“Ensaio de Orquestra”: Uma metáfora de uma sociedade em crise

A partir do filme de Federico Fellini, o espetáculo parte à descoberta da liberdade coletiva e individual em pleno palco do CCVF.

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Dirigido por Tonán Quito, “Ensaio de Orquestra” é apresentado no Centro Cultural Vila Flor esta sexta-feira, dia 11 de março, às 21h30. Coproduzido pel’A Oficina/Centro Cultural Vila Flor, é uma adaptação de “Ensaio de Orquestra”, de Federico Fellini. No filme realizado em 1978, uma orquestra de música clássica encontrava-se num oratório para ensaiar, um sítio sagrado. Neste espetáculo, é a Orquestra de Jazz do Hot Clube de Portugal que se encontra no palco para fazer um ensaio. A orquestra, os instrumentos, os músicos e a música como metáfora de uma sociedade em crise.

© João Gambino

Em 1978, uma orquestra recusava a sua natureza coletiva, e cada indivíduo tinha uma visão egocêntrica do seu papel. Estavam apenas unidos pelo propósito de destronar aquele que entendem ser o seu inimigo comum, quem manda: o maestro. Apesar de afirmar que não tinha qualquer interesse na política, o filme foi criticado por muitos. Alguns viram nele uma apologia ao fascismo, outros apontaram que era uma abordagem política ingénua. Mas, para o próprio Fellini, não era nada disso: era “uma parábola ética para provocar uma certa vergonha no povo, para mostrar que a loucura desorganizada das pessoas pode provocar a loucura organizada do Estado, a ditadura”.

Com este mote, interessa agora a Tónan Quito perceber onde está a liberdade do músico de jazz. Perceber “onde está a liberdade coletiva e individual”, “o que é que estamos aqui a fazer?”. “Estamos a tentar construir qualquer coisa juntos. O quê? Para que é que serve?”, questiona. Segundo o próprio, o espetáculo acaba por ser “um falso ensaio aberto, um falso documentário, possivelmente também um falso espetáculo”. E é neste jogo de falsidade que cada músico procura a sua verdade, na esperança de se descobrir no coletivo.

Em “Ensaio de Orquestra”, o coletivo está à beira da rutura. Os músicos provocam-se constantemente, gozam uns com os outros, mas, quando são entrevistados, falam apaixonadamente do seu instrumento e da sua relação da música, de como a música os salvou, por vezes até de forma poética. Todos têm a sua particularidade. E é fácil cairmos na ratoeira de os julgarmos. Oscilamos entre o cómico e a melancolia, até se instalar a revolta contra o maestro, insensível e autoritário, também ele em crise. Mas que revolução é essa? Contra a hierarquia da orquestra, contra a autoridade do maestro? Contra a ordem? Contra eles próprios? Precisam do maestro que os dirija? Ou podem ser um coletivo sem direção?

A peça é, assim, construída em torno de uma orquestra caótica, barulhenta, que recusa assumir as caraterísticas desse coletivo, e onde cada indivíduo tem uma visão exagerada de si mesmo e da sua função. Mas acabam por se unir e se rebelarem contra o maestro. Instala-se o caos, a violência e a destruição. Só um desastre os pode parar. Perdidos e assustados, procuram o maestro que esteve sempre calmo à espera da oportunidade para voltar de novo a controlar e a exercer o seu poder.

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