A «POESIA» DAS INTENÇÕES

ANA AMÉLIA GUIMARÃES Professora

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por ANA AMÉLIA GUIMARÃES
Professora

Os resultados do concurso de Apoios Sustentados às Artes 2018-2021, nas áreas das artes performativas, artes visuais e cruzamentos disciplinares, vieram agravar, ainda mais, a já dramática situação de largas dezenas de estruturas de criação artística no país, fragilizam drasticamente o tecido cultural, condenam ao desemprego centenas de trabalhadores, aumentam as assimetrias regionais e a destruição do que ainda resiste em várias regiões fora dos grandes centros, empobrecem o país.

É necessário um outro rumo, que assegure a liberdade e a diversidade da criação artística, a defesa e recuperação do património, a coesão e a diversificação territorial, os direitos dos trabalhadores da cultura.

O direito à livre criação e fruição artística, resultado concreto da luta do povo português e do seu envolvimento nas conquistas de Abril, não pode ser ameaçado através de uma política de asfixia financeira das estruturas de criação.

É necessária e urgente uma ampla manifestação de solidariedade com todos os artistas, com todas as estruturas, com todos os trabalhadores da área, para que a cultura tenha a valorização necessária, num país que se quer de progresso, soberano e desenvolvido.

Os resultados do concurso de Apoios Sustentados às Artes 2018-2021 vieram, pois, mostrar/revelar as fragilidades do tecido cultural nacional. O que se estranha é que da parte da autarquia não se tenha ouvido um comentário sequer a esta situação e às consequências para a ação cultural no nosso concelho.

Encostada a uma putativa ideia de cidade cultural, a autarquia demite-se de participar nas pertinentes discussões políticas nacionais, confinando-se à gestão e à programação de «acontecimentos culturais», numa lógica de prática cultural bancária, isto é, de compra de animação cultural.

Uma cidade em que a cultura pretende ser uma referência, a autarquia não pode deixar de participar nas discussões de carácter nacional, não pode deixar de ter uma voz activa face às propostas do governo, nomeadamente exigindo «1% do orçamento para a cultura» ou, mais localmente, para quando uma avaliação séria e despojada sobre a Capital Europeia da Cultura, nomeadamente naquilo que ela terá ou não trazido ao movimento associativo, à criação de públicos ou à criação de novas centralidades culturais.

A autarquia vai atirando chavões: cidade de cultura, cidade de desporto, cidade verde…, mas, tirando a «poesia» das intenções, o que fica é prosa de ofício, que pouco nos separa da mesmidade autárquica circundante.

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