António Magalhães: “Na área do Ricardo Costa não vejo ninguém que o possa substituir”
Ex. presidente manifesta-se “frustrado” com o que se passou na última reunião da Comissão Política Concelhia do Partido Socialista, e com a exclusão do vereador Ricardo Costa na lista às autárquicas de 2021, que acontecerão a 26 de setembro.

António Magalhães
António Magalhães, presidente da Câmara Municipal de Guimarães durante seis mandatos, entre 1989 e 2013, manifesta-se “frustrado” com o que se passou na última reunião da Comissão Política Concelhia do Partido Socialista, e com a exclusão do vereador Ricardo Costa na lista às autárquicas de 2021, que acontecerão a 26 de setembro.

Para o histórico socialista, Ricardo Costa possui “capacidades e competências que mais cedo ou mais tarde, o partido terá que aproveitar”. Se não o fizer “comete um erro crasso”, diz António Magalhães, porque diz ver em Ricardo Costa “um cidadão reconhecido pela sua capacidade e polivalência”. E é por isso que, acrescenta, “naturalmente, se destacou na Câmara Municipal e teve um desempenho como vereador, em pelouros importantes, muito acima da média”.
A lista apresentada por Domingos Bragança, segundo o ex-presidente, e “percebendo aquilo que Guimarães vai ter de fazer, terá fragilidades”.
“Numa área em que o Ricardo Costa era muito competente, não vejo ninguém que o possa substituir”.
António magalhães
António Magalhães considera que o vereador responsável por vários pelouros no município, e apontado como o sucessor de Bragança, “foi sempre um individuo muito acarinhado”, que as pessoas “reconheciam nele uma capacidade de abordar temas que normalmente não fazem parte da cartilha tradicional do militante de base ou até do militante com algumas pretensões. Ele é mais polivalente, e tem competências que normalmente um autarca não tem”, acrescenta.
Ao Mais Guimarães, o ex. presidente da Câmara Municipal, diz não perceber, “nenhuma razão objetiva” para a ausência de Ricardo Costa da lista. No entanto refere ter havido “uma luta entre dois, pelo segundo e terceiro lugares, uma luta que se estava a alimentar, mas que o Ricardo deixou cair essa pretensão”.
Depois, conta, “começamos a duvidar do que se estaria a passar, porque o atraso na apresentação da lista (por Domingos Bragança) quase uma semana, não é normal no partido”, e isso leva-nos a pensar que foi “premeditado”.
Esta terá sido, para o ex. autarca, uma decisão exclusivamente local, sem interferências externas: “A decisão terá sido, sobretudo, de Luís Soares e do próprio Domingos Bragança. São estes dois que estão por trás deste processo, que não tem nenhuma razão de ser. Isto é uma família, politica, e tem que se respeitar o trabalho do Ricardo, está aí para que todos o vejam”.
O ex. autarca vai mais longe nas acusações, afirmando haverem “logicas de conduta cívica que têm que estar primeiro que as políticas”.
Ricardo Costa só terá sido informado da decisão por Domingos Bragança pelas 14h00 de quinta-feira, dia da apresentação da lista à Comissão Política, após a reunião do executivo municipal.

Sobre a reunião da Comissão Política e a ausência de Ricardo Costa da lista, António Magalhães é muito crítico, não estando “nada satisfeito. Não é só pelo Ricardo Costa, mas também porque estas coisas, estas condutas, deixam sempre sequelas”.
O ex. presidente conta que, na reunião da Comissão Política, apareceu “um grupo que é tradicional, que anda sempre à volta de quem manda, e algumas das pessoas deveriam ter vergonha da forma como se prestam àquele papel”.
Diz também ter estranhado, por parte do presidente da mesa, alguém que considera “competente, uma pessoa que respeito e que é sério”, mas que a determinado momento “passou a ideia de que não era preciso discutir nada”, lamenta o ex. autarca.
Sobre a lista apresentada por Domingos Bragança, António Magalhães diz ter duvidas “se é a melhor lista que Guimarães poderia ter. Mas há uma coisa que eu sei, que na área em que o Ricardo Costa trabalhou, o partido socialista, não apenas em Guimarães, mas em muitos espaços geográficos do país, não tem ninguém com a qualidade que ele tem” diz, acrescentando, não ter “nada contra quem integra a lista, nem contra quem tem legitimidade para escolher os seus pares”.
“Custa-me não só pelo Ricardo em si, mas pela forma como tudo foi conduzido.”
António Magalhães
Um dos responsáveis pela exclusão de Ricardo Costa é, para António Magalhães, Luís Soares, que classifica como “um individuo complexo”, e diz que o comportamento possa ser justificado pela “tentativa de voos futuros, que são legítimos”, salvaguarda.
O atraso na entrega da lista, por Domingos Bragança, terá outra explicação para António Magalhães: o temerem que Ricardo Costa pudesse encabeçar uma lista de independentes. ”Ele foi incentivado várias vezes, e por muita gente”, conta o ex. autarca. “Eu presumo que esta estratégia de ir escondendo a lista tenha a ver com isso, que poderia ter acontecido. E o Ricardo Costa teria plateia”. Assegura.

“Ele tem toda a legitimidade, face ao trabalho que realizou, de lamentar o não terem cumprido com ele e os moldes em que tudo isto foi feito”.
ANTÓNIO MAGALHÃES
Sobre uma possível influência desta situação no resultado das eleições, António Magalhães afirma que, devido à “dimensão da influência até sobre a imprensa local”, o assunto “não será badalado”, mas que há várias freguesias, e há grupos de opinião que “naturalmente não gostaram disto”.
Para o socialista, o seu partido poderia ter um “amargo de boca sério” com o que se passou se o PSD tivesse “uma lista mais forte”.
“Conheço bem e sei que é uma pessoa competente o atual candidato, (Bruno Fernandes) mas é evidente que lhe falta algum traquejo”, diz António Magalhães.
Já relativamente ao futuro de Ricardo Costa, António Magalhães teme que, se não estiver a exercer funções politicas, “vai ter dificuldades em aguentar a barra até daqui a quatro anos”, até porque “está barrado na própria casa”, na vila de Caldas das Taipas, “porque aqueles que diziam ser seus amigos, com quem ele trabalhou, viraram-lhe as costas, não são cavalheiros”.
Para além da componente política, o ex-presidente aponta para a pessoal que “deve ser considerada”. A banca, de onde vem o Ricardo, está em reformulação, e “o Ricardo poderá não poder regressar”. Se eu fosse o atual presidente de Câmara teria de arranjar uma alternativa para aquilo que foram as capacidades demonstradas pelo Ricardo. Ele tem família, tem responsabilidades e uma carreira, e temos que ter coração”, termina.