“Agustinopolis” sobe ao palco do CCVF e marca o regresso do Festival de Canto Lírico
O Festival de Canto Lírico, organizado pela Associação de Socorros Mútuos Artística Vimaranense (ASMAV) está de regresso a Guimarães nos dias 22 e 23 de novembro, com um fim de semana inteiramente dedicado à ópera.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães
O destaque vai para a estreia de Agustinopolis, segundo espetáculo da tetralogia “O corpo e o poder”, que sobe ao palco do Centro Cultural Vila Flor (CCVF) no sábado, dia 22, às 21h30. No mesmo fim de semana, o público poderá ainda assistir a uma ópera para bebés na sede da ASMAV e ao espetáculo As Três Sopranas, no Teatro Jordão.
Depois de Leonor e Benjamim, obra inspirada no massacre dos judeus de Lisboa, em 1506, apresentada em junho, Agustinopolis constitui o segundo capítulo de um ciclo operático que se prolonga até dezembro de 2026. A nova criação tem composição de Jorge Salgueiro e encenação de João Brites, fundador e diretor artístico d’O Bando.
A ópera tem como ponto de partida o universo literário de Agustina Bessa-Luís. O libreto, construído inteiramente a partir de frases da escritora,“É um texto composto por excertos de muitos livros da Agustina. São as frases que a tornaram única”, explicou Jorge Salgueiro.

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O espetáculo reunirá cerca de 50 intérpretes, entre cantores líricos e atores, num cenário de grande dimensão e com uma sonoridade que alia o piano a elementos eletrónicos. “É uma ópera dramática e disruptiva, que certamente impressionará o público”, afirmou Francisco Teixeira, presidente da direção da ASMAV, em declarações ao Mais Guimarães.
O dirigente sublinha a relevância simbólica de estrear Agustinopolis no ano em que se assinala o centenário do nascimento de Agustina Bessa-Luís. “É um texto e uma encenação profundamente impactantes, quer pela sua dimensão cénica, quer pela força das palavras da Agustina. No final do espetáculo, haverá uma conversa com João Brites, Miguel Jesus e Jorge Salgueiro.
Ópera também para os mais pequenos
No domingo, 23 de novembro, o festival apresenta uma ópera pensada para bebés. Depois de “A Casinha de Chocolate”, apresentada em junho, a ASMAV volta a abrir as portas da sua sede, na rua Gil Vicente, para acolher A Flauta Mágica, de Mozart, numa versão adaptada para os mais novos. O espetáculo tem início às 11h00.
Francisco Teixeira destaca o entusiasmo com que o público acolheu a primeira incursão da ASMAV na ópera infantil: “Estávamos com receio de que as pessoas não aderissem, porque é uma ópera para crianças muito pequenas, mas foi um sucesso. As famílias ficaram encantadas. Acreditamos que esta será mais uma manhã inesquecível”, sublinhou.
As Três Sopranas: competição e humor no Teatro Jordão
O fim de semana encerra, no domingo à tarde, com As Três Sopranas, espetáculo agendado para as 17h00 no Teatro Jordão. A produção resulta de uma parceria entre a Associação Setúbal Voz e a Orquestra do Norte e retrata uma divertida disputa entre três cantoras líricas que lutam pelo estrelato.

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Para Francisco Teixeira, a diversidade do programa é uma das chaves do sucesso do festival: “Queremos chegar a públicos muito distintos, e criar em Guimarães o hábito de fruir a ópera, um espetáculo que resume imensas artes: o teatro, a música, a palavra, a encenação e o guarda-roupa”, destacou o presidente da ASMAV.
Guimarães como polo operático
A tetralogia “O corpo e o poder” continuará em 2026, com Eu Sou a Alma, uma ópera sobre as tribulações da Palestina, cuja estreia está marcada para 21 de março no CCVF. O ciclo encerra no final desse ano com Prisciliano, obra inspirada na figura histórica do teólogo e reformador do século IV, associado às origens da cultura galaica e ibérica.
Com estas produções, a ASMAV quer consolidar Guimarães como um dos centros de criação e apresentação operática em Portugal. “Temos orgulho em afirmar que fomos a única instituição a trazer ópera à cidade nos últimos oito anos. O nosso objetivo é que Guimarães se torne um espaço onde se veja ópera de forma contínua e, no futuro, também um espaço de produção com criadores locais”, defendeu Francisco Teixeira.
O presidente da ASMAV reconhece, contudo, que a dimensão do projeto obriga a um forte apoio institucional. “Nenhum país do mundo faz ópera sem subsidiação pública”, frisou, agradecendo à Oficina, coprodutora do festival, e à Câmara Municipal de Guimarães, bem como à Direção-Geral das Artes, que apoiam o projeto.
Para Francisco Teixeira, a aposta contínua da ASMAV é também uma forma de contribuir para a descentralização cultural. “Há indícios de que existe procura operática em Portugal, vêmo-lo em Lisboa, Braga e Óbidos. Guimarães tem condições únicas para se afirmar neste mapa. O nosso sonho é ver nascer aqui um festival que junte várias companhias e que coloque a cidade-berço como um dos polos do canto lírico nacional”, concluiu.





