Comerciantes dividem-se quanto à pedonalização do centro histórico
Comerciantes auscultados pelo Mais Guimarães têm opinião diferente à da ACTG.

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As opiniões dividem-se. A futura pedonalização do centro histórico será favorável ou desfavorável aos negócios que se encontram instalados nessas mesmas ruas? Quer tenham a porta aberta há décadas ou apenas há alguns meses, a verdade é que a grande maioria dos comerciantes vimaranenses têm uma forte posição relativamente ao tema.

Recordamos que as ruas que serão diretamente afetadas pelo corte de trânsito são a alameda S. Dâmaso, Toural, rua Santo António, rua da Rainha, rua Egas Moniz, largo Condessa do Juncal, rua Gil Vicente e rua Paio Galvão.
As opiniões dos lojistas com espaços nestas mesmas ruas foram refletidas num abaixo assinado da Associação de Comércio Tradicional de Guimarães (ACTG), entregue ao presidente da Câmara Municipal de Guimarães. Das 179 assinaturas de comerciantes recolhidas, apenas oito se mostraram de acordo com o corte ao trânsito e dois mostraram não ter opinião.
Ainda assim, foi possível concluir que há um número de comerciantes a favor da pedonalização acima daquele que foi mencionado pela associação. Foram vários os comerciantes que preferiram o anonimato, devido ao facto de a sua opinião ser contrária aos restantes.
“Não sou nada contra, desde que haja forma de as pessoas virem aqui. Acho que será muito benéfico porque será uma zona de passeio dos carrinhos de bebé, das crianças, que podem correr e brincar pelas ruas”, frisou um lojista que possui um negócio há seis anos. Concorda ainda com as alterações ao nível dos passeios, mas chama à atenção para “as chuvas” e a necessidade de “uma boa drenagem”.
Questionado se esta transformação poderá afetar diretamente o seu negócio pela negativa, responde sem hesitação: “Não, acho que até é capaz de vir a beneficiar”.
A justificação não tarda e remete para os constrangimentos que se fazem notar há anos. “As pessoas colocam os carros em cima dos passeios. Depois vem a polícia e é muito aborrecido. Os camiões param a qualquer hora e é um pandemónio. Ou seja, se houver hora certa de cargas e descargas, presumo que seja muito viável”, acrescentou.
Mencionando os exemplos de Barcelona, Braga, Madrid, Porto e Lisboa, diz concordar que Guimarães dará um salto qualitativo com a decisão tomada pela autarquia.

Também da rua da Rainha chegam opiniões que sustentam a mesma visão. “Tenho uma opinião bastante diferente daquilo que dizem ser a maioria”, explicou ao Mais Guimarães como motivo para não querer identificar-se a si próprio ou ao negócio que representa.
Uma outra lojista, que já teve o seu negócio noutro ponto chave da cidade, garante que está “completamente de acordo”, independentemente da localização do espaço comercial.
“Nas grandes cidades, os centros históricos não têm trânsito”, começa por explicar, garantindo que não faz parte do leque de comerciantes auscultados pela ACTG.
“Vemos pessoas todos os dias aqui a tirar fotografias que não estão nada a contar com a circulação automóvel. As pessoas não estão habituadas a isso. Se nos outros centros históricos não há trânsito, porque é que a cidade Guimarães tem?”, questionou.
Defendendo que a circulação automóvel deverá ser permitida num determinado horário predefinido, garante que “há muita gente que não mede a velocidade a que circula” e que já presenciou “verdadeiros sustos”.
Um outro empresário da restauração que se mostrou a favor do fecho ao trânsito já tem algumas ideias de como o seu negócio poderá beneficiar com a decisão. O alargamento dos passeios poderá ser sinónimo de uma extensão dos espaços exteriores, o que representará um aumento do fluxo de clientes para as esplanadas.
“Desde que o processo seja feito de forma organizada, acho que pode ser benéfico. Pode aumentar o fluxo de pessoas e o número de lojas aqui no centro”, disse ao Mais Guimarães, expressando algumas preocupações quanto à recolha do lixo e às cargas e descargas.
A seu ver, os parques de estacionamento existentes na cidade-berço são “suficientes”, mas lamenta que não haja regalias para os comerciantes, à semelhança do que acontece com os moradores.
Defende ainda uma “maior atratividade”, uma vez que, “ao domingo, que é quando as pessoas mais passeiam, a grande maioria das lojas estão fechadas”.

“Morte ao comércio local”
E se há quem defenda a pedonalização do centro histórico, também há quem queira travar a decisão “com unhas e dentes”. Uma lojista confessou ao Mais Guimarães que “a cidade está parada, parece uma aldeia, e não há muito a fazer pelo comércio local”. Pela sua experiência, aquilo que salva o negócio são “os saldos, a Black Friday e, claro, o Natal”.
No seu parecer, o corte ao trânsito representa a “morte ao comércio local”, o que diz ter sido recentemente comprovado pelas mais diversas iniciativas em que a passagem automóvel foi condicionada.
A mesma opinião é partilhada por outra lojista da rua de Santo António. Com um público-alvo pouco jovem, garante que “se as pessoas não puderem estacionar à porta, simplesmente optam por não vir”.
“As vendas vão quebrar imenso, não tenho dúvidas disso. A pedonalização vai implicar obras. As obras em Guimarães demoram largos meses, tal como aconteceu na Mumadona. Vamos ter que fechar as montras e não vai ser fácil”, adiantou.
Relativamente ao estacionamento, garante que “todos os parques estão sempre cheios” e aqueles que estão mais livres “tornam-se inacessíveis às pessoas com mobilidade mais reduzida”.
A seu ver, os jovens consumidores prefere fazer compras online e saem cada vez menos à rua para fazer as suas compras. “Não é este projeto que vai influenciar isso”, finalizou.
Por último, a lojista teceu ainda algumas críticas à ACTG, alegando “falta de coerência” devido ao apoio à organização de eventos privados que também provocam o corte ao trânsito.
“Como cliente a opinião é uma, como comerciante é outra”
Uma outra lojista confessou ao Mais Guimarães estar relutante relativamente à decisão do corte ao trânsito. “Quando venho às compras à cidade, venho no sentido de passear, visitar as lojas no Toural e passar tempo. Mas isso sou eu como cliente, como vendedoras vemos outros parâmetros”, revelou.
A sua colega de loja adiantou que as principais reclamações dos clientes se referem à “falta de estacionamento na cidade” e evidencia que “os clientes estão habituados ao facilitismo de terem sempre lugares à porta”, algo de que não querem abdicar.
No que à dinamização do espaço público diz respeito, adiantou que estas iniciativas não representam diretamente um maior fluxo de clientes em loja. E dá exemplos: “Falamos por experiência própria. Não tivemos quase clientes nenhuns na loja. As pessoas vêm para o evento e não entram no comércio. Pelo menos estes últimos não foram destinados ao nosso público-alvo”, acrescentou.
A mesma opinião é partilhada por alguns comerciantes da alameda São Dâmaso. “Este sábado, a rua esteve cortada nesta zona e complicou um bocado o movimento. As vendas não andam boas, mas isto não nos ajuda”, frisou, acrescentando que, ao final do dia, quando a rua abriu, se notou imediatamente um aumento de pessoas nos passeios. A seu ver, a pedonalização deve avançar assim que “a cidade estiver preparada para isso”.