A Penha está em perigo!
Por Rui Armindo Freitas.
por Rui Armindo Freitas
Economista e Gestor de EmpresasNo passado domingo a Penha recebeu o Ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, para se associar e presidir às cerimónias de comemoração do centenário da classificação da Penha como estância turística. O então Ministro João Vaz Guedes, em 1923, conferia àquele território a distinção que vinha no seguimento de décadas de trabalho para o “aformosamento” daquele apinhamento rochoso, de ar granítico, brutal, e que veio dar origem à Penha como a conhecemos. A Penha, que para muitos sempre foi assim, é uma construção humana na sua dimensão arquitectónica, urbanística e florestal. A Penha como a conhecemos hoje, nasceu do sonho de uma comunidade que quis construir uma “varanda” sobre o seu território. É bom recordar que é a estância turística da Penha que está na origem do turismo na nossa região, sendo o Grande Hotel da Penha um dos mais iniciais e importantes equipamentos hoteleiros do início do século XX na nossa região. Mas a Penha é muito mais, é o berço da investigação arqueológica com Marins Sarmento, é precursora do urbanismo com Luís de Pina, é museu a céu aberto da arquitectura onde convivem com uma consistência temporal ímpar Raul Lino, Marques da Silva, David Moreira da Silva, Maria José Marques da Silva, Carlos Prata e Noé Diniz, este último o grande responsável pela reabilitação que conhecemos hoje. É casa ao ar livre de cultura, popular ou erudita nos seus múltiplos palcos construídos para o efeito e que se integram na paisagem. É planeamento florestal, com uma gestão cuidada do parque que os homens que nos precederam decidiram oferecer à cidade, no sítio onde antes só existia granito. A Penha é local de gastronomia, seja nos múltiplos equipamentos de restauração, seja no informal piquenique familiar. A Penha é culto religioso secular e local de peregrinação. A Penha é local de desporto, motorizado com a sua histórica rampa, ou nas caminhadas monte acima de todos quantos querem disfrutar da Natureza construída pelo homem. Pois bem, mas esta Penha está em risco! Algures entre 2015 e 2017, há uma reclassificação da Penha como solo rural, sim, um dos locais mais infraestruturados do concelho, da noite para o dia passa a ser classificado como solo rural. O que significa isto? Significa que aquele território, exemplo para o país de prevenção e planeamento florestal, passa a ser considerado de “alta perigosidade de incêndio rural”. Mesmo tendo bocas de incêndio, mesmo não sendo uma floresta, mas um parque. Não seria grave se esta classificação não significasse que nem uma mísera obra de manutenção do edificado passasse a ser impossível, não seria tão grave se o Grande Hotel não fosse abrangido, sim o próprio hotel é classificado de alto risco, não podendo ser intervencionado. Esta classificação veio colocar em risco toda a actividade económica ali desenvolvida, os postos de trabalho e até, no limite, a fruição do espaço por parte das famílias para desfrutarem dos seus piqueniques. Não deixa de ser caricato que uma alteração que aconteceu da noite para o dia agora, nas palavras do Sr. Presidente de Câmara Municipal de Guimarães, seja um problema complexo de resolver!
A Penha está em risco! A Penha é o mais extraordinário testemunho daquilo que os vimaranenses são capazes de construir quando se mobilizam. A Penha é onde bate o coração de Guimarães, não pode, jamais, parar de bater.
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