A TRETA DA MOBILIDADE
MARIA DO CÉU MARTINS Economista
por MARIA DO CÉU MARTINS
Economista
Sempre na vanguarda da “coisa” aí temos Guimarães a celebrar a mobilidade. Com tardes sem carros, caminhadas e conferências e debates….e debates e conferências! Na certeza que o mais importante, nesta onde de modernidade verde, seja sempre sensibilizar o cidadão para a importância de não poluir, utilizando meios alternativos de transporte.
Quando acabei a faculdade, em 1990, o tema do “desenvolvimento sustentável” era uma novidade em Portugal enquanto no restante mundo civilizado era um tema mais do que requentado! Mas já na altura era fácil compreender e aderir à ideia de que cidades com carros e poluição era algo incompatível com a qualidade de vida a que deveríamos aspirar. Era fácil reunir consensos em torno de ideia de que não seria possível aumentar o bem estar das populações sem reduzir as emissões de CO2.
Acho, por isso, deprimente que, 30 anos depois, o grosso do investimento se faça em sensibilização. Eu, como a maioria dos cidadãos da Cidade (e já nem falo do resto do concelho porque aí a mobilidade muitas vezes nem com poluição se faz) já não necessitam de ser convencidos. Gostaria muito de deixar o carro em casa e poder fazer deslocações de bicicleta nos percursos citadinos – mas estes estão, única e exclusivamente, desenhados para carros, Não há uma única ciclovia, os passeios (quando existem) são, recorrentemente, impróprios até para peões e as ruas são perigosas.
Há dias assisti, divertida, ao esforço de 2 turistas que tentavam circular de bicicleta no espaço do Campo da Feira! Subiam e desciam passeios sem saber muito bem como se comportar e olhavam em redor para compreender como os residentes o fariam…mas não havia nenhum de bicicleta.
Fez-se a capital da cultura, fez- se a do desporto e fazem-se inúmeros investimentos de reorganização urbana, mas em nenhum deles se vê motivação para andar de bicicleta, a não ser pela largura dos arruamentos que vão estreitando. A Reconversão da zona das hortas não poderia ser um bom pretexto? Não é esta uma das zonas mais importantes de ligação ao parque da cidade e a uma zona escolar relevante? É fundamentalmente triste perceber que numa cidade tão pequena não se consiga desmotivar os engarrafamentos automóveis diários em prejuízo do usufruto de um espaço intrinsecamente bonito.
Mas lava-se a consciência com debates, conferências, caminhadas e “um dia sem carros”! E, dessa forma, culpa-se, violentamente, o cidadão comum que, exemplarmente, se tem revelado atento às questões ambientais e que utiliza com sofreguidão todos os equipamentos existente que promovem o bem estar físico e social. Nos fins de semana, nos fins de dia, nas iniciativas com mais ou menos organização, os parques da cidade são intensivamente utilizados como espaço de lazer, de prática desportiva e de contacto com a natureza. E só se carrega, no poluente carro, a bicicleta até à ciclovia de Fafe porque as alternativas são inexistentes.
E mais do que no lazer ou na atividade desportiva nunca, como hoje, os cidadãos estiveram tão disponíveis para se libertar do comodismo de se deslocarem no seu automóvel – é muita pena não aproveitar esta onda, sem tretas.
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