A mobilidade que queremos
Por Mariana Silva.
Por Mariana Silva, Deputada na Assembleia da República (Os Verdes) A mobilidade sustentável entrou no nosso vocabulário, sendo possível vermos, nas mais variadas discussões, o uso deste conceito. Um pouco por todo o País anunciam-se mesmo planos para garantir a sua concretização.
No entanto, o sentimento geral é que a mobilidade enquanto direito essencial, para se ter acesso a todos os direitos consignados na Constituição da República, é ainda uma miragem e um factor de desigualdade gritante.
Muitas foram as propostas dos partidos que compõe a CDU na Assembleia da República, nas Câmaras e nas Assembleias Municipais por todo o país no sentido de se investir no transporte público colectivo, na cada vez mais necessária ligação intra e intermunicipal, na gratuitidade dos transportes públicos para as crianças, jovens e idosos, propostas para se desenvolverem as cidades no sentido da promoção da mobilidade activa e segura.
Em Guimarães este é um problema antigo e de difícil resolução, porque se trata de um território extenso e disperso. Mas o concelho já tinha estas características quando se prepararam os planos de mitigação das alterações climáticas para o território vimaranense, quando, em 2018, se anunciou o plano de mobilidade, com pompa e circunstância, ou no momento em que se iniciou o processo da candidatura a Capital Verde Europeia. Em nenhum destes processos se deram respostas coesas à questão.
Muitos são os planos e os propósitos, mas poucas são as mudanças reais. A nova concessão de transportes públicos ainda não tem um ano e já estamos a aguardar pelos ajustes essenciais para se tornar atrativo. Ao invés da sua promoção, aquilo a que temos assistido é a um certo desinteresse na divulgação dos horários e das linhas em locais públicos e na imprensa local.
Quanto às ligações intermunicipais continuam a ser escassas, sobretudo, entre os municípios que pertencem ao Quadrilátero Urbano, sem que se vislumbrem soluções concretas.
No que diz respeito aos percursos de longo curso, é incompreensível que uma cidade como Guimarães, com um polo da Universidade do Minho, Património Mundial, a Universidade das Nações Unidas e com promessas de mais desenvolvimento na área científica e industrial tenha perdido a ligação rápida por ferrovia a Lisboa. Não se compreende que o senhor presidente da Câmara continue a fazer bandeira da ligação do concelho ao TGV, mas não se bata pela retoma do serviço do Alfa ou pelo menos por mais dois horários do Intercidades.
Na semana que passou celebrou-se a Semana Europeia de Mobilidade. Os Verdes promoveram uma semana intensa de iniciativas indo ao encontro dos utentes, dos trabalhadores, recordando as nossas propostas.
Já a Câmara Municipal de Guimarães decidiu assinalar a mesma semana com um anúncio, o do encerramento do trânsito no Centro Histórico. Um anúncio requentado, com 20 anos, e, por isso, poucos são os que acreditam que será desta que se concretizará esta opção. No entanto, é preciso mesmo dar esse passo e criar condições para que os vimaranenses aí circulem em segurança a pé ou usando modos de mobilidade suave.
Muito há a fazer para além de fechar o trânsito em zonas específicas, rebaixar passeios tornando a circulação a pé mais confortável e eliminando barreiras para cidadãos com maior dificuldade de mobilidade, regulamentar o uso de bicicletas e trotinetes alugadas de forma eficaz, lutar pelo desenvolvimento da ferrovia e as ligações realmente importantes e não perder utentes nos autocarros quando se devia estar numa fase de conquista, entre outras questões.
Torna-se muito difícil perceber que mobilidade para Guimarães pretende o executivo camarário, que desenvolvimento quer construir para o futuro no acesso a transportes públicos, nem como pretende fazer o caminho de promoção do transporte público, da mobilidade activa e da descarbonização, um caminho para retirar milhares de carros das ruas, para que as pessoas deixem de ser reféns do carro individual.
Até porque o tempo é de aproveitar o que se conquistou nos últimos anos, pela iniciativa do PEV e do PCP, a redução tarifária – mesmo que ainda não tenha chegado a todo o país. Porque o futuro é mesmo do transporte público colectivo.
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