FRAUDE ELEITORAL
CÉSAR MACHADO Advogado
por CÉSAR MACHADO
Advogado
A CDU e o Bloco de Esquerda deviam estar proibidos de concorrer às eleições legislativas.. Não faz sentido ir a eleições com programas que incluem medidas contrárias aos compromissos internacionais do país, que podem dar “sinais de perturbação aos mercados”. Os esforços feitos pelos portugueses não podem ser desbaratados; os sacrifícios não foram em vão
Autorizar, generosamente, a CDU e o BE a ir às urnas, a ter, até, alguns deputados? Mas participar numa maioria vencedora, isso não. “Ok, podeis votar mas não abuseis.” É esta a conclusão a que se chega da posição “ameaçada” comunicada pelo Sr. Dr. Cavaco Silva. Apesar de conhecidos os programas da CDU e do BE, não são aceites alianças por eles apoiadas, ainda que traduzam a maioria absoluta dos eleitores, porque não são admissíveis algumas das suas propostas. O povo votou à esquerda? Mas quem é que o povo se julga? É isto que decorre da posição assumida pelo Sr. Dr. Cavaco Silva.,
O Sr. Dr. Cavaco podia ter dito antes que só tem assento no Governo, ou em aliança que o sustente, quem esteja de bem com a Nato, em paz com a Europa e aos beijinhos com os mercados. E que a CDU e o BE concorrem mas a coisa não é para valer se o seu número de votos for superior ao “esperado”
Como podia ter dito que o PS só formaria governo se fosse o partido mais votado. Mas, o que nos diz que parte do eleitorado CDU e BE não deslocaria o seu voto para o P. S., afim de garantir um governo de esquerdar? .Não viabilizou já o PCP a eleição de Mário Soares contra Freitas do Amaral, embora Cunhal não fosse propriamente seu admirador?
O eleitorado retirou ao PSD/PP a maioria na Assembleia da República, com isso dizendo, “não queremos esta maioria, queremos outra solução?” E deu à esquerda 123 deputados. Como rejeitar um governo apoiado neste número de deputados? Porque fica esta esquerda de fora?
Em 1978, Mário Soares aliou-se ao CDS, o partido mais à direita da assembleia, à margem do sistema, o o único que votara contra a Constituição. O PS levou-o para o Governo. Antes das eleições não se diria possível tal coisa. Foi essa entrada no CDS no governo que “normalizou” o seu posicionamento na jovem democracia portuguesa. O PS pagou o preço desta aliança, junto dos seus simpatizantes e militantes mais à esquerda. Mas prestou um serviço à democracia, portuguesa, que cresceu com aquele “alargamento”.
É já tempo para que suceda com a CDU e com o BE o que o PS fez com o CDS em 1978. É já tempo de acabar com esse conceito de “arco da governação” e de tornar potenciais governantes todos os partidos a quem o eleitorado confia os seus votos. . “Não são todos são filhos de Deus?”, para usar uma expressão cara aos democratas cristãos que, em tempos idos criaram e moldaram o CDS, ou estão previstos na Constituição filhos de um deus menor?
Está previsto na Constituição que “o mercado” é sobreponível às maiorias parlamentares?, E, em estando, de onde veio a ideia ao Sr. Dr. Cavaco de que será má “a reacção dos mercados” se o governo for de esquerda? .Tais sinais ocultos que escapam ao comum dos cidadãos, resultam da “sensibilidade de economista” do Sr. Dr. Cavaco, a mesma que já tinha quando, a primeiro ministro, veio à televisão –qual elefante em loja de porcelana- bradar que havia na bolsa muito “gato por lebre”, o que provocou enorme terramoto,, com fortíssima “reacção dos mercados” e quedas abruptas no dia imediato?
Os poderes do Presidente da República são apenas os previstos na Constituição, que, perante a Assembleia da República, o Sr. Dr. Cavaco Silva jurou cumprir e fazer cumprir. E é feio jurar e não cumprir.
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