Crónica dos dias quietos em seis capítulos

Por António Rocha e Costa.

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por António Rocha e Costa Analista clínico

1 – Por estes dias o tempo fica suspenso, fazendo-me lembrar os célebres relógios moles com o tempo a derreter do famoso quadro de Salvador Dali, intitulado “A persistência da memória”.

Memória que nos remete para um diálogo que teve lugar algures numa base naval americana no Pacífico, durante a Segunda Guerra Mundial. Ali, também o tempo passava lento e os marinheiros morriam de tédio, preenchendo grande parte do dia a perscrutar o Oceano em busca de navios inimigos. Eis senão quando um sargento se aproxima do marinheiro que está de vigia e lhe pergunta: Que horas são? Ao que o marinheiro responde: “Fevereiro, meu sargento!…”.

2 – O aproveitamento dos símbolos da nacionalidade para fins políticos tem sido uma constante ao longo da nossa História: Salazar e Carmona usaram o Castelo de Guimarães e a estátua de D. Afonso Henriques para discursar e colocar um ramo de flores, aquando das faustosas cerimónias comemorativas dos centenários, em 1940, numa altura em que o regime necessitava de um sopro reanimador. A seguir ao 25 de Abril, lembro-me de um comício da AOC (Aliança Operária e Camponesa), partido que tinha por símbolo precisamente o Castelo de Guimarães, o qual teve lugar no Campo de S. Mamede, tendo terminado com a assistência opositora a arremessar pedras. Mais recentemente, em plena campanha eleitoral para as Presidenciais, foi André Ventura e a sua comitiva, que resolveram ir em romagem até à estátua do rei fundador, quiçá para ganhar inspiração, não para combater a moirama que já rareia por terras do sul, mas sim os ciganos, essa raça maldita que segundo o mesmo Ventura, ocupa grande parte do território pátrio, tendo por isso de ser expulsos.

3 – Enquanto muita gente se focava em Ventura e na disputa pelo 2º lugar das Presidenciais, no grande ecrã que é o país, passava em pano de fundo um elefante pandémico, sem que ninguém desse por isso. O mais importante era realmente o Ventura, cuja pregação exaltada procurava convencer os fiéis de todas as religiões, aos quais prometeu o paraíso na Terra e o seu contrário, no caso de vir a ser eleito. Ventura, antigo seminarista, tenta manipular as massas, usando uma estratégia e uma linguagem que andam muito perto da do sermão e missa cantada. Certo é que os “crentes” e os que espreitam a oportunidade de um dia vir a entrar no “paraíso do poder”, acreditam ou fazem que acreditam.

“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mateus 5:3-12).

4 – Espectáculo evitável, como se veio a verificar, foram as filas intermináveis de ambulâncias com doentes COVID, à porta das urgências do Hospital de Santa Maria, em Lisboa. A espera era longa e os bombeiros mais os doentes, precisavam de se alimentar. Vai daí, os “populares” bem-intencionados, acorreram ao local, transportando alimentos. O empenho foi tal, que os “Soldados da Paz” tiveram que lançar o apelo: “Basta! Por favor não tragam mais alimentos que já não temos onde os armazenar”. Comentário: Antes de mais, os “populares” deveriam estar confinados, deixando essa tarefa para a Protecção Civil. Se tivessem ficado em casa, teriam sido solidários com os outros, ao evitar a propagação do vírus. Optaram por uma solidariedade mais comezinha em obediência ao mandamento bíblico “dar de comer a quem tem fome”, pensando assim estar a cumprir uma missão sagrada e a garantir um lugar no Céu. Já dizia o poeta: “O que seria das senhoras da caridade se não houvesse pobres?” E famintos, acrescento eu.

5 – Recordemos uma vez mais a lei de Murphy: “Se algo pode correr mal, correrá mal”. Com efeito, como se não bastasse o atraso nas vacinas e o critério discutível de prioridades quanto às pessoas a vacinar, para agravar a situação começaram a surgir de todos os lados os caça-vacinados-indevidamente, os quais, misturando casos de justificação plausível com outros de típica chico-espertice e numa atitude de verdadeira caça às bruxas, clamam por justiça e pelo linchamento dos hereges no pelourinho da praça pública. É caso para dizer: “Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”.

6 – Dados da Pandemia no concelho de Guimarães, reportados a 28 de Janeiro de 2021: Positivos totais: 18149; Positivos activos: 2330; Curados: 14679; Óbitos: 205; Em isolamento: 2651.

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