EXPLORAÇÃO DE LÍTIO
Por Eliseu Sampaio.

Por Eliseu Sampaio.Boa parte dos meus amigos sabem o quanto gosto de Trás-os-Montes e da profunda admiração pelas suas gentes. Pela sua bravura e pelo amor à terra que os viu nascer, pelas aldeias que os seus antepassados contruíram e das quais não abdicam.
Nós que vivemos mais ao litoral, e quase avistamos o mar, habituamo-nos a olhar para aquele território somente como a região onde são criados e produzidos produtos de excelência que, pelo aspeto e sabor, nos fazem recuar no tempo.
Mas este Editorial não serve para falar de enchidos, de pão e vinho ou de paisagens e outras maravilhas, mas de algo muito mais recente e fugaz mas que anuncia a transformação da vida daquelas gentes, cimentada em séculos de história: o lítio e a sua exploração.
Mais da metade da produção de lítio é consumida para a produção de baterias, agora muito em voga pelo surgimento dos veículos elétricos, mas tem outras aplicações industriais, como nas placas utilizadas no fabrico de eletrodomésticos.
Relativamente a todo o processo de exploração de lítio em Montalegre e Boticas, o mínimo que posso dizer é que tem uma história muito, mas muito mal contada. Um enredo a merecer uma minuciosa e aprofundada investigação.
Segundo se sabe, para um negócio de cerca de 380 milhões de euros, que prevê a construção da maior refinaria de lítio da Europa, a empresa concessionária foi constituída três dias antes da assinatura do contrato com o Estado, com um capital social de 50 mil euros e com sede numa Junta de Freguesia de Montalegre, do Partido Socialista. O contrato foi assinado por João Galamba, atual secretário de Estado Adjunto e da Energia, a 26 de março e sem o devido estudo de impacte ambiental. Para além disso, e embora o ex-secretário de Estado da Internacionalização, Jorge Costa Oliveira, negue ter interferido no processo, segundo a televisão pública este tornou-se consultor financeiro da empresa a quem foi concessionada a exploração, a Luso Recursos Portugal Lithium, três meses antes de esta lhe ser atribuída. Uma coincidência muito feliz! Aliás, como muitas outras que preenchem a nossa história recente.
Assim vai este país!
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