A VERDADE NÃO CHEGA?

A opinião de José João Torrinha.

jose joao torrinha
Por José João Torrinha, Advogado e Presidente da Assembleia Municipal de Guimarães Há um sketch dos Gato Fedorento que é já um clássico: num imaginário programa televisivo, debate-se política internacional. À mesma mesa estão dois especialistas (um civil e um militar) e um terceiro elemento apresentado como “um gajo de Alfama”. Lembro-me de ver aquilo pela primeira vez e de me rir à gargalhada. A verdade é que, tiradas como “os americanos têm uma bomba que só mata muçulmanos (vai lá pelo cheiro a caril”), ou “os ciganos eram outro povo que era todo para ir à vida” ditas pela boca da tal personagem, tinham aquele típico tom de exagero, mas que ao mesmo tempo, lá no fundo, nos soavam familiares, pois que, de forma mais ou menos explícita, já nos tínhamos cruzado com elas aqui ou ali. Volvidos todos estes anos o sketch já não tem tanta piada. É que, nos dias que correm, quase que parece que vivemos rodeados de “gajos de Alfama”. Quando olhamos para as sondagens e vemos que um partido recém criado e que argumenta de forma básica e populista já anda pelos seis por cento, as campainhas deveriam estar todas a tocar. E, no entanto, o dito partido vai merecendo uma complacência, designadamente de boa parte da comunicação social, que mais nenhum consegue. Note-se: de há uns meses a esta parte, já ocorreram coisas no seio do Chega que arrumariam com qualquer outro partido. Ainda antes das eleições, quase passou desapercebida a notícia de que, na sua constituição, teriam sido usadas assinaturas falsas. Já depois do ato eleitoral, ficou a saber-se que o líder do partido, não há muito tempo, escreveu uma tese que contraria frontalmente toda a ideologia subjacente à organização que o próprio criou. Pior. Umas escassas semanas após as eleições, o partido renegou o programa com que se havia apresentado aos eleitores. Um programa que basicamente propunha a destruição de alto a baixo do nosso estado social deixou se estar sequer disponível para consulta no site do partido. Pelo meio, soube-se que o Chega albergava entre a sua elite dirigente elementos que tinham já pertencido a outros partidos de índole assumidamente criminosa. Perante a notícia, o líder apressou-se a dizer que ia “limpar a casa”. Apesar disso, a última reunião púbica do Chega terminou com todos a cantar o hino nacional e alguém na primeira fila a fazer a saudação nazi. Mais recentemente, o líder do Partido fez um comentário racista a propósito de uma proposta de uma outra deputada. Pergunta-se: à beira da gravidade de tudo isto, o que importam as polémicas no Livre e as trapalhadas da deputada Joacine Katar Moreira? E, no entanto, é dela que se fala a toda a hora e momento e não se expõe Ventura por aquilo que ele verdadeiramente é: um oportunista sem escrúpulos. Nas eleições americanas de 2016, ficou famosa a frase de Donald Trump, dita durante a campanha, que era mais ou menos assim: “mesmo que eu matasse alguém na quinta avenida, ainda assim as pessoas votariam em mim”. Infelizmente é assim. As pessoas que votam neste tipo de políticos não querem saber de nada que ponha em causa o seu apoio. Ainda que a verdade seja escandalosa. O que fazer, então? Em minha opinião, só há um caminho: nunca desistir de expor a verdade. Nunca desistir destes eleitores. Nunca desistir da democracia.

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