André Coelho Lima: Parabéns Guimarães! Parabéns Ricardo Araújo!
As Eleições Autárquicas em Guimarães revelaram uma reviravolta absolutamente histórica. Pela primeira vez desde 1989, o PSD, liderando a coligação Juntos por Guimarães, venceu as eleições fazendo de Ricardo Araújo o novo Presidente de Câmara.

© Mais Guimarães
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Um feito absolutamente histórico que em 36 anos muitos tentaram e apenas Ricardo Araújo conseguiu, pulverizando quaisquer resultados que o antecederam e conseguindo mesmo o 5.º maior resultado a nível nacional em números de votos, o que foi ignorado ou pouco relevado pela comunicação social nacional e não pode deixar de ser lamentado. Ricardo Araújo consegue ser o segundo Presidente da Câmara de Guimarães do PSD na nossa história democrática, a seguir a António Xavier, o que é uma circunstância inolvidável no panorama político local.
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A primeira palavra é para os vimaranenses. Apesar da eleição, em termos nacionais, ter corrido de feição para o PSD, não é justo atribuir a essa circunstância qualquer efeito de arrastamento para o que sucedeu em Guimarães. Como não é justo atribuir a quaisquer questões internas no seio do PS as razões desta vitória. Guimarães sempre foi um bastião socialista, tem a maior concelhia do país do Partido Socialista, de tal modo que, dizia-se, que para perder Guimarães o PS corria risco de extinção como partido político. Mas a verdade é que apesar da vitória nacional do PSD, o PS acabou por ter uma boa prestação no cenário nacional, o que significa que não aconteceu a debacle nacional que poderia justificar uma derrota do PS em Guimarães. O que aliás se retira igualmente dos resultados em Fafe e Vizela. Pelo que a derrota do PS em Guimarães foi determinada apenas e só pelos vimaranenses, sem quaisquer condicionamentos externos.
Quiseram a mudança, quiseram castigar a ineficiência notória da gestão dos últimos anos, quiseram acabar com a ideia de que em Guimarães o PS sempre venceria, em quaisquer circunstâncias. E quiseram, claro, dar uma oportunidade à coligação Juntos por Guimarães que vem consolidando de forma persistente e resistente a sua força eleitoral. Esta decisão dos vimaranenses, se vista no contexto nacional em que o PS segura, apesar de tudo, a sua posição, tem de ser vista como uma enorme manifestação de independência, de autonomia, de pensamento próprio de uma comunidade. Daquelas posições coletivas reveladoras de uma maturidade que costumam diferenciar as comunidades mais capazes e mais instruídas. Uma verdadeira manifestação de soberania popular.
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Este é também um momento de falar dos vencidos. Em duas perspetivas antagónicas. O PS perde por ineficiência e arrogância. A ineficiência política e gestionária que levou finalmente os vimaranenses a perceberem que o PS já há muito estava esgotado e tinha perdido a capacidade transformadora, era apenas o poder pelo poder. Arrogância por terem considerado que o eleitorado vimaranense sempre seria seu, fizessem o que fizessem; a mesma arrogância que conduziu Pedro Nuno Santos à destruição eleitoral do seu partido o que, parece, não chegou para exemplo.
Mas há uma segunda perspetiva que não quero deixar de transmitir. De agradecimento pelo tanto que de bom também foi feito durante estes 36 anos. Fomos adversários, lutámos sempre por demonstrar que seríamos capazes de fazer melhor, mas temos o dever de seriedade de saber ser gratos a António Magalhães e a Domingos Bragança e suas equipas, não somente pelo empenhamento, mas pelos méritos inegáveis do que se conseguiu durante estas quase quatro décadas. Por respeito por quem sai, mas também por respeito pelas pessoas pois os vimaranenses que agora entregaram o destino do seu município ao PSD, são os mesmos que durante 36 anos o entregaram ao PS.
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A última palavra é para os vencedores. Este é um momento de enorme satisfação para os que durante tantos anos lutaram por esta mudança, em tantas candidaturas, em tantas freguesias, em tantos lugares, em tantos anos de luta inglória, de luta que parecia impossível – esta vitória homenageia e honra todos esses. Haverá muitas pessoas que se poderão considerar vencedores deste ato eleitoral, mas entre eles estão inequivocamente Ricardo Araújo e, claro, Rui Armindo Freitas, o novo Presidente da Assembleia Municipal e governante que tem desempenhado com brilho a sua função. Conheço o Ricardo Araújo há muitos anos, colaborámos juntos desde 2010.
Por mérito seu, convidei-o para todos os elencos que me coube liderar, trabalhámos imensos temas e dossiês tendo o Ricardo sempre se manifestado trabalhador, disponível, leal, confiável. Também por mérito seu, apoiei as suas candidaturas, tanto ao partido como à Câmara numa posição que, como ele sabe, foi totalmente substantiva. Mas não sou hipócrita. Por razões que não é o momento de recordar e que espero consigam respeitar que não possa esquecer ou perdoar, tomei a decisão de não participar nos eventos de campanha. Pelo que desta vitória do meu partido nenhum crédito me pode ser atribuído ou associação me pode ser efetuada. Nenhuma.
Mas quero que saibam da minha alegria com esta vitória. Da minha alegria pela conquista de algo que tanto desejámos e por que durante tantos anos lutámos. Da minha alegria com a vossa alegria. Circunstâncias pessoais algumas, por muito intensas e injustas que possam ter sido, apagam a satisfação que sinto com o que Guimarães decidiu. Eu não as esquecerei nem muito menos as pretendo branquear, mas este é um momento superior a nós próprios, é um momento de celebrar a conquista coletiva. Queria também que soubessem da vontade que tinha em poder abraçar todos, tantas e tantas pessoas que tantas vezes abracei e que tanto lutaram, comigo e com tantos outros, e que viram agora finalmente compensada essa resiliência, esse nunca desistir. Mas não tenho dúvida compreendem, pelo que de mim conhecem, que tendo eu optado pelo distanciamento no período eleitoral não iria nunca aparecer no momento do seu apogeu. A minha dignidade é um reduto inexpugnável. Da mesma forma que quero que saibam que a minha solidariedade para com todos, é inquestionável.
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A vitória de Ricardo Araújo e naturalmente da equipa que o acompanha (com pessoas que tanto considero), é clara e retumbante. A maturidade que os vimaranenses revelaram ao decidir a mudança contra todas as expectativas é altamente reforçadora dessa vitória. Está de parabéns Guimarães, não por ter decidido a vitória do PSD, mas por ter sido capaz de dar uma demonstração de enorme maturidade democrática.
Estão de parabéns o PSD e o CDS (um parceiro sempre leal, que aporta imenso valor e que quero cumprimentar de modo muito especial nas pessoas de Rui Barreira e António Monteiro de Castro) por, após tantos anos de luta de tantos, termos conseguido conquistar o poder num concelho tradicionalmente difícil. Mas está sobretudo de parabéns Ricardo Araújo, o futuro Presidente da Câmara de Guimarães, que é o protagonista desta viragem, desta vitória histórica, agora já não para o PSD, mas para Guimarães.
Do que conheço das suas qualidades políticas e de trabalho, não tenho a menor dúvida que desempenhará um bom papel, que exercerá o mandato com inteligência, que será um Presidente de Câmara que nos representará condignamente e que saberá traçar as linhas de desenvolvimento para o nosso futuro comum de que tanto temos estado carecidos. Que é aquilo que desejo e mais do que isso, em que confio. Eu manterei a distância que representa coerência com a postura que até aqui decidi assumir. A distância de quem nada quer, nem nunca quis, a não ser poder contribuir para a melhoria do Mundo, no seu tempo de vida. Mas agora não podia nada dizer.
Não podia não transmitir, mais a frio, a minha alegria interior com o que aconteceu. Não podia não reconhecer, sem reservas, o mérito a quem o mereceu. Exige-mo o respeito por mim próprio e pelo tanto que, modestamente, durante tantos anos também lutei (embora daí não pretenda qualquer mérito ou associação), mas exige-mo sobretudo a felicidade de tantas pessoas a quem sou tão grato, que também fizeram parte desta mudança e que quero saibam da minha alegria com a sua felicidade. Vimaranenses, sociais-democratas e democratas-cristãos, pessoas que estiveram sempre disponíveis não por vitórias, mas por lutar de forma desprendida e desinteressada pelo seu ideal de comunidade. Termino desejando naturalmente ao novo Presidente e ao futuro elenco municipal os maiores sucessos na condução desta terra que tanto amámos.
Artigo de opinião de André Coelho Lima.





