Gooooollllloooo!!!
Por César Machado.
Por César Machado.
“Goooolllllllloooo!!! A Taça Já ninguém nos tira! Mesmo a jogar a menos, até se come a relva, assim está bem, assim vale a pena, deixar tudo em campo e trazer o caneco, como se trouxe o título. Grande ano. Ali estávamos todos, a festejar, com abraços para aqui, beijos para acolá, cais covid cais carago, tudo numa alegria incontida, depois de um ano a sofrer ao sobe de desce, ganhamos e merecemos como merecemos agora a Taça, mesmo começando a final praticamente a perder um jogador e a ficar dez contra onze, que momentos!!! Assim sim, cum carago”. Um ao lado a dizer que isto valeu por uma Liga Europa, o outro a dizer que não mas interessa pouco, ganhar todos os jogos aos lá de baixo, lampiões e lagartagem, isso sim, é obra e rara, tudo lembra quando a coisa é festejar os feitos da camisola. Noutros tempos, quando os jogos eram a seu tempo, a festa era nos Aliados e os jornais, os nossos jornais, chamavam-lhe um “São João antecipado”. Este ano foi um São João quando se pôde, para o caso interessa pouco, vale é o que se ganhou, o que ganhamos em campo, valem os sorrisos, os abraços, aquela buzina do corsa já velhinho com a condutora ainda mais velhinha, de boné e bandeira de fora a gritar o nome do clube e…” Nisto… do nada, gélido, irrompe ruidoso o alarme, ainda mais bruto que nos outros dias. Que estranho modo de acordar, sem saber se melhor seria regressar ao sono ou acordar mesmo… Belisca aqui, coça acolá, que se passa? Onde estamos? Ganhamos o quê? Há algo de errado nisto…Refeito o son(h)o, e repassadas as imagens pelo VAR da crua realidade o que ficou foi um sonho, um sonho e nada mais, um sonho que não resistiu ao indiferente alarme da manhã. Uns minutos de sonâmbula reflexão e o desabafo improvável “às vezes era bom ser de um clube assim…na roda dos amigos de sempre festejar um campeonato, uma Taça dos Campeões, vitórias sobre vitórias, ver os nossos a correr o dobro dos outros, como deve ser bom…”. Mas logo se recupera a razão e regressam imagens únicas dos nossos ídolos de miúdos, eles sabem lá o que isso é, os andrades, os lampiões, a lagartagem, eles sabem lá o que é esta coisa de curtir o cabedal em muitos anos sem vitórias e seguir caminhando, mesmo sem títulos, é certo que tem os seus custos, por vezes o único sol é o que vem da chuva e chuva para nós é sol, mas até isso é bonito, cola-se-nos no coração, eles sabem lá o que isso é…. Seria prático mudar, passar para o lado dos que ganham? Para quem goste, talvez seja pergunta a colocar. Para nós nem pensar. Mesmo porque isso de ganhar pode criar vício e não convêm começar. Todos gostam de ganhar, quem não gosta? Pois, mas isto é como a cor dos olhos –alguém escolheu por ti e assim ficou. Aqui escolheste tu e deu no mesmo, ficou. É bom ou mau? Isso é pergunta que se faça? De que adianta complicar, se gostas ou não da cor dos olhos? Não é possível nem há vontade de fazer a travessia para junto dos que ganham pela gulosa ânsia de ganhar. Fica onde tens o coração, não te mintas. Não queiras comprar fiado por conta de amores futuros que não tens hoje e sabes que não terás depois. Há vitórias que não valem a travessia.
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