António Mota Prego: “Abril foi há 50 anos, é hoje e terá de ser sempre”
O histórico socialista foi convidado pela bancada parlamentar do partido, a discursar na sessão solene da Assembleia Municipal de Guimarães, comemorativa dos 50 anos do 25 de abril de 1974.

Leia a intervenção na íntegra:
O que são 50 anos na vida de uma pessoa?
O que são 50 anos na vida de uma Democracia?
Meio século, é muito mais do que metade da previsível existência de um ser humano, e quanto à Democracia, é um permanente labor pela sua permanência e aperfeiçoamento.
Dos 30 anos que eu levava de vida num Portugal em ditadura, mais de 15 foram-no já na consciência do cinzentismo português.
Consciência tanto mais nítida e completa quanto ia progredindo em idade, sabendo cada vez mais e melhor da tristeza, da angustia, do temor, de um rosto de um Portugal folcloricamente sorridente em que se detetavam a transparência nos olhares por onde se chega à alma de um povo.
Frequentávamos no último ano dos estudos secundários, os privilegiados da minha geração. Os menos afortunados os seus estudos profissionais, e o duro labor de um emprego os sem privilégios nem fortuna, quando todos nos deparamos com uma guerra em longínquas e quentes terras de África, para a qual foram convocados membros de todas as famílias portuguesas.Para além da tristeza, angústia e temor, Portugal cobria-se então também de luto.
O regime que faz agora 50 anos levava já 48 de duração, assentes em silenciamentos que muitos não suportaram, e dificilmente suportaram os restantes, e só conseguiu perdurar tanto quanto perdurou, escorado em violências e torturas que muitos heroicamente sofreram.
Tendo estes sofrido sem que cedessem ao desígnio que deles pretendiam, os autores das torturas físicas, morais e económicas, que lhes foram infligidas, só porque expressaram o desejo de liberdade individual e coletiva, desta liberdade que se permite hoje e aqui, a expressão do amor e do apego.
Os autores materiais de tais sevícias têm nomes que se vão confundindo com a poeira da história.
Mas os seus autores morais, seria impróprio omiti-lo neste tempo em que a lembrança é mais necessária que nunca, têm nome gravado na memória do tempo e dos que o habitam, e mencioná-lo é uma obrigação: António Salazar e Marcelo Caetano.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães
Tenho o privilégio de ter sobrevivido e ter sobrevivido sem dano de que me aperceba, à prisão, à guerra, ao exercício da profissão que pretendia abraçar e, além de tal privilégio, tive ainda a felicidade ímpar de viver no mais límpido, exaltante florido e irrepetível dia 25, no abril de há 50 anos.
E o orgulho de alguma coisa ter feito para que esse fosse o dia em que nós, povo de Portugal, emergimos da noite e do silêncio, e livres habitamos na substância do tempo.
Como disse, no mais belo e luminoso poema de que é merecedor o dia que o inspirou a poeta portuguesa, a poeta de Portugal, Sophia de Mello Breyner.
Lembro todos quantos ansiaram esse dia e não tiveram vida que os levasse até ele. Celebro os que heróicamente desbravaram o caminho que haveria de ter promessa da erupção da liberdade até então ancarcerada. Honro todos quantos ousaram, puseram a vida em risco, e sobretudo quantos a perderam para que tal se cumprisse.
Por esta liberdade tão sofridamente alcançada, pois mesmo quando imperfeita, é sempre passível de ser aperfeiçoada.
Nenhuma tirania, nenhuma ditadura, nenhuma autocracia por mais que perfeita seja, poderá comparar-se. E tanto menos se comparará quanto mais perfeita qualquer delas for.
Abril foi há 50 anos, é hoje e terá de ser sempre, no futuro. Porque no dia em que deixasse de o ser, pereceria a alma do povo que a plantou.
Que vivam sempre, e para sempre, a Democracia e a Liberdade
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