Gente difícil…

Por Carlos Guimarães.

© Carlos Guimarães

por Carlos Guimarães
Médico urologistaA facilidade e comodidade da comunicação, tal como o acesso à informação, vivem uma época dourada. As tribos urbanas e não urbanas comunicam de forma simples gratuita e intuitiva, as pessoas estão em permanente conectividade. A escassez de fundamento choca com a vastidão da futilidade. O tempo de observar o pôr do sol, as flores, as árvores o mar ou a noite vem sendo progressivamente extinto, as conversas (de verdade) são cada vez mais raras e vazias. A luz do dia ou da noite luta por um lugar digno e ajoelha-se perante a luz azul dos ecrãs que se acendem à frente dos rostos. Como tudo o que se dissemina de forma descontrolada atrai perigos e dissemina irracionalidades, em última instância, nós somos os agressores e as vítimas. No ajuste de contas seremos mais vítimas do que agressores. O culto do email e a criação dos grupos de WhatsApp vieram corroer a débil estabilidade mental em que muitos se encontram. Não é possível viver e sentir o bem-estar quando se está sob um bombardeamento contínuo de conversas tribais dos grupos do WhatsApp, uma praga que se dissemina a uma velocidade vertiginosa de inutilidade crescente. Dizem que as pessoas estão insuportáveis, dizem que não se conseguem aturar, dizem que esqueceram a tolerância e o bom senso. Diz o professor, diz o médico, o construtor, o talhante e o padeiro. Já não há paciência, dizem. Talvez essas tribos, sem se aperceberem, estejam a sentir a falta de uma boa conversa à volta de memórias, à volta das pessoas que nos querem bem, à volta da família. Precisamos de voltar as costas à tecnologia, nem que seja por momentos, nem que seja uns dias da semana. Precisamos de voltar a nossa essência, do olhar e sentir o ar, de mexer na terra, de tocar nos seres vivos, de nos focarmos olhos nos olhos, de interagir uns com os outros, com os olhos nos outros olhos em vez de olhos no ecrã e ecrã nos olhos. Talvez isso possa fazer a diferença, talvez possa fazer com que mais adiante sejamos mais afáveis, mais tolerantes, mais suportáveis, mais sensatos. Talvez daqui a algum tempo as pessoas possam dizer que voltámos a ser como antigamente em que as conversas frente a frente demoravam o tempo que o tempo permitia, tal como as conversas ao telefone que ocupavam o tempo suficiente para transmitir a mensagem e não mais do que isso porque os impulsos caiam e o dinheiro desaparecia. Talvez a facilidade e a gratuitidade sejam um malefício. Talvez um dia as coisas sejam diferentes, talvez esse dia nunca aconteça.

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