam por exemplo, auxiliar os jovens e as classes médias em geral, terem acesso à habitação a preços muito mais razoáveis. Depois, é evidente que eu não posso esquecer daquilo que é a dimensão do meu distrito. Aqui, o meu pensamento vai para aquilo que eu considero que são as prioridades.
Quais são?
Uma das prioridades é o combate à desertificação. Continuamos a ter a ideia que somos um distrito muito jovem. Mas de facto, há concelhos com cada vez menos população, cada vez mais envelhecida. É preciso atrair pessoas, atrair investimentos, é preciso fixar populações. Mas não se fixam populações se não houver criação de empregos. Mas é preciso melhorar as acessibilidades. Por exemplo, em Guimarães muito se fez, muito se tem feito, tem havido grande empenho da autarquia, mas sabemos que ainda continua muito por fazer. Nas acessibilidades de pessoas com deficiências motoras, que têm dificuldades nos centros históricos, na ligação ferroviária que continua a faltar entre Guimarães e Braga. Mas também estamos a pensar nas acessibilidades das partes mais afastadas da urbanidade. E continuamos a ter muitas deficiências, não só em Guimarães, mas em todo o distrito. Outro aspeto importante é que não somos assim tão jovens como achamos. Temos de facto uma taxa ainda elevada em comparação com o resto do país e com outros países da Europa, mas não nos podemos esquecer que os nossos índices de envelhecimento estão a aumentar. Guimarães tem um índice de envelhecimento na casa dos 87%, mas a média do distrito está em 120%.
E em que medida a Europa pode ajudar?
Quando falamos da UE, estamos a falar de todo um conjunto de apoios financeiros. Custa-me muito que as pessoas vejam a Europa apenas como uma espécie de grande banco. A verdade é que temos tido apoios financeiros fundamentais no desenvolvimento local e regional nestes últimos 33 anos. Quando olhamos para um instrumento financeiro como o Norte 2020, assistimos a qualquer coisa como a aprovação de seis mil 166 projetos, o que representa um investimento global na ordem dos 3,5 mil milhões de euros, dos quais 2 mil milhões têm o apoio de fundos comunitários. Ou seja, estamos a falar aqui de investimento empresarial e municipal, tudo graças a financiamento comunitário. Depois, podemos é divergir se o dinheiro é ou não bem aplicado. Mas as pessoas não se podem esquecer que todo esse debate só é possível porque há dinheiro em cima da mesa para essa discussão. Sem o apoio da UE, esses debates nem sequer existiriam.
O que motiva o PS a apresentar estas prioridades?
Foi algo que logo me cativou neste projeto. É que há uma consciência no PS de que um dos graves problemas na UE, nos últimos anos, e que aliás põe em causa o próprio projeto europeu, tem sido a queda da solidariedade, a vários níveis. Solidariedade dos países, vamos dizer, mais ricos em relação aos mais pobres, solidariedade na gestão das migrações e na crise dos refugiados. O maior desafio que neste momento se coloca à UE é um desafio interno, que é recuperar a confiança dos cidadãos. Portanto, há um entendimento por parte do PS que é importante recuperar a solidariedade.
Como é que os portugueses vêm a UE e como é que a UE vê Portugal?
A população e as instituições portuguesas são, no geral, muito pró-europeias. Aliás, no euroceticismo, em Portugal quando existe aparece na agenda política muitas vezes associada a momentos de alguma tensão económica. Alguns partidos vão buscar essa figura do euroceticismo, mas é bastante controlado e não tem a dimensão ideológica que encontramos noutros países. Os portugueses tendem a ser muito europeístas. Há a compreensão de que a Europa tem sido muito importante e Portugal tem uma visão muito positiva da Europa. No entanto, nem sempre se sabe falar disso junto das populações. Isso vê-se nestes momentos de pré-campanha eleitoral, em que se vai falar muito e de muita coisa, mas temo que se fale muito pouco da Europa. Por um lado, as pessoas habituam-se a falar da política nacional, mas não se sentem atraídas para discutir as políticas europeias. Ao mesmo tempo, há uma espécie de banalização da presença da Europa. Já a Europa tem-nos visto, ao longo dos anos, como um país esforçado, de gente trabalhadora. Nem sempre, em toda a Europa, se soube entender o nosso esforço. Mas julgo que hoje em dia Portugal tem uma imagem muito positiva. Crescemos imenso, graças a cidades como Guimarães, em termos internacionais, na projeção de uma imagem conciliadora da modernidade, com a conservação de património histórico. A Europa tem olhado para nós como um país que conseguiu resistir.
“A população e as instituições portuguesas são, no geral, muito pró-europeias”
Preocupa-se que a 26 de maio haja uma grande percentagem de abstenção?
Preocupa-me muito. As pessoas pensam que as eleições europeias são de segunda, uma espécie de tubo de ensaio para as legislativas. Então, pode haver o voto do descontentamento, o voto do apoio. Mas o que seria bom era que as pessoas votassem porque compreendem a importância da Europa. Todos os partidos portugueses têm falado que é vital votar nas eleições europeias e que o projeto europeu precisa da nossa participação. E, por vezes, julgo que este discurso para a população em geral é considerado como um dramatismo, para ver se as pessoas votam. Mas a dramatização justifica-se, porque estamos numa conjuntura europeia atual que traz desafios, que até há alguns anos não eram equacionáveis, não é só o Brexit.
Quais as expetativas para as eleições?
Se for eleita, penso que seria uma vitória do PS no distrito de Braga. Mas o povo é quem decide, será sempre quem mais ordena. Ainda assim, adoraria que houvesse uma descida da abstenção. Há cinco anos, quatro em cada dez eleitores de Braga não votaram. Sobretudo, seria fantástico que quem fosse votar que o fizesse porque está convicto da importância do projeto europeu. Gostava ainda de ver a mobilização dos jovens. Há jovens que vão votar pela primeira vez e esta Europa é deles. Não é correto pôr a responsabilidade de salvar o projeto europeu nas costas dos jovens. Dentro dos possíveis, acho que os jovens podem fazer toda a diferença e dar uma lição de maturidade em relação a eleitores mais velhos.
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