Cem anos de Vitória

Por César Teixeira.

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Por César Teixeira.

Este é o ano do Centenário. Uma data simbólica na História desta notável instituição. Que deve ser aproveitada para recordar o passado. Para intensificar o presente. Mas também para projetar o futuro.

O Vitória está presente na minha vida desde que me conheço. Recordo-me das tardes em que, acompanhado do meu avô, assistia a treinos no Municipal. Tenho bem presente os jogos de domingo à tarde e os relatos. Recordo muito vagamente o meu primeiro ídolo: Abreu. Da vitória sobre o Aston Villa e do golo de Gregório Freixo. Recordo uma vitória mítica por 4-1 ao Benfica, com um fabuloso golo do Paulo Ricardo. Com um onze recheado de juniores. Recordo o saudoso Jesus. Recordo Paulinho Cascavel, N`Dinga e Ademir. Lembro o ano em que a seleção nacional chegou a ter no seu onze inicial seis jogadores do Vitória. Lembro a presença na Arquibancada do velhinho Estádio das Antas, onde tive o privilégio de assistir a um jogo inesquecível. Recordo a epopeia na Europa, eliminando clubes como o Sparta de Praga ou o Atletic Madrid. Uma época mítica. Que perdura e perdurará na memória coletiva dos vitorianos e vimaranenses. Recordo aquele famigerado jogo em que poderíamos ter contribuído para a descida de divisão do Braga, mas em que por razões que a emoção desconhece optámos por passivamente aguardar o final do jogo sem procurar o golo.

Não me esqueço do ano de todos os sofrimentos. Em Barcelos. Em Paços. A eliminação em Setúbal da meia final da Taça de Portugal. Pese embora o cordão humano, ao fim de décadas consecutivas na Primeira Divisão descemos. Relembro sob tortura, o ano em que tínhamos de encontrar as referências ao Vitória na página dedicada à Liga de Honra. O inverno foi duro, mas curto. Recordo a alegria da subida. Em Gondomar. Do regresso à Primeira Liga. Da fantástica campanha no ano subsequente, que permitiu a disputa da pré-eliminatória da Liga dos Campeões. Do golo anulado em Basileia.

O Vitória está na memória dos vimaranenses. É incontornável na vida local. Quem vive em Guimarães sabe que o Vitória mexe com Guimarães. Mesmo quem vive em Guimarães e não seja simpatizante do Vitória, quer queira, quer não queira, acaba a viver e a debater a vida do clube, nas suas vertentes desportiva e associativa. Mas esta data simbólica pode e deve ser o momento para refletir: que Vitória queremos para os próximos 100 anos?

O Vitória tem vivido períodos de enorme instabilidade financeira. Ora estamos a caminho do precipício. Adotamos posturas espartanas. Avançamos com planos de reestruturação. Ora, entramos em caminhos de loucura. Aumentando de forma exponencial as despesas correntes. Efetuando contratações incompreensíveis e a rodos. Antecipando de receitas. O facto de não haver estabilidade diretiva contribui para esta montanha russa financeira. É imperioso a adoção de cláusulas travão ao nível financeiro. Com previsão nos documentos constitutivos. Que inibam loucuras. Que responsabilizem direta e pessoalmente quem não efetuar uma gestão responsável dos recursos coletivos.

Hoje o Vitória não está sozinho na Região. Até ao ano 2000 éramos de longe o clube com melhores resultados desportivos. Infelizmente o Sporting de Braga cresceu de forma exponencial. Temos o Famalicão a consolidar a sua posição. O crescimento desses clubes é o espelho do crescimento das próprias Cidades e da estagnação relativa de Guimarães. Para além da frente externa, temos de contar com clubes como o Moreirense. O Vitória está em competição ativa e próxima por um lugar ao sol. Esta nova realidade justifica uma postura muito mais ativa em termos de projeção da marca Vitória e de conquista permanente de novos adeptos.

E aqui teremos de ter em atenção a nova realidade demográfica. Infelizmente, a natalidade está a cair. Ao invés, temos o incontornável fenómeno da imigração para compensar. Os órgãos sociais do Vitória devem procurar envolver os imigrantes. A envolvência destas pessoas e das novas gerações será fundamental no futuro. Sem esquecer que teremos de continuar a assegurar uma relação de proximidade com os nossos emigrantes. Assegurando forte partilha de informação nas redes sociais, sabendo-se que a mobilidade que hoje caracteriza o mundo pode compensar o distanciamento físico.

Para crescermos temos de trabalhar a marca Vitória. Temos de nos distanciar de fundamentalismos que desgastam a nossa imagem ao nível nacional. O Vitória tem de ser paixão, mas também tolerância e inclusão. Todos cabem no Vitória. Não podemos ter medidores de vitorianismos. Qualificando ou desqualificando quem gosta mais ou menos do Vitória. Não podemos afastar terceiros apenas porque não o sentem como nós. Só com tolerância poderemos conquistar e incluir. Só assim poderemos crescer.

Teremos também de refletir sobre o modelo de clube. E tomar as respetivas opções. O futebol nos tempos modernos é uma indústria. Incompatível com amadorismos e modelos de governação anacrónicos. Se quisermos continuar com uma empresa a ser gerida por uma associação, teremos de prosseguir com o atual modelo. Com a consciência de que não poderemos com velhas receitas aspirar a resultados diferentes dos alcançados até aqui. Se quisermos dar o salto teremos de mudar radicalmente a estrutura societária e empresarial do Vitória. A decisão competirá aos vitorianos. Num mundo moderno e global não poderemos continuar a ser a “aldeia gaulesa” a resistir ainda e sempre ao invasor. Melhor, até poderemos. Mas se optarmos por essa realidade não poderemos querer “sol na eira e chuva no nabal”. Continuaremos únicos, mas sempre isolados e limitados no crescimento.

Se nasci vimaranense e cresci vitoriano, não tenho dúvida de que morrerei vitoriano. Neste ano do centenário gostaria de recordar e viver o passado, mas também de aproveitar e discutir sobre as bases em que assentarão os próximos 100 anos do Vitória. Para que os meus netos possam estar, daqui a 100 anos, a festejar o bicentenário do Vitória. Longa vida ao Vitória.

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