Autárquicas 2021: reflexões avulsas

Por César Teixeira.

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Por César Teixeira.

Decorrido que foi o último ato eleitoral autárquico assaltam-me algumas reflexões que, sem prejuízo de análises mais pormenorizadas que possam ser feitas posteriormente, gostaria de, desde já, partilhar.

1.- É um hábito arreigado na política portuguesa. Procurar transformar derrotas absolutas em vitórias relativas. Os números da vitória eleitoral em Guimarães são claros e objetivos. Domingos Bragança foi o vencedor da noite eleitoral, como dignamente assumiu Bruno Fernandes. Vitória tanto mais significativa quanto verificada num contexto bem mais complexo do que aquele que ocorreu nos anteriores atos eleitorais. Seja pela fratura exposta no interior do Partido Socialista, aberta com a exclusão de Ricardo Costa das listas autárquicas. Algo inédito, até aqui, no PS/Guimarães. Seja pela conjuntura nacional caracterizada por maior desgaste do Governo de António Costa. Ao contrário da conjuntura favorável nas duas outras candidaturas. Uma realizada em plena concretização do Plano de Assistência Financeira (2013). Outra realizada em plena catarse desse mesmo período. Seja pelo facto de, nesta eleição, ter contado com candidaturas à esquerda com potencial erosivo.

2.- Comparando com 2017, Domingos Bragança aumentou a distância percentual face à Coligação. Conseguiu conquistar mais uma Junta de Freguesia. Conseguiu mais mandatos nas Assembleias de Freguesia. Aumentou o número de vereadores no executivo, regressando ao número que António Magalhães obteve em 2009. Manteve a representatividade na Assembleia Municipal de Guimarães.

3.- PS, PSD e CDS perderam cerca de 11.000 votos face às eleições autárquicas anteriores. Parte substancial destes votos foram perdidos diretamente para a abstenção. Sinal de uma campanha que, salvaguardadas realidades muito específicas e particulares em algumas freguesias, não conseguiu – ou não quis – mobilizar os vimaranenses. Sabendo-se que os Vimaranenses quando confrontados com opções decisivas já se manifestaram disponíveis para participar ativamente na construção do seu destino coletivo.

4.- Uma das grandes virtudes do poder autárquico é a da proximidade entre eleitos e eleitores. Mas a proximidade do poder pode ser perniciosa e promover redes de dependências que cristalizem determinados partidos no poder. O PS está no poder em Guimarães, de forma sucessiva e ininterrupta, desde 1989. Seguramente que também com responsabilidades da oposição. Mas não poderemos deixar de constatar que o Município de Guimarães e todas as entidades participadas têm cerca de 2.000 empregos gerados diretamente. Que o Município de Guimarães é uma entidade extrativa dos recursos das famílias e das empresas. Que promove tributação elevada, tendo fontes de financiamento abastadas. Assim se alimentando o monstro.

5.- O concelho de Guimarães é um concelho heterogéneo. Com resultados eleitorais absolutamente díspares. Nas freguesias da zona urbana assistimos a equilíbrio eleitoral. Ora com vitórias do PS. Ora com vitórias da Coligação. Mas, invariavelmente, com números aproximados. Fora do centro urbano assistimos, em algumas freguesias específicas, a votações totalmente desequilibradas. Em que determinados autarcas assumem efetivamente o papel do pequeno cacique. De forma análoga ao que sucedia no Portugal oitocentista. São estes pequenos poderes que explicam que uma freguesia em concreto registe para os órgãos municipais votações avassaladoras no Partido Socialista. E que na freguesia ao lado se assista a uma votação substancialmente diferente. Diferença que não encontra explicações com fundamento económico, social ou cultural.

6.- A Assembleia Municipal de Guimarães vai contar com novos intervenientes. Da IL e do Chega. Resultado de uma subida consistente que estes partidos têm registado ao nível nacional. Que agora se reflete também ao nível local, e particularmente no nosso concelho. O Chega consegue mesmo suplantar o Bloco de Esquerda. Que ao fim de vários anos de intervenção política continua sem convencer os vimaranenses. Os membros da Assembleia Municipal agora eleitos por estes partidos seguramente serão vozes que, espera-se, irão contribuir para calibrar o debate político vimaranense. Porque a democracia cultiva-se com a diversidade ideológica.

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