Bruno Varela: “Quero muito conquistar uma taça”

Entrevista publicada na edição de junho da revista Mais Guimarães.

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Bruno Varela, de 27 anos, vinculado ao Vitória até 2024, reiterou o desejo de cumprir contrato e de deixar o seu nome na história do clube. Na conversa mantida com o Mais Guimarães, o guarda-redes falou do seu passado, do presente e do futuro.

© Cláudia Crespo / Mais Guimarães

Começo esta conversa com uma frase que li nas suas redes sociais e que diz que o caminho para o sucesso está sempre em construção. O que é que lhe falta atingir na vida, na carreira e no Vitória?

Ainda falta muita coisa. Independentemente do que já tenhamos atingido, tanto coletivamente como individualmente, acho que há sempre mais por atingir. Há jogadores que já ganharam cinco vezes a Liga dos Campeões e dizem que querem mais. Por isso, é continuar a construir esse caminho e, como neste momento represento o Vitória, será sempre com o espírito de querer sempre mais vitórias e, se possível, tentar conquistar um título. Seria bom e importante para nós jogadores e para as pessoas do Vitória e de Guimarães.

A questão do título é o capítulo que falta nesta sua história no Vitória?

É algo que eu gostaria muito e nunca escondi isso. A realidade do Vitória não é lutar pela liga, mas pelas taças acho que é legítimo o Vitória pensar muito nisso. É um clube que, pela massa adepta que tem e pela estrutura, tem de pensar nisso. E nós temos sempre essa ideia. Infelizmente, nestes dois anos, não conseguimos chegar longe. Foi muito curto o que fizemos na Taça de Portugal. Na Taça da Liga até tivemos um percurso interessante e, contra o Benfica, foi por uma unha negra. Mais 10 minutos de jogo e conseguíamos fazer mais um golo e marcar presença na Final-Four. Não escondo que quero muito conquistar uma taça. Seria muito bom para mim, para a equipa e para os adeptos.

“Há vontade de mostrarmos qualidade na Europa”

Bruno Varela

Na próxima época que está prestes a começar é o regresso do Vitória às competições europeias. Há uma grande ansiedade?

Uma ansiedade normal. Era um objetivo que tínhamos e, felizmente, conseguimos concretizar. É bom ter o Vitória de volta àquele que é o seu lugar e é algo que tem de ser habitual. Tem de existir esse hábito e essa estabilidade de o Vitória ter a oportunidade de competir sempre nas competições europeias. Há vontade de mostrarmos qualidade na Europa, mas vai ser um caminho difícil. São seis jogos até chegar à fase de grupos, vai ser complicado, e temos de demonstrar que realmente merecemos lá estar.

Mesmo com uma aposta em jovens jogadores, é correto pensar que o objetivo será melhorar a classificação da época passada?

Claro que sim e é uma boa aposta do Vitória. Os jovens jogadores já demonstraram que têm capacidades e qualidades. A meu ver, tem de haver um misto também de jovens jogadores com qualidade e de jogadores mais experientes. Será sempre o ideal. Os jogadores têm qualidade e já o demonstraram. Depois, é uma questão de entrosamento com todos para que as coisas possam correr bem.

Esta aposta do Pepa nos jovens é uma lufada de ar fresco no futebol nacional?

É muito importante nós valorizarmos aquilo que temos em Portugal. Sou defensor que se deve ir buscar jogadores fora, mas só se forem melhores dos que estão cá dentro. Se tens talento cá, porquê ir buscar um jogador fora? Para mim não é justificável. Gosto muito das apostas nos jovens, já fui jovem, e gostava de ter tido mais oportunidades quando era mais novo. Os jovens, se têm qualidade, têm de ser aposta.

No Vitória, de forma espontânea, já chegou à seleção. Pergunto-lhe se o objetivo será chegar de forma definitiva.

É sempre um objetivo e nunca tiro o olho da seleção. E é legítimo para mim pensar nisso, tendo em conta que estou a representar um grande clube. Depois, cabe-me a mim provar dentro de campo. Já lá estive e tenho noção que tenho nível para lá estar. Mas também tenho noção que os guarda-redes que têm sido chamados estão a dar muito bem conta do recado. Temos um leque muito alargado de guarda-redes que podem estar lá. Há vaga para três, mas somos seis ou sete que podem estar lá. Cabe-me trabalhar bem no clube para poder merecer outra chamada à seleção.

Ainda se arrepia quando entra em campo e ouve o hino?

É sempre especial. Embora seja um clube com muitas particularidades, acho que o hino é algo muito simbólico aqui. Quando entramos em campo e vemos as pessoas com os cachecóis no ar e a cantar, é algo muito simbólico para nós jogadores. E arrepia.

As câmaras ainda não apanharam a cantar. Vai arriscar para o ano?

É melhor não, pois ainda me posso enganar em alguma parte (risos). Mas acho que já sei, embora também tenha a ajuda da letra que passa nos ecrãs. Mas nunca arrisquei. Um dia posso arriscar. Acho que consigo.

O Bruno tem contrato até 2024. Para cumprir a sua aventura aqui em Guimarães até essa data?

Sim, tenho contrato. A intenção é cumprir o contrato, mas o futebol é sempre muito imprevisível. Acho que um jogador nunca tem de fechar as portas de nada e temos que ser reais com aquilo que é a realidade do futebol. Mas a minha intenção é ficar. Quero continuar e aproveitar esta oportunidade de podermos competir na Conference League e chegar à fase de grupos. Como já disse, quero muito marcar o meu nome no Vitória. Conquistar uma Taça ou fazer uma classificação fora do normal, acho que era algo importante. Tenho esse objetivo e a minha intenção é de ficar.

Segundo li, era um menino introvertido e agora já é um dos elementos que mais alegria partilha no balneário juntamente com Rochinha. Pode confidenciar em algum episódio engraçado?

Não sei. Acho que é difícil dizer um episódio, pois já tivemos tantos. Principalmente o Rochinha que é o jogador mais palhacinho. Tem muita seriedade dentro do campo, é um capitão que nos tem liderado de uma maneira muito boa e séria, mas fora do campo é o Rochinha que toda a gente conhece. Não me consigo lembrar de um episódio, mas contribuiu muito para o bom ambiente, principalmente para os jovens que vêm de baixo. E isso ajuda muito na adaptação. Nesse capítulo, eu e o Rochinha tentamos ser os palhacinhos, porque achamos que ajuda na adaptação. Depois também temos o nosso lado sério, quando temos de o ser.

“Guimarães é uma cidade diferente, especial, muito acolhedora e com pessoas muito simpáticas” 

Bruno Varela

Curiosamente foi o primeiro a sair em defesa do Rochinha na recente visita ao Boavista e as soluções para combater determinados comportamentos parece não existirem. Sendo os jogadores alvos fáceis, o que é que se pode fazer para combater este tipo de comportamentos?

Na minha opinião tem de haver punições graves e que façam as pessoas realmente pensar que, se voltarem a fazer, vão voltar a ter uma punição ainda mais grave. Revoltou-me muito não ter havido nenhuma punição, pelo menos até agora. O Vitória fez bem em sair em defesa do Rochinha. Mas acaba por ser tudo muito pobre se não houver uma punição da liga. A verdade é essa. Podemos sair em defesa do Rochinha, um dos nossos, mas se não houver uma punição da liga poderá voltar a acontecer.

Não foi a primeira, nem a segunda vez que aconteceu. E, até agora, não houve nenhuma punição. Que punições? Talvez multas pesadas, jogos à porta fechada, ou fazer com que os adeptos não possam comparecer aos jogos. Foi muito grave. Dentro de campo, ouvi bem aquilo que estavam a dizer. O Rochinha é um dos nossos, mas ninguém merece passar por isto. Há várias maneiras de ofender e atingir os jogadores, mas é um caminho que é completamente desnecessário.

© Cláudia Crespo / Mais Guimarães

Já falámos do Vitória, mas ainda não falámos de Guimarães. O que nos pode dizer?

Guimarães é uma cidade diferente, uma cidade especial, uma cidade muito acolhedora e com pessoas muito simpáticas. É muito bom. E o fato de ter sido a terra onde nasceu Portugal o do rei D. Afonso Henriques, torna a cidade muito especial. Estou contente e também fiz questão de viver em Guimarães. Acho que é importante também estarmos a jogar num clube e viver na cidade, pois permite sentir mais aquilo que é o ambiente e as pessoas.

A vida nem sempre foi fácil. Recuando um pouco ao seu passado e à sua infância, as dificuldades financeiras foram uma realidade e não havia luxos. O Bruno Varela de hoje é um reflexo do que são os seus pais?

Sem dúvida, principalmente por aquilo que foram os princípios que eles sempre me passaram. Nunca foi fácil, houve muitas dificuldades, mas acho que era uma altura que se pensava muito mais nas soluções e menos naquilo que eram os problemas. Foi uma infância com dificuldades, mas acima de tudo muito feliz. O que eu tiro de melhor é a felicidade que tinha enquanto era miúdo, com os amigos que tinha e a família que esteve sempre unida. As dificuldades servem para nos fortalecer, como era antes, como é hoje e vai ser sempre assim.

Cresceu sem playstation e computador. Acessórios que não o impediram de ser feliz?

Passava muito tempo na rua a jogar à bola, às escondidas, às apanhadas e aos berlindes. Qualquer brincadeira servia para não ficar em casa. Nunca precisamos de computadores e playstations para sermos felizes e para ter o nosso tempo ocupado.

Na altura da infância alguns dos seus amigos tomaram decisões erradas. É correto pensar que o futebol salvou o Bruno Varela?

Não usava a palavra salvar, porque acho que é muito forte. Mas de certa forma o futebol ajudou muito, porque cresci num bairro onde o acesso a drogas sempre foi muito fácil. Mas sempre tive uma proteção muito grande das pessoas da minha zona, pois sempre me viram como o futuro do bairro. Mas a verdade é que nunca quis experimentar. Sempre fui uma pessoa muito lúcida. Aliás, mesmo as pessoas que infelizmente escolheram os maus caminhos, foram os primeiros defensores nesse aspeto e não me deixaram que me perdesse. Depois, houve um momento muito importante, quando o Benfica decidiu que eu tinha de ir para o centro de estágio. Isso foi algo que me ajudou muito e não sei o que seria se tivesse continuado no bairro. Ajudou muito a continuar focado naquilo que eu realmente queria.

É pai do Diego, de sete anos. Todas essas experiências ajudam o Bruno a ser um melhor pai?

Sem dúvida. Tudo aquilo que eu passei, eu faço tudo para que ele não passe. E tento dar sempre melhor ao Diego. O meu passado fortaleceu-me e tenho a certeza que os meus pais sempre me deram aquilo que conseguiram e aquilo que puderam. Eu tento passar um bocado isso. Falo muitas vezes com o Diego e faço-o valorizar sempre as pequenas coisas que eu não tinha e que ele hoje tem. Vai crescer com amor, carinho e com responsabilidade. Tem que perceber que nada na vida é fácil e que tudo tem que se conquistar.

O Diego já tem consciência de quem é o pai na vida?

Já tem muita e é engraçado porque ele já percebe muito. Fui pai muito novo e felizmente encontrei a pessoa certa que me deu a melhor prenda que eu poderia ter, que é o Diego. Um dos objetivos de ser pai novo foi para que ele pudesse acompanhar realmente a minha carreira. Estou com 27 anos, ele tem sete, e tem noção de tudo o que se passa. Ele diz que é do Vitória, que adora vir ao estádio e já canta algumas partes do hino. Na rua, muitas vezes as pessoas abordam e pedem fotografias e, na escola, sabem que o pai é o Varela.

“Nunca precisamos de computadores e playstations para sermos felizes”

Bruno Varela

Mas ele ainda não decidiu se quer ser guarda-redes?

É verdade. Ainda está um pouco confuso. Eu ainda não consegui perceber realmente aquilo que ele quer, mas tem liberdade para escolher, seja no futebol ou noutra modalidade. Irei sempre apoiá-lo sempre naquilo que ele quiser ser.

Para quem queria ser avançado, o recuo para a baliza acabou por resultar para o Bruno?

É verdade. Quando somos miúdos ninguém quer ir à baliza. São raros os miúdos que querem ir à baliza e todos nós queremos fazer golos e assistências. Felizmente, percebi muito cedo que o meu sítio era na baliza. Felizmente, as coisas têm corrido bem.

© Hugo Marcelo / Mais Guimarães

A última defesa no estádio do Bessa acabou por ser o festejo de um golo?

Foi uma boa defesa, principalmente por ter sido o último lance. Houve algum demérito também na maneira como ele chutou, porque quase que falha o remate, mas depois houve muito mérito também da minha parte. Fiquei feliz por ter conseguido evitar um golo no último lance.

E lá por casa ainda é o Bruninho ou a expressão Bruno Miguel aparece de vez em quando?

O Bruno Miguel aparece quando a minha mulher quer dizer-me alguma coisa que eu fiz de errado. Sai sempre um Bruno Miguel. O Bruninho é com a minha mãe. Mas, como na família tenho um tio que também é Bruno, eu sou o Bruninho.

Bruno Lage achou que você era parecido com o Eddie Murphy. Tem a mesma opinião?

Já me disseram isso várias vezes e o Bruno Lage foi dos primeiros a dizer-me isso na altura. Muita gente diz isso e então acaba por ser verdade. Vejo algumas semelhanças. As pessoas não dizem só por dizer e há parecenças, sem dúvidas.

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