Germinal

Por Ana Amélia Guimarães.

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por Ana Amélia Guimarães Professora

Conversava ao balcão do outlet de uma fábrica, aqui perto, com a simpática trabalhadora (colaboradora, como agora se diz…) que me atendia. Estava calor, lá fora e lá dentro e a conversa foi por aí, do calor que estava e daquele que aí vinha.

Falamos das piscinas municipais, ou melhor, da falta delas na cidade e por todo o concelho. Quem quiser fresco tem de se pôr «ao fresco» desta terra. E recordei, pela enésima vez, as intervenções na Assembleia Municipal feitas para o saco roto da Câmara, em que se pedia (estamos a falar de “há décadas atrás”) a criação de uma carta de praias fluviais e um plano de piscinas nas vilas e cidade. Não é, pois, como sabemos, por falta de solicitação e de proposta que o verão é inóspito em Guimarães.

Fluindo a conversa naqueles breves instantes do embrulhar e pagar, perguntei se os trabalhadores não se sentiam mal com tanto calor no local de trabalho. Que sim, que se passava muito mal, mas que noutros sítios era pior, embora o 112 ali fosse várias vezes durante a semana buscar alguém que tinha tombado por fraqueza, por exaustão, ̶ dá-lhes o chelique e pum caem no chão.

Uma pessoa ouve e acrescenta ao que já conhecia e o que levamos de presente no saco já não parece tão bonito, embaciam-se as cores e a vida, a liberdade não passa por aqui.

Mas vocês «colaboradores» não pedem que se melhore «isto», perguntei pedagogicamente, – que era muito difícil «por causa das máquinas e que por isso não dava».

Já escutara respostas semelhantes a perguntas idênticas e não julgo nem sentencio. Para quem está de fora, pachorrento à janela, é fácil exigir aos outros que lutem pelos seus direitos.

Será bom recordar, neste particular, uma coisa premeditada, marcada a ferro quente nas consciências da recente geração de “colaboradores”, a doxa: obedece e sê feliz. Pensar em «condições de trabalho» é um exotismo, um devaneio da esquerda radical.

Há que manter a esperança, e mantemos, sem tolos otimismos nem pessimismo paralisante, porque o mundo pula e avança.

Afirmemos pois, perante as facas longas do capitalismo sem açaime, que a melhor forma de defender um direito é exercê-lo e que aquilo que se pede – salubridade no trabalho – não é um privilégio, não é um luxo. É o mínimo. Não somos recursos humanos, somos seres humanos, caramba.

Portugal é hoje um dos países onde o duplo emprego mais cresceu, um crescimento de 23%, sendo que as horas trabalhadas também tiveram das maiores subidas da União Europeia. Resulta a situação das circunstâncias das “novas” tecnologias, sim, mas também, e sobretudo, porque os salários são baixos, desgraçadamente baixos.

Se a este panorama acrescentarmos o inenarrável das condições em que se labora, temos algo que só podemos classificar de imperdoável e impossível de tolerar.

Será altura de perguntar, cara leitora, caro leitor: Which Side Are You On?

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