Bruna Sampaio: “O palco da minha vida seria a Broadway”

Entrevista publicada na edição de fevereiro da revista Mais Guimarães.

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Não fomos a Nova Iorque – mas gostávamos -. Ainda assim, Bruna Sampaio trouxe um bocadinho do que lá se vive até nós. Começou no ballet, com quatro anos, mas a paixão pelo teatro já existia. Foi estudar para Londres e a encenação que é a vida levou-a até Nova Iorque.

A Mais Guimarães entrou em cena e quis abrir o pano e conhecer as coxias e os camarins do seu percurso.

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Se tivesses que te resumir, quem é a Bruna?

Nasci e cresci na mais bela cidade : Guimarães. Sou uma menina-mulher persistente, cheia de garra e determinação que, desde muito cedo, partiu em busca do sonho que sempre quis. Considero-me uma lutadora.

Apaixonada pelas Artes, tive a coragem de, aos 18 anos, navegar em busca do desconhecido, primeiro, rumo a Inglaterra, depois aos EUA. Nunca desisti perante as adversidades que encontrei pelo caminho nem as imensas privações. Estar fora da minha zona de conforto é um enorme desafio do qual não abdico, porque, a cada dia me faz crescer e aprender.

Como é que surge a paixão pelo teatro?

A paixão pelo teatro já nasceu comigo. Em pequena, inventava pequenas histórias de teatro para apresentar à minha família, nos momentos festivos, como o Natal. Sempre fui criativa e, sempre que podia, dava asas à minha imaginação. Por isso, interpretar as mais diversas personagens, para mim, era uma verdadeira diversão. Esta paixão foi crescendo e, aos 12 anos, comecei a frequentar as aulas de teatro na escola Asas de Palco. A partir daí, percebi que representar podia ser o meu futuro.

E quando é que percebes que queres mesmo fazer disso a tua vida?

Percebi que queria mesmo isto para a minha vida quando ia para as aulas de teatro e me sentia realizada e feliz no palco. Era como se as minhas baterias se recarregassem, ganhava vida. Sentia-me livre e em paz. A minha motivação e desejos contaram sempre com o apoio dos meus pais. Lembro-me da minha professora de teatro lhes dizer: “a vida da Bruna um dia vai passar pelo palco”. E assim é. Nunca mais parei. Tive a sorte de ter na minha vida várias pessoas que acreditaram em mim. Isso deu-me a força necessária para querer seguir este caminho que tem tanto de incerto como de fascinante.

Sei que fizeste ballet. Há o sonho de juntar o teatro e a dança? Tens feito isso?

O ballet foi o meu primeiro amor. Com apenas quatro anos, comecei a minha jornada no mundo do espetáculo com aulas de ballet. Todos os anos era avaliada pelos professores da Royal Academy of Dance e passar sempre para o nível seguinte, com sucesso e reconhecimento, foi fruto de muitos anos de trabalho, esforço e dedicação. Este contacto cultural com os professores, vindos de Londres, deixaram-me sempre curiosa para conhecer e contactar mais de perto com Inglaterra.

O ballet, para mim, nunca foi um hobby. Foi muito exigente. O meu tempo livre foi totalmente dedicado a ensaiar e a aperfeiçoar todos os movimentos e coreografias. Exigiu de mim um esforço diário necessário para estar devidamente preparada para os espetáculos e exames que aconteciam no final do ano. Assim foi a minha vida durante 14 anos.

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Tudo aquilo que aprendi, um dia fundiu-se. E o teatro e o ballet, uniram-se em palco quando participei, em Nova Iorque, na peça chamada E.G.G, que fez parte do New York Theatre Festival, em outubro. O nosso papel, enquanto ensemble, foi criar um cenário vivo que interagia com as personagens de várias formas, para criar fogo, vento, árvores,… Foi uma performance incrível e uma das minhas preferidas, até hoje.

Aos 17 anos vais para Londres, é para lá que vais para a universidade… Como é que surge Nova Iorque na equação?

Candidatei-me à universidade com apenas 17 anos, para estudar teatro em Londres. Apesar de muito nova, sempre soube muito bem aquilo que queria. Depois de muito trabalho a preparar a documentação, as audições, os exames de Inglês e mais uma série de provas exigidas para ser admitida, consegui entrar na Middlesex University e obter um BA em Theatre Arts, com uma duração de três anos.

Londres era o meu sonho, sempre tive um grande fascínio pela cidade, mesmo antes de a visitar. Depois de admitida, para mim, tudo passou a ser possível de ser concretizado. No final do primeiro ano, ganhei uma bolsa, por ser uma aluna avaliada com Distinção e tive a grande oportunidade de ir fazer o segundo ano em Nova Iorque, na Baruch College.

Eu sabia que Nova Iorque iria surgir na minha vida mais cedo ou mais tarde, mas nunca pensei que fosse aos 19 anos. Foi uma experiência totalmente diferente da de Londres, tive de abdicar de um conforto e estilo de vida, que já tinha em Londres, porque em Nova Iorque, apesar da bolsa de estudos, todas as outras despesas eram a cargo dos meus pais. Foi lá que realmente percebi o quanto a vida é difícil e o quanto tive de abdicar. Mas também foi em Nova Iorque que mais cresci e aprendi. A cidade ensinou-me a lutar e a reinventar. Aprendi a não desistir e a ser vencedora de pequenas, mas grandes conquistas. Venci os meus medos e inseguranças, amenizei a solidão tão presente no coração de todos aqueles que estão longe da família.

Acabas o curso e decides voltar a Nova Iorque. Porquê?

Hoje estou em Nova Iorque, porque a sinto como a minha cidade, embora Londres permaneça para sempre no meu coração. Quando estive lá a estudar tive de vir embora dois meses mais cedo do que o previsto devido à pandemia. Senti que tinha deixado muita coisa para fazer, por explorar, por viver. Nova Iorque é uma cidade incrível, cheia de pessoas sonhadoras, que deixaram o seu conforto, para lutarem por si. A energia envolvente é surreal, as pessoas trabalham de dia e de noite. É a cidade que nunca dorme. Dizem que é o sonho americano. Ainda estou a tentar decifrar o que quer isto dizer. Viver nos EUA, por si só, não é uma vida fácil, como imigrante muito menos. Nova Iorque é a cidade dos sonhos e eu voltei para conquistar o meu.

Como é que os teus pais viram essas decisões?

Os meus pais sempre viveram em função de mim e do meu irmão. Sempre quiseram o melhor para nós. O importante sempre foi a nossa felicidade. Ao contrário de outras realidades, em que os pais não apoiam os filhos a seguir a suas vidas artísticas, porque desejam que eles sejam médicos ou advogados, os meus pais quiseram apenas que eu fosse feliz. Os meus pais foram o meu pilar principal para que o meu percurso fosse rumo quer a Londres quer a Nova Iorque. Investiram sempre em mim, na minha vida, na minha formação. Fizeram com que eu tivesse todo o sucesso que tive na minha vida académica e agora na minha vida profissional. Foi graças ao seu apoio e sacrifícios que tive a possibilidade de sonhar.

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Por isso, sinto-me uma privilegiada. São, sem dúvida, a minha estrelinha da sorte. Sem eles, sem a educação que me deram e os valores que me transmitiram não estava onde estou hoje, nem me tinha tornado, com apenas 22 anos, numa mulher independente.

Como é o teu dia a dia em Nova Iorque?

O meu dia a dia é alucinante. Sempre a correr de um lado para o outro, ao ritmo da cidade. Entre audições, ensaios e performances, tento sempre ter tempo para mim, seja de manhã, antes de começar o dia, seja quando este está a acabar, indo ao ginásio ou para as aulas de ioga. Durante o fim de semana tento, sempre que posso, aproveitar o tempo disponível que tenho para me aventurar e explorar esta cidade linda. Todas as semanas passam a voar com a adrenalina que a vida de Nova Iorque tem. É fascinante!

Qual é o maior palco e o maior objetivo que gostavas de alcançar?

O palco da minha vida seria a Broadway. Já fiz peças de teatro Off-off-Broadway e já está agendado fazer uma Off-Broadway. Por isso, o próximo passo seria ter o meu Broadway debut. Acho que este é o meu verdadeiro objetivo. Mas, de momento, estou a conseguir concretizar outros projetos. Assim, o meu maior objetivo, hoje, pode ser diferente do de amanhã. Estou focada no presente, naquilo que tenho agora, para que, no futuro, mais oportunidades me possam surgir. Sinto-me muito grata pelas oportunidades que tenho tido e pelas pessoas com quem tenho trabalhado.

Há algum projeto que gostasses de integrar em Portugal e que te fazia voltar para cá?

Gostava de experimentar integrar uma novela ou um filme português para ter essa experiência. No entanto, nunca voltaria para Portugal, de forma permanente, porque não seria feliz. Gosto de viver em Nova Iorque. É um mundo que oferece oportunidades, com uma diversidade imensa de pessoas, países, etnias e culturas. A forma de andar, pensar, falar, vestir é diferente e marcante. É enriquecedor viver numa cidade cosmopolita, com mais de oito milhões de pessoas, onde se aprende todos os dias uma coisa nova, seja no trabalho ou a nível pessoal. Já cresci muito com as histórias e as vivências dos outros. Não quero perder isto.

Como é que sentes que está a área do teatro em Portugal?

Portugal é um país que, neste momento, não oferece aos jovens perspetivas de emprego nem de trabalho. Está mau para todas as áreas. Os jovens passam anos a estudar, investem numa licenciatura e nem isso é, muitas vezes, suficiente para depois terem oportunidades de trabalho. Nas entrevistas de emprego perguntam quantos anos de experiência têm quando estes acabaram de concluir o seu curso. É triste, porque muitos veem-se obrigados a imigrar à procura de uma vida melhor. Eu fi-lo por opção, mas muitos não têm escolha.

A minha área, da representação, é uma indústria onde vemos sempre as mesmas pessoas, as mesmas caras, não há representatividade. Isto acontece, porque, muitas vezes, não temos acesso aos castings. Como podemos mostrar o nosso talento se não nos dão um palco? As próprias agências pedem o Instagram em vez de pedirem uma self tape para verem o nosso trabalho. É revoltante! Temos atores muito talentosos que estudaram e estão a trabalhar em supermercados, porque, infelizmente, não namoram com uma pessoa famosa, porque não conhecem ninguém da indústria ou porque não têm X seguidores no Instagram. Quando os números são mais importantes que o nosso trabalho e talento, o país não nos merece. Algumas pessoas são selecionadas para atores, sem terem a devida formação! Fechem as escolas, então.

Esta indústria é um negócio, sim. Como todas as outras. Mas nós somos pessoas e, como tal, devemos ser tratadas com o devido respeito e consideração e não como números.

Sentes o apoio de Guimarães ou sentes que, por teres saído tão cedo de cá, é quase “como se não te conhecessem”?

Vivi em Guimarães a minha vida toda. Foram 18 anos. Foi a cidade onde cresci e fui muito feliz. Sinto o apoio de Guimarães através das pessoas que me conhecem, daquelas que me viram crescer e das que me querem conhecer e ouvir falar sobre o meu percurso atual.

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Quando te perguntam de onde és, tens orgulho em dizer que és de Guimarães?

Quando me perguntam de onde sou, digo sempre, com orgulho, de Guimarães, onde nasceu Portugal. É nesta cidade que guardo com carinho as minhas memórias de infância e as diversões da adolescência. Parte da minha formação foi feita aqui. Cresci aqui e, por muito que goste de viver em Nova Iorque, Guimarães é a minha casa. Vai ser sempre a minha zona de conforto, o meu lar e o meu porto seguro, a minha pátria. Irei sempre regressar para saborear mais um pouco cada canto, para me recordar dos momentos vividos e para matar as saudades das pessoas que lá vivem, pois o que torna esta cidade tão especial são, sem dúvida, as pessoas que nela habitam. Muito orgulho em dizer que sou portuguesa, mas maior orgulho em dizer que sou vimaranense.

Quando te perguntam sobre a tua cidade, o que é que destacas e como a descreves?

Guimarães é o berço da nação. Vivo e convivo com a saudade de tudo aquilo que a cidade nos oferece – a história, a cultura, a gastronomia, as tradições e o espírito acolhedor que todos transmitem. Quando falo da cidade, refiro-me aos seus encantos, à sua beleza. Descrevo hábitos e monumentos. Desvendo os seus segredos e magia.

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