A edição de 2018 dos Festivais Gil Vicente abre com a estreia da peça “Pulmões” (07 de junho), de Luís Araújo, e expõe-nos uma geração que faz da incerteza um modo de vida.

“Pulmões” é a história de uma conversa: um casal na casa dos trinta, M e W, durante uma ida ao Ikea discute a possibilidade de ter um filho e do impacto que isso terá neles e no planeta. “Será que sou boa pessoa? Serei um bom pai? Que tipo de mundo herdará o nosso filho? É sensato ou necessário trazer mais uma criança a este mundo?” Com encenação de Luís Araújo – que depois de “Subterrâneo” (2016) volta a assinar uma criação para o Ao Cabo Teatro –, “Pulmões” não é explicitamente uma peça sobre as mudanças climáticas, é uma peça sobre pessoas: um jovem casal confrontado com uma possibilidade inesperada que os leva a reavaliar o resto das suas vidas de uma forma que seja imediatamente reconhecida como possibilidade no presente e a tentar imaginar um futuro reconhecível, que tenha no presente e na sociedade em que agora vivemos uma espécie de manual de instruções.

O texto de Duncan Macmillan é retratado pelo encenador Luís Araújo como sendo “cheio de emocionalidade”. “Acho que a minha geração, que nasceu no pós-modernidade vê a emocionalidade como fraqueza intelectual. Quando li pela primeira vez pensei que era demasiado racional, e só passando um ano é que voltei a ela e percebi que havia muita coisa a desmontar sobre isso. Como duas pessoas que nasceram numa era pós-moderna, que têm como principal meio de funcionamento o cinismo, a ironia e a autorreferencia, ou seja, que lidam muito poucos com emoções, conseguem lidar com uma data de assuntos que envolvem a emocionalidade”, explica.

Seis espetáculos, duas estreias absolutas, quatro laboratórios e dez apresentações em colaboração com a Universidade do Minho, residências artísticas e oficina de dramaturgia perfazem a programação desta festa do teatro, de 07 a 16 de junho.