Guimarães cria projeto pioneiro para meninas de sete bairros sociais

Com treinos oficiais agendados para setembro, a iniciativa está ainda na fase de preparação logística, recrutamento e formalização de parcerias.

© CMG

A apresentação pública decorreu no passado dia 4 de julho, no Bairro da Atouguia, e contou com a presença da vereadora da Ação Social da Câmara Municipal de Guimarães, Paula Oliveira, da presidente da Associação Esfera Aplaudida, Alexandra Coelho, de uma representante da Federação Portuguesa de Futebol, além de vários parceiros estratégicos que reforçaram o compromisso com esta causa social.

Guimarães será o berço de uma das mais inovadoras iniciativas de inclusão social através do desporto a nível nacional. A Academia Social de Futebol Feminino, lançada oficialmente no âmbito do projeto Alquimia, representa o ponto de partida de um modelo de futebol inclusivo idealizado pelo treinador Daniel Pacheco.

“O projeto foi lançado oficialmente e arrancará com treinos oficiais no início de setembro. Agora ainda estamos na preparação de toda a burocracia dos equipamentos, de fazer o próprio recrutamento de meninas nos bairros sociais, fazer as parcerias… estamos a arrancar”, afirma Daniel Pacheco, coordenador do projeto e autor do modelo de futebol inclusivo.

Futebol como ferramenta de transformação social

Promovido pela Associação Esfera Aplaudida, em colaboração com o Município e com financiamento do Fundo Social Europeu no âmbito do Portugal 2030, o projeto pretende envolver raparigas entre os oito e os 18 anos, oriundas de sete bairros sociais de Guimarães. Muitas destas jovens encontram-se afastadas do desporto por razões socioeconómicas, culturais ou de género.

“O futebol é o meio, mas o objetivo é a transformação. Queremos capacitar estas jovens, devolvendo-lhes a confiança e oferecendo-lhes um caminho alternativo, onde elas são protagonistas da sua história”, sublinha Daniel Pacheco.

No primeiro ano, o projeto prevê acolher 40 jogadoras, com a meta de atingir 60 no segundo ano. Mais do que ensinar a jogar, o objetivo é intervir de forma integrada, combinando prática desportiva com educação, acompanhamento emocional e orientação de vida. “Este é um projeto social. O futebol é só a ferramenta que nós utilizamos para alterar comportamentos sociais das meninas e para ias conduzir socialmente”, explica o treinador.

Apoio técnico e humano para além do campo

A estrutura multidisciplinar inclui treinadores, fisioterapeuta, psicóloga, nutricionista, assistente social, mentores, técnicos de comunicação e gestores de impacto. Cada atleta terá um plano de desenvolvimento individual, com acompanhamento contínuo e avaliações periódicas.

“Nós teremos uma assistente social que fará um dossiê de cada menina e depois terão todo o apoio logístico para treino, desde fisioterapeuta, psicóloga, nutricionista. Ou seja, tudo aquilo que elas não conseguiriam caso não se tratasse de um projeto como este”, destaca Pacheco.

Entre os objetivos estão a igualdade de acesso ao desporto, o combate aos estereótipos de género, a promoção do sucesso escolar e o desenvolvimento de competências sociais e vocacionais. Está ainda prevista a presença de “madrinhas”, figuras de referência do futebol feminino português, para momentos de mentoria e partilha com as atletas.

Financiamento, impacto e expansão nacional

Com um investimento global de 240 mil euros, sendo cerca de 48 mil cofinanciados pela Câmara Municipal, o projeto terá monitorização contínua de impacto com indicadores como retenção, progressão técnica, autoestima, desempenho escolar e satisfação pessoal. Uma avaliação formal está prevista para junho de 2026. “O projeto terá uma técnica de medição de impacto o tempo inteiro e, portanto, vamos estar sempre a acompanhar o impacto que tem nas meninas”, garante o coordenador.

Segundo Patrícia Assis, gestora de impacto do projeto e fundadora da consultora Ant Element, “o sucesso deste projeto não se mede apenas pelos golos marcados ou pelas vitórias. Mede-se pela transformação real na vida destas raparigas, no reforço da sua autoestima, no aumento das oportunidades e na quebra de ciclos de exclusão”.

O modelo da Academia Social de Futebol Feminino é pioneiro em Portugal e já despertou interesse em ser replicado por outras autarquias. “Já temos outras câmaras que falaram connosco com algum interesse, e nós queremos replicar”, revela Daniel Pacheco. “O grande objetivo da Associação é replicarmos o projeto nós próprios.”

Para garantir a sustentabilidade após o término do financiamento europeu, está prevista uma readaptação do modelo, com o apoio de marcas já interessadas em associar-se à iniciativa. “A ideia é, quando terminar o projeto, quando acabar o financiamento, nós continuarmos no terreno enquanto Academia Social. É evidente que nos moldes completamente diferentes, porque não teremos o mesmo orçamento. Trabalharemos com uma marca que mostrou bastante interesse em apoiar o projeto depois de terminado o financiamento europeu e da Câmara Municipal de Guimarães, como é evidente”, refere Daniel Pacheco.

O plano de longo prazo é ambicioso. “Temos contactos em câmaras que mostraram bastante interesse, e portanto, sempre o início de cada projeto no terreno. Isto em 10 anos”, projeta o treinador. “Está tudo encaminhado”, conclui Daniel Pacheco, confiante no impacto transformador da iniciativa, que pretende mudar vidas através do futebol dentro e fora de campo.

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