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GEOGRAFIA DO TERROR

CÉSAR MACHADO Advogado

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por CÉSAR MACHADO
Advogado

Distraídos pelo calor, nem nos damos conta da dimensão do “contragolpe” na Turquia, a servir de pretexto para um gigantesco ajuste de contas  mal resolvidas. Parece, até, que Nice já foi há muito tempo, e foi esta semana. Este tempo corre muito depressa e criou uma nova geografia do terror. O mundo ficou mais pequeno, e onde quer que surja um dos sucessivos actos desta natureza, é certo que estará por perto um filho nosso, um jovem familiar chegado ou o filho de um amigo. Dantes estas coisas eram distantes. Dizia-se que estávamos “aqui, neste cantinho”. Esse cantinho acabou O terror já não aponta apenas para lugares remotos. Hoje não. Os nossos jovens, os nossos filhos, andam por lá, estudam com a mesma naturalidade em Manchester ou em Milão, em Berlim , Praga, Paris ou Liubliana. Um rebentamento de um petardo em qualquer um destes lugares, ou um louco investindo um camião  contra a população desprotegida, torna presentes estes sítios como se fossem cá, porque a nossa terra é a terra onde estamos nós e onde estão os nossos. E a Europa é cada vez mais um lugar onde estão os nossos, um pouco por todo o lado. Um destes dias pode ser Lisboa ou Porto. Mas o que vem sucedendo já é um problema nosso, como não era no passado. E se esta jovem geração é a primeira a partir para obter formação de excelência nos mais altos lugares do ensino europeu, a geração de seus pais é a primeira a ficar com o coração nas mãos sempre que das notícias chegam novos flagelos. “Onde foi desta vez?” Ok, depois vem uma mensagem  “Pai, estamos todos bem. Isto fica a umas dezenas de quilómetros do local. Há aqui uma amiga que tem lá os pais, um colega que tem duas irmãs, mas parece que não terá havido problemas, pelo menos pelas notícias dadas até agora. Mas alguns ainda não sabem.”. Até quando?

Distraídos pelo calor, esquecemos que a sucessão destes ataques perfura por dentro, com direcção ao seu grave desequilíbrio, o contrato social que criamos a Ocidente, nos termos do qual abdicamos do mínimo de liberdade em ordem a garantir um máximo de segurança que ao Estado cabe criar e preservar. Hoje, esse mínimo de que abdicamos tende a alargar, as liberdades relacionadas com o nosso sigilo, a vigilância, a nossa intimidade, estão e estarão cada vez mais à mercê da intrusão informativa tão cara aos valores da segurança para que estamos forçadamente muito mais atentos. Quanto mais desgastarmos esse nosso modelo de liberdade, mais faremos ruir um dos pilares fundamentais pressupostos deste nosso modelo ocidental. E qual será o preço? Quem ataca sabe isto.

Com este calor, já nem nos lembramos que o Sr. Reagan fez a Guerra das Estrelas, e com isso obrigou a então URSS a custos incomportáveis para perseguir os Estados Unidos  numa corrida ao armamento que não tinha como custear. Os meios despendidos nos canhões faltaram na manteiga. E caiu um dos pressupostos que mantinha aquelas sociedades –as sólidas prestações sociais que sustentavam vastas populações em condições de sobrevivência decente.. Caído esse pressuposto essencial, outros caíram. Depois foi o que se viu. E por cá, ato onde iremos nós? Que sacrifícios estaremos dispostos a sofrer? Que alterações suportaremos? Como nos mantermos de pé, sem cair de joelhos, perante estes novos desafios aos nossos mais caros valores, às nossas mais fundadas  certezas?

Enquanto isto dura, andam uns senhores em Bruxelas muito preocupados em aplicar sanções a Portugal e a Espanha por causa de umas décimas nos cumprimentos orçamentais. Tudo em nome da coesão europeia, obviamente. Andam a brincar com o calor, só pode.

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