CONVERSAS DE VERÃO
ANTÓNIO ROCHA E COSTA Analista clínico
por ANTÓNIO ROCHA E COSTA
Analista clínico
Chegou finalmente o Verão e foi inaugurada a Silly Season, a avaliar pelas principais manchetes dos jornais que, por estes dias, nos falam dos estacionamentos da Madonna ou da fartura de roedores a passear no Centro Histórico de Guimarães, disputando o medievo espaço com os turistas, igualmente abundantes.
Dada a dificuldade em arranjar assunto importante, vou tentar discorrer sobre temas mais leves, que se coadunem melhor com os dias quentes e longos e que possam ser vertidos para papel, enquanto o escriba vai refrescando a garganta com um fininho, acompanhado dos inevitáveis tremoços.
Já lá vão alguns anos, fui convidado na qualidade de director de um jornal cá da terra, que não resistiu à voragem dos tempos, para uma cerimónia comemorativa da “implantação da República”. Ao almoço, fiquei “entalado” entre uma conhecida figura autárquica vimaranense e um ilustre convidado, que havia lançado um projecto cultural lá para os lados do Alentejo e que fora em tempos, tal como o nosso autarca, deputado à Assembleia da República.
Recordando tempos passados, o autarca vimaranense perguntou ao convidado, o que era feito de um companheiro comum, dos tempos da Assembleia, que ocupava na altura em que se desenrolara a conversa, o cargo de presidente de Câmara, numa pequena autarquia Alentejana, com cerca de 10 mil habitantes, sendo que uma boa parte eram funcionários da referida autarquia.
“Está a fazer um excelente trabalho”. – respondeu o convidado alentejano – “já concluiu o saneamento básico, a rede de abastecimento de água, construiu um pavilhão multiusos, uma piscina e meia dúzia de rotundas e agora só lhe falta desenvolver projectos de índole recreativa e cultural.
Entretanto – continuou – já foi reeleito várias vezes para o cargo e a população está muito contente.
“Pudera!” – exclamou o interlocutor, rematando com a seguinte tirada, mais digna de uma monarquia, do que da República, cujo dia se comemorava: “Com um território pequeno e pouco populoso, mais parecendo uma família, não é difícil governar e agradar ao povo e se ele tiver juizinho nunca mais de lá sai”. Recorde-se que na altura ainda não existia limitação de mandatos.
Passados estes anos todos, é esta a filosofia que continua a nortear a actuação da maioria dos autarcas e que se resume na conhecida expressão “pão e circo”. Depois de concluídas as infraestruturas básicas e de se providenciar pela sua manutenção, há que entreter os súbditos com feiras medievais, noites brancas, concertos musicais e ecrãs gigantes instalados nas praças para transmitir os jogos do mundial de futebol, enquanto uma orquestra, num palco instalado no mesmo local, debita em simultâneo umas notas de Jazz, como aconteceu na passada sexta-feira no Largo da Oliveira.
Quanto aos ratos, ou a Câmara cria um espaço para os acolher, ou seja, um ratil, ou poderão sempre ser adoptados pelos residentes como qualquer animal doméstico, em nome da não discriminação da bicharada.
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