As filas eram extensas à entrada do Multiusos. O norte esperava, ansiosamente, a vinda de Diogo Piçarra que, na semana anterior, tinha enchido o Altice Arena. Um público muito heterogéneo, ainda que maioritariamente feminino. Um vídeo e uma contagem decrescente iluminaram o palco, pouco passava das 22h00. Entre chamas, “South Side Boy” abriu a noite que prometia ser longa e quente, a música que dá nome ao último álbum do artista e que iniciou a viagem de 8 de outubro.

Na sua primeira vez no Multiusos, Diogo Piçarra fez a prova dos nove: o coração, na cidade-berço, está do lado certo. O público não deixou o seu ídolo cantar sozinho e, em “Noites”, os versos “as noites não são noites // sem ti ao meu lado” foram entoadas em uníssono. Uma noite de clara celebração e união entre a plateia e o palco.

Com os doze bailarinos em palco, “Já não falamos” levou a sala a revisitar o álbum “do=s”, de 2017. “É a minha primeira vez nesta sala”, confessou. Seguiram-se “Até ao Fim” e “Breve”, a deixa para o ecrã, que escondia a banda, subir.

Passo a passo, como se de um sopro se tratasse, Diogo Piçarra pediu “que seja tudo verdadeiro nas vossas vidas”. Tão verdadeiro como as amizades que subiram àquele palco. “Fiz esta música com uma pessoa que se chama Bispo”, disse enquanto apresentava “Monarquia”. E o primeiro convidado da noite, Ivandro, subiu a palco: “enquanto fazíamos esta música, houve uma pessoa que esteve sempre ao nosso lado, uma pessoa que tem crescido imenso, que merece todo o sucesso que tem e merece ainda mais”.

O público não vacilou. Em “Anjos” e “Trevo”, Diogo Piçarra quase não precisou de cantar, tal era a vontade dos fãs se fazerem ouvir. Depois de cumprir o prometido e fazer história em Guimarães, desabafou. “A sala não interessa, nem a quantidade de pessoas. O que interessa é a química”. E lembrando o concerto no Altice Arena, que “foi muito bom”, garantiu estar a divertir-se mais no Multiusos.

A palco, vestidos de preto, subiram novamente os bailarinos e Diogo Piçarra anunciou a música que se seguia: “há pessoas que estão aqui e estão a passar pelo escuro, mas ninguém está sozinho”.

Mais perto do público, num segundo palco no centro da sala, o segundo convidado surgiu para “Como Se Te Fosse Perder”. Anselmo Ralph visivelmente emocionado, e antes de revelar que a música já é Single de Ouro, confessou que esta música veio “mesmo a calhar”, durante a pandemia, quando “tudo aquilo que temos como garantido foi perdido e começamos a valorizar mais aquilo que realmente importa, como as nossas relações”. O artista convidado contou, depois, que Diogo Piçarra aceitou gravar este tema de imediato. “Às vezes vão ter colegas que, quando um artista está no seu baixo, não lhe interessa muito fazer participações ou colaborações. E este homem aqui [Diogo Piçarra], quando eu já tinha pedido a alguns artistas, disse “Anselmo, ‘bora fazer essa música””.

Num momento que facilmente se tornava o paraíso, “Volta” emocionou todos os presentes numa homenagem “para todos os que estão lá em cima”. Mergulhando a fundo no amor, as lágrimas foram visíveis quando uma chuva de estrelas rodeou o cantautor.

De regresso ao palco principal, na cidade-berço, que se tornou abrigo do cantor farense, a energia sentiu-se com “Sorriso”, “200” e “Wall of Love”, as músicas que pareciam o mote para terminar o concerto em festa. Mas Diogo Piçarra não podia não regressar a um palco onde, garantiu, foi “tão feliz”. “Tu e eu” anunciou, então, o final.

Com Mel Jordão, a noiva, e Penélope, a filha, no ecrã, o artista interpretou “Futuro” enquanto as via, na tribuna VIP do Multiusos de Guimarães. Terminou com “Dialeto”, a chamada certeira para toda a equipa: “mesmo que não precise eu sei // que tu estarás aqui”.

“Não havia lugar mais simbólico e especial para encerrar um ciclo de três anos. Renasci com o vosso amor e a forma como me receberam na vossa casa. Foi tão natural e descomprometida”, escreveu nas suas redes sociais o artista, que saiu de cena com a sua versão de “Se eu fosse um dia o teu olhar”.