Breve ensaio sobre a liberdade
Por Eliseu Sampaio.
Por Eliseu Sampaio.«Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.»
Sophia de Mello Breyner Andresen
Procuro fevereiros e não os acho!
Sempre os tive em boa conta, por motivos vários. Fevereiros, estes meses pequenos e cheios de graça. Sempre soube que por motivo algum se festejaria aqui o carnaval: Com folia e alegria, com cor e liberdade.
Que fevereiro este que vivemos: Sem folia e alegria, sem cor e sem liberdade!
Parece-me muito longe este mês de há um ano. Tem a memória dificuldade séria em o achar. Vislumbro apenas uma imensidão de tempo, um espaço vácuo entre os dias que hoje vivemos e aqueles que ficaram lá para trás.
Talvez seja só proteção minha esconder esse tempo autónomo, o tempo em que nos movíamos à velocidade do nosso querer, das necessidades, das nossas vontades e desejos. Talvez imagine que me vá doer recuar assim ao tempo em que tudo era simples, em tudo nos era possível, e em que as amarras, essas, só poderiam ser obra de um diabo qualquer. Arre Satanás!
Fevereiro de 2020 terá sido o último mês em que fomos felizes por inteiro. O último dos meses em que estivemos com os nossos e convivemos, abraçamos, beijamos, dançamos, cantamos, rimos ou choramos, sem preocupação maior do que a de desfrutarmos da nossa vida, na companhia do outro, em liberdade plena.
Não quero mais fevereiros assim. Quero até todos os outros juntos num só, para compensar!
Tragam-nos de volta os fevereiros do nosso contentamento.
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