Desarranjo urbanístico & interesses privados

Por Ana Amélia Guimarães.

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por Ana Amélia Guimarães Professora

« Obra privada corta caminho público em Guimarães.
Caminho público “desapareceu” da planta e Câmara não sabe explicar porquê».

O mundo, sabemo-lo, vai num reboliço, sucedem-se os dias marcados pela angústia, tristeza e mentira. Os discursos políticos falam de reforço armamentista, mísseis, exércitos pretorianos. Defende-se a paz na base da desconfiança, da tensão, da força das armas, na opinião dos falcões da guerra…

Entretanto os povos sofrem e preparam-se para pagar a fatura da guerra e do belicismo, enquanto os negócios de catástrofe proliferam e enchem os bolsos de alguns putativos amantes da democracia.

Amarfanhados nestas circunstâncias de horizontes negros, preocupados com o quotidiano de trabalho, contando os dias que faltam até ao de São Receber…ficamos, por vezes, sem vontade de intervir ou reparar e fiscalizar a prática política de quem governa localmente.

Vem isto a propósito do título desta crónica e que tem em epígrafe uma notícia saída na imprensa regional. E a esse mesmo propósito convém referir que já muito se tem dito e escrito. Por exemplo, no dia 5 de novembro de 2019 escrevi aqui neste jornal:

«Há mais um prédio na cidade a crescer de forma incompreensível. Falo do prédio da Av. D.João IV, cujas traseiras contíguas à Fábrica da Ramada/Instituto do design (R. da Ramada) ocupam todo o espaço possível de ser materialmente aproveitado. Quanto a passeios e circulação de peões não se prevê nada. Pergunta-se: como foi possível licenciar aquela superfície deixando uma zona nobre, considerada tampão e na qual tanto se investiu na sua requalificação, mais isolada e atrofiada? Vale tudo? Para que serve uma autarquia que tanto ruído faz de feitos e títulos, mas é incapaz de acautelar o que mais importa no que diz respeito a um urbanismo de qualidade para quem circula, visita e aqui vive?”.

No dia 17 de fevereiro de 2021, neste mesmo jornal, sobre a questão do lítio, escrevi: com toda a naturalidade, como se estivesse a falar de bugalhos, o senhor presidente Domingos Bragança diz que «O que se sabe é que será uma pequena parcela de um terreno, num monte, na freguesia de Serzedo…”. Se não sabe, o senhor presidente devia, por obrigação do cargo e do projecto político que defende para a cidade e o concelho (a tal capital verde) ter conhecimento da área de 4,5 km que é indicada com o documento de Avaliação Ambiental Estratégica.

Se por um lado ouvimos da autarquia um discurso de intenções que se promete uma cidade (e concelho, presumimos) «verde», sustentável e urbanisticamente cuidada, assistimos, por outro lado, às evidências da realidade. E a realidade é que a cidade entrou em autogestão urbanística, com uma subserviência constrangedora e quase inacreditável a interesses privados ligados ao negócio imobiliário, aos gabinetes de arquitetura, a investidores que resolveram rentabilizar os cabedais no negócio da construção.

Não tenho nada contra o crescimento da cidade, é próprio da vida. No entanto nenhuma cidade pode ser submetida, como tem sido ultimamente Guimarães, ao deus-dará de interesses que deixam perplexos, apesar de tudo, muitos vimaranenses.

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