Gabinete de apoio à comunidade LGBTQIA+: “A verdadeira transformação faz-se com atos”
Foi para “fazer pessoas felizes” e ajudar a que encontrem “o seu lugar no mundo” que nasceu, em junho de 2021, o projeto Bússola.

projeto-bussola
Foi para “fazer pessoas felizes” e ajudar a que encontrem “o seu lugar no mundo” que nasceu, em junho de 2021, o projeto Bússola. Cerca de um ano e meio depois, o projeto inovador da Casa do Povo de Fermentões vê-se reconhecido e apoiado pelo Governo, através da atribuição de uma subvenção de 42.613 euros.

A visita da secretária de Estado para a Igualdade e Migrações às instalações da Casa do Povo de Fermentões para a assinatura do protocolo tratou-se de “um momento feliz”. Isabel Almeida Rodrigues começou por visitar o gabinete de apoio à comunidade LGBTQIA+ e seus familiares, onde nasceu o Projeto Bússola. Este pretende prestar um serviço especializado para a população lésbica, gay, bissexual, trans ou intersexo (LGBTQIA+) e respetivas famílias, que dará apoio informativo, encaminhamento para outras entidades, trabalho colaborativo e apoio em situações mais específicas tais como de violência familiar, violência no namoro ou bullying na escola, através de um atendimento com profissional qualificado.
Apesar do projeto ter nascido “muito a medo”, sempre houve a consciência de que este “era muito necessário”, explica Carlos Oliveira, psicólogo da instituição e rosto do projeto Bússola.

No contacto com escolas e entidades ligadas com a saúde perceberam que havia dificuldade em saber para onde encaminhar as pessoas. Muitas vezes, eram encaminhadas para Matosinhos ou para o Magalhães Lemos. A distância, a falta de recursos e de conhecimento fazia com que nem sempre as pessoas tivessem o apoio necessário. Faltava uma resposta de proximidade, que foi apresentada à direção da Casa do Povo e recebida de braços abertos.
Com o nascer do projeto, numa altura de pandemia, surgiu também a necessidade de alargar o apoio prestado à via online, até porque os pedidos de ajuda já não chegavam só do concelho ou das cidades vizinhas, mas de toda a zona norte e até do Brasil.
Atualmente, a equipa é limitada, mas tem perspetivas de crescimento. Nas palavras de Carlos Oliveira, fazem falta patrocínios para ajudar a que a resposta tenha “mais visibilidade e mais sustentabilidade”.
Vincando que “só com uma grande equipa e grande empenho” é que projetos como este conseguem vingar, Alberto Torres, presidente da direção da Casa do Povo de Fermentões, confirmou que o projeto “rapidamente foi apadrinhado pela direção”.

Apesar de “sozinhos não terem a capacidade de levar tão grandioso projeto para a frente”, Alberto Torres agradeceu o apoio do município de Guimarães e elogiou a disponibilidade do Governo para ajudar a promover a inclusão e os direitos humanos, que constituem as grandes bandeiras do projeto.
“Sem termos uma subvenção relativamente àquilo que são os postos de trabalho, por mais meritório que seja o nosso trabalho pro bono, não é o suficiente para garantir a estabilidade porque os trabalhadores unidos na causa também têm os seus compromissos”, assumiu o presidente da direção.
“Interessante e muito necessário”, este é um projeto “muito exigente e que a todo o tempo tem que reunir conhecimento, empatia e até coragem”, começou por dizer Domingos Bragança.


“Na sociedade contemporânea sabemos que a igualdade de género, de escolha, de orientação sexual são valores que se pretendem universais”, mas “ainda há um longo caminho a fazer”, destacou o presidente da Câmara Municipal de Guimarães, admitindo que ao nível das instituições e poderes públicos tudo deve ser feito para promover os direitos humanos.
Numa altura em que assistimos a profundas mudanças na ordem mundial, nomeadamente o ressurgimento de ideias políticas contrárias à igualdade de direitos humanos, a secretária de Estado para a Igualdade e Migrações vincou que “Portugal tem a responsabilidade de manter esta matéria na ordem do dia” e de “tentar que a Europa retome o caminho que vinha a fazer, que é o da evolução”.

Apesar dos avanços que já foram conquistados, o Governo quer “continuar a dar passos seguros e garantir que as necessidades das pessoas LGBT são acauteladas, até porque são pessoas particularmente vulneráveis”. Reconhecendo a forma como a falta de mobilidade e poder económico influencia a promoção da igualdade, Isabel Almeida Rodrigues congratulou a instituição por “não temer os temas que abraça” e por acreditar que “a verdadeira transformação se faz com atos”.
Através deste apoio financeiro agora atribuído, o Governo assume “a responsabilidade de dotar as instituições de meios e recursos para responder às necessidades das pessoas que atendem”. Sendo esta a primeira resposta de atendimento no Minho, que certamente ficará para a história, vai juntar-se a outras quatro já existentes a nível nacional de apoio a pessoas LGBTQIA+. A Casa do Povo de Fermentões passará ainda a integrar a rede nacional de apoio a vítimas de violência doméstica.





