Fins de Ciclo
Por António Rocha e Costa.

por António Rocha e Costa Analista clínico
Cada vez se ouvem mais as expressões “fim de ciclo” ou “nada será como dantes”.
Efectivamente, tudo em nosso redor nos faz acreditar que paira no ar a sensação de que já estamos a iniciar um novo ciclo na vida da humanidade, ainda que estejamos ainda muito arreigados a hábitos e estilos de vida que ameaçam a nossa sobrevivência.
Muitos e diversificados são os sinais do fim de um ciclo, desde a crise climática até à transformação da economia.
Limito-me porém a escolher três exemplos, comezinhos, e extremamente recentes, para ilustrar aquilo que atrás foi dito.
1 – Apostámos tudo, enquanto nação, no Europeu de Futebol, desde o Presidente da República até ao cidadão anónimo. Sonhámos e vibrámos durante duas semanas, ao fim das quais veio a desilusão, que nos obrigou a cair na real. Sonho efémero…
Mas se o mal dos outros não nos serve de conforto, a verdade é que também já ficaram pelo caminho as selecções da França, da Holanda e da Croácia, tendo a Itália passado à fase seguinte com imensa dificuldade. Dizem os opinadores do costume que chegámos ao fim de um ciclo e que é tempo de mudar de treinador. Não sei se será só isso, acho é que o futebol em geral também poderá estar em vias de entrar numa fase diferente daquela que vigorou até agora, onde se dizia que “o futebol são onze contra onze e no fim ganha a Alemanha”. Ou então estarei enganado e trata-se apenas de uma fase transitória e anormal provocada pela pandemia e pela dispersão geográfica da maior prova futebolística europeia, coisa que até hoje nunca tinha acontecido.
2 – O tema dominante nos jornais e nas televisões, após ter saído de cena o caso do pequeno Noah, foi a demissão do ministro da saúde britânico. Matt Hancock, assim se chama o ex-ministro, foi apanhado a beijar a sua conselheira, com uma intensidade e proximidade dignas de verdadeiros amantes. O escândalo, contudo, pelo que transparece das notícias, não está em beijar a conselheira, mas sim em não ter respeitado a distância regulamentar exigida pelas regras de combate à pandemia. Querendo beijar a conselheira sem infringir as regras sanitárias, o ministro, como autoridade máxima da saúde e, por isso, obrigado a dar o exemplo, deveria ter encomendado previamente duas máscaras, semelhantes às usadas na idade média, em tempos de peste, só que com um bico de um metro de comprimento, para assim manter a distância em caso de tentação.
Mas o que está aqui verdadeiramente em causa é a falta de indignação geral pelo facto de a cena amorosa ter sido filmada por uma camara de segurança, instalada no gabinete do ministro, sem que alguém tenha colocado em lugar bem visível o conhecido dístico: “Sorria, que está a ser filmado”. Isto sim, isto é que é grave e significa o fim de um ciclo em que ainda era possível ter alguma privacidade.
Não tomem as medidas adequadas e depois não se queixem de haver cada vez menos pessoas competentes e civicamente motivadas, a quererem ir para a política. Vejamos o que está a acontecer em Portugal, em que não tem sido fácil arranjar candidatos para as próximas autárquicas. Qualquer dia volta a ser actual o “foge cão que te fazem barão! Para onde, se me fazem visconde?”.
3 – Depois de uma longa odisseia, a Coelima foi comprada por um investidor ligado ao sector. Se foi salva, é outra questão, a que só o tempo dará resposta. A empresa que acaba de ser comprada não tem nada a ver coma Coelima de outrora, que empregava milhares de trabalhadores e era um ícone da indústria têxtil nacional. Essa, a verdadeira Coelima, já há muito tombou, juntamente com outros gigantes da indústria têxtil, que não resistiram à evolução dos tempos. Há poucos dias, dei uma volta por Pevidém, Riba D’ave e arredores, e constatei que florescem por todo o lado, pequenas e médias indústrias, mais versáteis, sobretudo do sector metalomecânico, que estão progressivamente a ocupar o lugar que vai sendo deixado pelos dinossauros industriais, em vias de extinção.
A indústria têxtil tal como a conhecemos, também chegou ao fim de um ciclo. Confiemos na renovação do tecido industrial, pois só assim a região poderá manter a dinâmica económica que teve no passado.
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