FALECEU JOÃO CARVALHO
Foi presidente do IPCA entre 2006 a 2017.
João Baptista da Costa Carvalho, ex-presidente do Instituto Politécnico do Cávado e Ave (IPCA), faleceu esta quinta-feira, 27 de dezembro, vítima de uma doença prolongada.
Doutorado em Contabilidade e Finanças e agregado em Contabilidade pela Universidade do Minho (UM), foi diretor da Escola Superior de Gestão do IPCA, entre 1997 e 2000 e fez parte da comissão instaladora do Instituto. Foi presidente do IPCA entre 2006 e 2017, tendo renunciado ao cargo por motivos de saúde.
Na década de 90 Potugal lançou o ensino politécnico, que mudanças isso trouxe ao ensino superior?
O ensino politécnico começou depois do 25 abril e veio trazer ensino superior a locais onde não funcionavam universidades, nomeadamente, no interior do país. A ideia era que os politécnicos criassem cursos mais profissionalizantes, mais próximos do tecido empresarial e das regiões. Às universidades pede-se uma visão mais nacional, por vezes até, internacional.
Acha que isso foi conseguido, ou será que os politécnicos replicaram aquilo que já se fazia nas universidades?
Não há uma razão que separe o ensino politécnico do universitário. Até há poucos anos todos os professores dos politécnicos tinham vindo de universidades e traziam com eles as suas sebentas, naturalmente. A questão tem mais a ver com a procura de estudantes, já que o modelo de financiamento por parte do Estado é isso que leva em linha de conta. Foi assim que certos cursos, em áreas como a engenharia, ou gestão são dados indistintamente em universidades e politécnicos. A enfermagem é um bom exemplo, está claramente separada, está toda no politécnico. A componente prática é o marcador que separa sem prejuízo de alguns destes cursos serem também dados por universidades.
O professor é o artífice do IPCA.
Eu fazia parte do Senado da UM, em representação dos assistentes, quando foi proposto ao governo a instalação de um pólo da UM em Barcelos. Mas, por essa altura, o governo determinou que haveria ensino politécnico em todos os distritos e, é na sequência dessa decisão que é criado o Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, com sede em Barcelos, e o Politécnico de Aveiro, que nunca chegou a funcionar. Nessa altura foi nomeado presidente do IPCA o professor José Eduardo Lopes Nunes, que era vice-reitor da UM. O professor convidou-me para integrar a comissão instaladora, na qualidade de diretor da Escola Superior de Gestão. Na altura tínhamos um decreto de lei na mão e mais nada. Tivemos de instalar tudo de zero, contratar professores, funcionários, procurar instalações. Lembro-me dos primeiros 74 alunos.
Voltou-se a falar em fazer do politécnico um pólo da UM?
Sim, houve um período, entre 2000 e 2006, em que fruto das opiniões diversas dos governos se oscilou entre a autonomia e a integração na UM. Eu próprio num determinado momento defendi essa integração numa grande universidade. Em 2006 o ministro da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, decidiu definitivamente que Portugal devia manter ensino politécnico e universitário. A partir dessa decisão é que se deu o grande crescimento do IPCA.
Mas o professor também tinha dúvidas relativamente a esta decisão?
Exprimia dúvidas e mantinha-as. O IPCA não tinha dimensão, tinha apenas 1 500 alunos, não tinha quase corpo docente próprio, tinha meia dúzia de doutorados. Não tinha dimensão para ser autónomo e também havia vantagens na integração numa universidade de grande dimensão e reconhecimento internacional.
E o que é que mudou desde aí?
O IPCA passou a ter um campus, a pesar de manter a sua, sede em Barcelos, passou a ter polos em Braga e nas Taipas. Agora em Guimarães, tem muito mais alunos, passou a ter um corpo docente próprio e houve incentivos aos doutoramentos.
Persiste a ideia que a ensino politécnico é inferior ao universitário?
Ainda não foi ultrapassado esse problema. Muitos pais que têm os filhos num politécnico continuam a dizer que eles andam na universidade. O termo “universidade” é mais prestigiante. A designação “universidade politécnica” seria mais adequada, quer para estudantes quer para professores em mobilidade, já que esta é a designação mais comum na União Europeia.
Entretanto o Instituto Politécnico do Cávado veio agora para o Ave…
Já devia ter vindo há mais tempo. Havia um compromisso verbal que a Escola de Tecnologia seria instalada no Ave. Aquilo que se notava no Vale do Ave era que, todos queriam a instalação do IPCA, mas teria que ser no seu concelho e isso criou alguns problemas. Chegamos a sugerir Póvoa de Lanhoso e Taipas como pontos interessantes para instalar o pólo.
A instalação da Escola Hotel, em Guimarães, é um ponto final ou um ponto de passagem para o IPCA?
Nós entendemos que, com quatro escolas, a gestão, o design, a tecnologia e agora a hotelaria, parece-nos que temos uma cobertura nas áreas que a região mais precisa.
Relativamente a esta escola que agora se instala em Guimarães e dado o crescimento que o turismo tem tido, o que lhe parece que estes cursos podem fazer pela economia no imediato?
Para a instalação desta escola tivemos que fazer um estudo de mercado, e percebemos que havia falta de quadros nesta área na região. Aquilo que lá vamos ter instalado é um hotel com dez quartos, um restaurante e uma pastelaria, abertos ao público, tudo operado pelos estudantes sob supervisão dos professores. O que se pretende é que a pastelaria e o restaurante trabalhem com produtos comprados na região. Esta escola terá cursos técnicos, licenciaturas e mestrados.
Que impacto é que a Escola de Hotelaria vai ter na cidade?
Para além dos profissionais que vai formar, 500 alunos, mais professores e funcionários que se movimentam e fazem consumos na cidade, temos que juntar os consumos normais de uma escola desta dimensão e o facto de se pretender que o restaurante e a pastelaria comprem, essencialmente, no mercado local.
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