A PRIMEIRA FÁBRICA DE KOMBUCHA NO NORTE DE PORTUGAL FICA EM GUIMARÃES

A Camellia abriu portas há quatro meses e foi criada por três brasileiros que, vendo um mercado por explorar, decidiram apostar na bebida secular. Os resultados têm sido positivos, acompanhando um mercado global que não para de crescer.

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A Camellia abriu portas há quatro meses e foi criada por três brasileiros que, vendo um mercado por explorar, decidiram apostar na bebida secular. Os resultados têm sido positivos, acompanhando um mercado global que não para de crescer.  

© João Bastos/ Mais Guimarães

É uma receita secular, aparentemente simples e, dependendo dos gostos, saborosa. Chama-se kombucha e já há muito que é produzida no extremo oriente. A palavra (e a bebida) foi espalhada e a kombucha tem conquistado o mercado ocidental desde há uns anos. “Na Alemanha, França ou Espanha, até mesmo no Brasil, é uma febre”, explica Sabrina Silveira. A brasileira, a viver “há um ano e meio” em Guimarães, abre a porta da fábrica Camellia, que produz a bebida com o mesmo nome, equipada a rigor: proteção para o cabelo, avental e galochas próprias para se trabalhar numa espécie de laboratório. Quem também recebe o Mais Guimarães (e com a mesma vestimenta) é Gabriela Theófilo, também vinda do país carioca. Com Flávio Theófilo, marido da última, formam a equipa da Camellia, que funciona desde julho. Vendem bebidas desde a Green Week e já conseguiram levar a sua kombucha, para além de Guimarães, ao Porto, a Matosinhos e a Braga. Mas o que é, para além de uma bebida muito antiga, a kombucha?

As duas sócias explicam: “É feita a partir de chá. Na Camellia, fazemos a partir de mistura de chá verde e chá preto, mas pode ser feita tanto a partir de um como de outro. Fazemos o chá e adoçámo-lo e colocamos primeiro nestes jarrinhos com o scoby”, explica Sabrina. Scoby é a junção das iniciais de “symbiotic culture of bacteria em yeast”, cuja tradução portuguesa, “colónia simbiótica de bactérias e leveduras”, indica já ao que vamos: é uma bebida probiótica — ou, se quisermos, viva. Assim sendo, é rica em micro-organismos vivos que, garantem os produtores de kombucha de todo o mundo, trazem benefícios para quem a beber. O scoby flutua na kombucha e, no fundo, “as bactérias trabalham e fermentam o chá naturalmente”, diz Sabrina. Gabriela acrescenta: “O scoby alimenta-se do chá, processa-o, e vai ficando cada vez mais líquido.” Assim, aquela camada “alimenta-se do açúcar e da teína do chá”, fazendo essa fermentação de modo natural. E ambas garantem: “Tudo é natural e biológico na Camellia.” Para o comprovar, a garrafa de vidro da marca tem mesmo a distinção. “Todo o processo é cem por cento biológico”, frisam. 

© João Bastos/ Mais Guimarães

Quase todas as partes do processo levam, “em média, 13 dias”, aponta Sabrina. O tamanho dedicado à bebida vai aumentando de acordo com a fermentadora; caso a kombucha tenha sabor a uva ou a gengibre (os dois únicos sabores para além da kombucha “pura” da Camellia), a fermentação pode chegar “aos cinco dias” — só para o chá absorver o sumo natural de cada um dos sabores. Sabrina aponta ainda que as bebidas ali produzidas são “gaseificadas naturalmente”.

“Nós temos capacidade para 15 mil garrafas por mês”, indica Sabrina. “Mas, como estamos ainda no início, fazemos 3 mil”, diz Gabriela. Ambas vieram para Portugal para “montar a fábrica”: são de Florianópolis, estado de Santa Catarina, a Sul do Brasil. “Identifiquei que no mercado português faltava kombucha. Quando aqui chegamos, já éramos consumidores e produzíamos no Brasil”, conta Sabrina. Gostou da cidade e resolveu que seria um bom local para montar um negócio. A Camellia conta ainda com um “sócio consultor em Florianópolis”, que já produz kombucha “há seis anos” no Brasil.

© João Bastos/ Mais Guimarães

Gabriela e Flávio já tinham experiência “na montagem de uma start-up” e já haviam lidado “com vendas” anteriormente, estando ligados “à área digital”. “Moramos no Chile dois anos, então sabíamos como iniciar o projeto”, refere Gabriela. Sabrina trabalhava “na área da arquitetura”. Sem qualquer formação académica na área, como resolvem abrir um negócio de uma bebida fermentada, constantemente controlada e cuidada? “Não é um processo complicado, é bem tranquilo”, diz Sabrina, que acrescenta: “Fazer em casa é bem fácil.” “O maior desafio é apresentar um produto desconhecido e fazer perceber o quão benéfica a kombucha é”, atesta Gabriela.

Sabrina começa por elencar os benefícios associados à bebida: “Reforça o sistema imunitário, faz recolonização do intestino. E os antioxidantes do chá verde evitam uma série de doenças. Também trabalha bem na articulação.” Gabriela refere ainda que se pode “beber todos os dias”, ainda que não se aconselhe mais do que 330ml diariamente: “Por isso, as nossas garrafas dizem ‘dose diária’. Bebemos mais do que isso porque o organismo já se habituou, mas, para quem começa, é o melhor. Mas não faz mal”, explica. Sabrina diz que, passados 15 dias, notou “o sistema digestivo bem mais equilibrado”. “E tenho menos gripes, por exemplo, e mais vitalidade”, aponta. Já a sua sócia notou ter emagrecido, mas alerta: “Não é milagroso!” Milagre até pode ser o facto de três pessoas fazerem o trabalho “de cinco ou mais pessoas”. Eles produzem, cuidam, transportam e entregam pessoalmente as encomendas de kombucha, havendo ainda a parte comercial, tratada por Flávio. “É um negócio em que nos aproximamos às pessoas”, notam. E a aceitação, para já, “tem sido muito boa”.

© João Bastos/ Mais Guimarães

Não existe um grande número de pesquisas e evidências científicas que provem que a bebida seja, realmente, uma aposta certa para uma vida mais saudável; ainda assim, a história da kombucha levanta o véu sobre o que ainda falta explorar, mas é preciso olhá-la com cuidado. Lê-se, internet fora, que a bebida terá sido bastante popular no Japão, por volta de 415 d.C., principalmente com o imperador Ingyo, que teria problemas digestivos. Contudo, a história da kombucha escreveu-se, oficialmente, a partir do final do século XIX, na Rússia e na Ucrância. Depois, com a 1.ª Guerra Mindial, a bebida espalhou-se para a Europa Central e popularizou-se na Alemanha.

Voltando aos dias de hoje, tanto Sabrina como Gabriela esperam que os resultados do seu estudo de mercado se concretizem: “A tendência é que, em Portugal, o consumo aumente. É uma bebida popular em muitos países, também será por cá, certamente.” Para já, as kombuchas da Camellia não têm álcool, mas o mercado tem crescido a olhos vistos: “Já há espumante de kombucha. Podes fazer mojitos com kombucha, também. Na Green Week, fizemos bebidas alcoólicas com kombucha e as pessoas gostaram”, conta Sabrina. Em 2018, o mercado global da bebida atingiu os 1,24 mil milhões de dólares. Espera-se que, em 2025, atinja os 3,5 mil milhões. “Gostamos do que fazemos, mas usando garrafa de vidro, por exemplo, o custo é muito maior. Se fosse noutra embalagem, sairia dez vezes mais barato”, aponta Gabriela. Há embalagens prontas a sair para Itália, para além dos estabelecimentos comerciais vimaranenses, bem como de outras cidades. Um dia, esperam, contratarão alguém para fazer o negócio crescer. “Com calma”, dizem. Porque quem faz kombucha tem de ter calma, paciência e dedicação. Devagar, a Camellia vai mostrando as suas pétalas (os sabores que ainda estão para vir, vá).

Onde pode encontrar a Camellia em Guimarães:

– Biobrassica

– Tânia Tinoco

– Clorofila

– Mercearia do Zé

– Cor de Tangerina

– Gomásio

– A Cantina

– Cafetaria de Londres

– Dom Chá

– A Fábrica

– Rua Nova

– BrewPub

E online através do e-commerce Bio em Casa.

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