Café Oriental: Os principais protagonistas de Guimarães? As escolas

Por Francisco Teixeira.

© Francisco Teixeira

Por Francisco TeixeiraDemasiadas vezes as escolas básicas e secundárias são entendidas como prestadoras de meras funções de assistência social e certificação escolar ou profissional (outras tantas vezes às escolas básicas e secundárias são atribuídas todas as funções sociais, económicas, morais ou metafísicas!). Esta visão da escola, meramente instrumental e prestadora de serviços é perigosamente reducionista a vários títulos. É reducionista porque esquece, por mais estranho que isso seja, a sua função eminentemente transmissora e criadora de conhecimento mas, também, a sua função política, no sentido em que as escolas são, enquanto organizações, agentes políticos com o saber/dever de intervenção pública e política.

As funções de transmissão e criação de conhecimento das escolas são as suas funções essenciais e primeiras. As escolas existem, antes de tudo o mais, para garantir que as crianças e jovens são dotadas de um manancial cultural e instrumental capaz de as prover de capacidades interpretativas do mundo, por um lado, e saberes operativos suscetíveis de as relacionar ativamente com o trabalho e a ação económica, por outro. Uma coisa sem a outra, saberes instrumentais sem saberes interpretativos, saber fazer sem perceber, por via de conhecimentos técnicos, científicos e culturais profundos, para que servem e o que visam esses saberes instrumentais, não pode senão produzir alienação pessoal, social e política, com o seu manancial de problemas e patologias psicológicas, sociais e políticas. Quem não é capaz de um poder mínimo de autoidentificação, ou não sabe em que mundo vive, para que vive e para que trabalha, estará provavelmente à disposição, mesmo sem saber, da mais intensa alienação comunicacional e política.

Para além desta função primeira, permitir o acesso generalizado ao conhecimento e ao saber fazer, as escolas, e dentro delas muito especialmente as professoras e professores, têm responsabilidades sociais e políticas, deveres ético-políticos para com as suas comunidades mais próximas, mas também para com o país e a humanidade.

As escolas são, e também em Guimarães, dos principais agentes sociais e políticos, e não apenas indiretamente, através da educação das suas crianças e jovens, mas diretamente através de um manancial gigantesco de ações pedagógicas, culturais, científicas e políticas que interrogam e interpelam diretamente a cidadania, a vida ética, o debate ecológico, o debate político, a vida estética, a pertença e a diversidade cultural.

As escolas básicas e secundárias de Guimarães são, hoje, dos principais agentes culturais e políticos do município, sobretudo por via do trabalho dos seus professores (incluindo as suas direções, tantas vezes ensanduichadas entre as exigências absurdas da tutela e as pulsões pedagógicas dos professores) mas, também, ainda que enquadrados por aqueles, por via da energia cívica e criativa dos seus alunos, muitas vezes acompanhados pelas próprias famílias.

As escolas, os seus professores e os seus alunos não são, entre nós, sujeitos meramente passivos das derivas administrativas ou de visões meramente instrumentais da educação pública. Muito mais que arrecadações ou fábricas de certificação, as escolas de Guimarães são, talvez, de modo sistémico, o principal protagonista da vida local, vitalizando o tecido cultural, político e científico de modo decisivo, ainda que através de uma lógica de invisibilidade social que passa por uma ética de serviço público diluída na tessitura social fina, mas que orienta a sua vida profissional de todos os dias, quase sem horários ou dias de semana, e certamente sem parangonas televisivas ou jornalísticas.

Se um sistema económico pulsante é decisivo, se um sistema cultural é importante, se um sistema político democrático livre e culto é essencial, se sem uma imprensa livre nada é possível, Guimarães não viveria sem um sistema educativo com professores ética e politicamente comprometidos com a cidadania científica, estética, cultural, pedagógica e democrática. Sem as suas professoras e professores, sem as suas escolas, não se sabe, sequer, o que Guimarães seria.

Quem não deu por ela do protagonismo social e político das escolas e dos professores ou, pior ainda, acha que as escolas e os professores como agentes da transformação social se acabaram, está bem enganado. Pelo menos em Guimarães.

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