Ano Novo, Mundo Velho

É lícito acender novos desejos na transição do ano, definir novos objetivos e novas metas, o calendário dita e somos levados a pensar num momento de rutura quando na verdade é um processo de continuidade, festejamos sem perceber porquê, mas todos sabemos que adiante sobem os preços, verdade, as coisas ficam mais caras e o frio fica mais áspero.

© Carlos Guimarães

Há luzes que acendem e outras que se apagam com o velho mundo a morrer lentamente, como todos nós. Os dias que vivemos moram no período de descontos, o jogo das nossas vidas, e há vidas próximas do fim. As luzes rodopiam nas ruas numa velocidade furiosa, luzes que transportam vidas a tremer, dores atordoadas, feridas abertas, ossos partidos, ar que não entra, e rezas (Oh Senhor salvai-me.…).

De repente tudo fica quieto e preso a uma pulseira no pulso. Horas e horas de espera, alheias à cor que se mostra no pulso e da cianose que se agrava. Nada de novo, tudo igual no país das contas certas, uma situação tão má como o vermelho da pulseira, um abanar da cabeça de assentimento e murros na mesa que se ficam pelas mãos dentro dos bolsos. “Um problema crónico”, dizem os senhores da gravata, “a culpa é de Passos Coelho”, dizem os senhores da gravata, e eu no limite básico da minha inteligência sinto-me insultado, não gosto de ser equiparado a asno, mas alguns não se importam.

Abrem-se crateras no chão ao lado de montanhas de escombros, corpos dilacerados, fumo e sangue, drones e aviões, balas e canhões. Ano novo, Mundo velho, igual a si próprio, como as palavras, repetidas, as minhas e as outras. O fogo verdadeiro, tão diferente do fogo do artificio e o choro das gentes que desaparece sob a música dos DJs. Ano novo, Mundo velho, tão diferente e tão igual, igual a si próprio.

O ano velho acabou assim e o novo será igual (Oh Senhor salvai-me.…), tal como o frio e as casas geladas dos pobres que conservam o calor do corpo com sete camadas de roupa porque não há dinheiro para alimentar o aquecedor. No entanto os shoppings explodem de gente e as estradas enchem-se de carros a pilhas de alta gama, o nosso Mundo Velho paradoxal e nada surpreendente.

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