Domingos Bragança apela à criatividade coletiva para engrandecer as Festas Gualterianas

Na reta final do seu mandato, o presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Domingos Bragança, partilhou uma reflexão sobre o passado, o presente e o futuro das Festas Gualterianas, que, em 2025, voltam a mobilizar a cidade num programa diversificado, que une tradição, inovação e participação comunitária.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães

Para o autarca, as Gualterianas devem continuar a afirmar-se como um “cartaz nacional”, mas com uma essência enraizada na identidade local: “Queremos que esta envolvência seja de dentro para fora, uma expressão da nossa autenticidade, das nossas culturas mais ancestrais até à cultura contemporânea”. Sublinhou que as festas são o reflexo daquilo que os vimaranenses são e daquilo que querem ser, apelando a uma mobilização ampla de associações, grupos culturais e cidadãos.

A Marcha Gualteriana, um dos momentos mais emblemáticos do programa, mereceu especial destaque no discurso do presidente. Considerando que a qualidade artística deve acompanhar o prestígio da marcha, Domingos Bragança desafiou as escolas de teatro, as artes performativas e instituições a contribuírem para a criação de figuras decorativas “icónicas”, com “números dignos de uma Marcha Gualteriana”. “Os carros alegóricos são excecionais, fruto do trabalho incrível dos nossos artesãos. Mas os números vivos precisam de estar ao mesmo nível. Quero ver 10 ou 15 grupos de folclore na Marcha, escolas de teatro, associações culturais, grupos de música. As pessoas ainda vão a tempo de se inscrever”.

Inspirando-se em experiências internacionais, como a cidade geminada de Turcoing (França), onde observou boas práticas de cruzamento de culturas, o edil propõe adaptar modelos e integrá-los na cultura local, respeitando sempre a sua autenticidade: “Não estamos a copiar nada. Estamos a ver o que outras cidades fazem e a integrar, se possível, dentro do que é nosso”, explicou. “Em Tourcoing, projetos de colaboração entre escolas de teatro e design resultam em autênticas esculturas vivas de grande impacto visual. Nós temos imagens icónicas da nossa cidade que podem ser representadas desta forma criativa e artística”, sugeriu.

O autarca defende uma marcha “verdadeiramente popular e participada”, apelando à presença massiva dos ranchos folclóricos e associações culturais. “Gostava mesmo que participassem todos. Não é um ou dois, são todos, a mostrar, nessa noite, aquilo que de melhor se faz”, disse. Mas o apelo vai além da Marcha. O presidente quer ver reforçada a ligação entre o programa artístico e a comunidade, valorizando a criação coletiva e os talentos locais. “Temos vindo a encontrar zonas de estabilidade e crescimento. Mas podemos ainda fazer mais”. “A Marcha Gualteriana é mais do que um desfile: é uma mostra viva da nossa cultura que deve envolver toda a sociedade vimaranense, incluindo escolas, associações, grupos informais e até a Universidade do Minho. Gostava que cada um de nós fosse surpreendido nas ruas, não só pela excelência dos carros, mas pela riqueza da nossa expressão cultural comunitária”, concluiu.

Flores naturais e sustentabilidade: o caminho da Batalha das Flores

Outro momento que o presidente da Câmara de Guimarães considera simbólico é a Batalha das Flores. Sublinha a beleza da iniciativa, mas propõe uma evolução: “É uma festa lindíssima, mas devia ser feita com flores naturais”. Reconhecendo a dificuldade logística, sobretudo por se realizar em agosto, aponta o caminho que, em seu entender, deve passar por acordos com agricultores locais e cultivo de espécies em todas as freguesias do concelho, alinhando as festas com os princípios da sustentabilidade ambiental. “Não sejamos nós a Capital Verde e não caminhemos nesse sentido”, provocou.

Dirigindo-se à Feira de Gado e Concurso Pecuário, realizada no Campo de S. Mamede, sugeriu maior valorização pública do evento: “Fica a saber um bocadinho a pouco, quando não há mais gente a assistir. Devíamos envolver mais os cidadãos.” Da mesma forma, apelou a uma participação reforçada nas festividades religiosas em honra de S. Gualter, patrono da cidade, considerando que estas devem ser integradas com destaque no espírito das festas.

Em jeito de balanço, o edil vimaranense revelou que “nunca houve cortes no orçamento” das Gualterianas, “antes pelo contrário”: “As Festas Gualterianas e as comemorações de 24 de Junho foram aquelas que mais viram o seu orçamento reforçado nos últimos anos, porque são celebrações da nossa identidade.”

Num discurso onde o tom foi tanto de celebração como de apelo à responsabilidade coletiva, Domingos Bragança deixou claro que as Festas Gualterianas não são apenas um cartaz turístico, mas um espelho do que Guimarães é e pode vir a ser. “O futuro das Gualterianas depende de todos. É preciso fazer mais, fazer melhor e fazer juntos”, concluiu.

“Muito mais associações se podem envolver, especialmente na Marcha Gualteriana”, diz Miguel Oliveira, vereador da Cultura

O vereador da Cultura, Miguel Oliveira, destacou a qualidade e diversidade do programa das Festas da Cidade e Gualterianas, afirmando que é “excelente, pensado para todas as idades, tanto do ponto de vista musical como na preservação das tradições”.

Referiu que a programação envolve toda a cidade, “dinamizando espaços como o Campo da Feira, Toural e Alameda Alfredo Pimenta”. “Só com a participação ativa das coletividades locais é possível montar um programa com esta dimensão”, salientou, mas lançou um repto: “Muito mais associações se podem envolver, especialmente na Marcha Gualteriana… As pessoas, os voluntários, devem sentir estas festas como suas. Guimarães somos todos nós”.

Miguel Oliveira apontou a Batalha das Flores como “um dos momentos altos das festas” e garantiu surpresas para a edição de 2 de agosto: “Quem participar vai ser positivamente surpreendido”. E quanto à adesão do público, mostrou-se confiante: “Vamos ter a cidade cheia… A programação é tão abrangente que há oferta para todos os gostos e idades. É isso que torna estas festas grandes — e ainda com potencial para serem maiores”. O palco da apresentação do programa foi a Cooperativa Agrícola de Guimarães e a escolha não foi ao acaso: “É um sinal de que queremos manter essa ligação viva com as tradições, especialmente a Feira do Gado, uma prática que está em risco de desaparecer e que temos o dever de preservar”.

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