Entre a dança, o teatro e o mundo, Miguel Moreira apresenta “Hamlet, L’Ange du Bizarre”
A celebrar 25 anos, o Útero inspira-se no clássico de Shakespeare para apresentar uma peça disruptiva e labiríntica a 28 de outubro no CCVF, integrando referências às icónicas Festas Nicolinas .

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A última sexta-feira de outubro, dia 28, às 21h30, abre-nos uma janela para um lugar híbrido entre a dança, o teatro e o mundo, no grande auditório Francisca Abreu, no Centro Cultural Vila Flor. É o Útero – a celebrar um caminho de 25 anos – que transporta o público para esse lugar com “Hamlet, L’Ange du Bizarre”, inspirando-se no clássico de Shakespeare para reconstruir e procurar, à semelhança de Hamlet, um novo sentido para os que se libertam das amarras sociais e psicológicas, na procura de um novo sentido para si no mundo. Em cada cidade por onde passa, o criador Miguel Moreira faz questão de incorporar no espetáculo a realidade local. Em Guimarães, a peça integrará imagens das Festas Nicolinas.

O Útero procura “esse lugar singular que alia a um autor, que caminha livre na procura de si. Neste caso, semelhante a Hamlet. Isoladas sobre si, as pessoas caminham sozinhas, numa ilusão de pertencer a um todo que felizmente nunca conhecerão na totalidade. Nesse sentido há sempre um lugar de proximidade com um peregrino. Que com fé persegue o seu sentido e centro num mundo que desconhece.”
Seguindo ainda as palavras do Útero, no título que foi acrescentado à peça também podem ser descortinados os legados que se multiplicam em muitos sentidos. “L’Ange du Bizarre é o título de um livro de Edgar Alan Poe e de uma exposição que vimos em Paris que muito influenciou a nossa peça Pântano. (…) Descobrimos que o planeta embora geograficamente finito, terá sempre novos lugares que nunca vamos compreender totalmente e por isso iremos procurar sempre novos sentidos”, lê-se.
O espetáculo de Miguel Moreira, a partir de um texto de William Shakespeare, “Hamlet, L’Ange du Bizarre”, resulta da colaboração de uma larga equipa multidisciplinar e surge em cocriação com Ana Silva e Maria Fonseca, com o acompanhamento artístico de Pedro Paiva e ShadowMan, contando com a participação de Ricardo Toscano. O trabalho realizado em Guimarães a partir das Festas Nicolinas teve o acompanhamento no vídeo de Rodrigo Areias.
Esteticamente, o Útero conseguiu criar, nos últimos anos, diversas expressões de uma mesma linguagem, sendo as equipas de criação outra das suas marcas distintivas. O teatro/dança que fazem tem particularidades que não se confundem e, além de atores e bailarinos, o Útero abre portas a artistas de outras áreas, com outras sensibilidades, que enriquecem todo o processo de criação que acompanha a tentativa de procurar mais da arte do que as regras previamente impostas. O processo no Útero é por isso a elaboração de um sistema vivo que vai desde as definições estruturais teóricas, filosóficas, estéticas, históricas até à respiração do ator ou as texturas de um figurino. É a procura de uma linguagem que se justifique perante os corpos, a coreografia, o texto, o cenário e todos os outros materiais que se considerem vitais para acontecer esse objeto final.