Gualterianas: Tradição e animação

Chega julho e com ele a curiosidade de descobrir quem […]

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Chega julho e com ele a curiosidade de descobrir quem são os cabeças de cartaz das Gualterianas – Festas da Cidade e Gualterianas, perdoem -. Chegam à cidade as farturas e os carrinhos. E quem nunca fez amizade com os senhores dos carrinhos de choque que atire a primeira pedra. Há alguém que nunca tenha conseguido uma ficha a mais? Ou que nunca tenha engraçado com alguém pelas festas?

© Cláudia Crespo / Mais Guimarães

Os concertos mudaram, os lugares dos carrinhos e dos concertos mudaram, há menos dias de fogo de artifício, já não há uma atuação de uma banda vimaranense, e o fado parece ter tomado conta destes três dias. Não estamos mal entregues, mas pedimos um pouco mais de animação. Os pinheiros de Natal parecem ter sido reutilizados, ao contrário, no Toural, mas as iluminações, este ano, marcaram pela positiva. A feira de Artesanato trouxe uma nova roupagem à alameda de São Dâmaso e as exposições de fotografia fizeram-nos viajar no tempo. Os diferentes grupos a atuar pelas ruas da cidade mantiveram viva a tradição e a procissão não nos deixou esquecer a origem das festas.

A segunda-feira de Marcha

É o momento alto das festas. O último dia. A segunda-feira de Marcha teve sempre um duplo significado lá por casa. Era o dia que marcava, por norma, a ida para a praia. Ao mesmo tempo, era dia de juntar a família na alameda, depois de jantar mesmo ao lado da Casa da Marcha. A segunda parte mantém-se e a tradição vai passando, ano após ano.

É (mais) uma noite para juntar os primos, é motivo para um brinde e para celebrar a cidade que nos viu nascer e crescer. Cresci na rua Doutor Eduardo de Almeida, que mais tarde passou a designar-se rua da Marcha Gualteriana. A semana que antecedia a Marcha era das melhores semanas que uma criança podia ter. A partir de sexta-feira, então, era a felicidade máxima. Começavam a ser montados, na rua, os carros. Dia e noite. Ia à varanda ver os progressos gerais e depois percorria carro a carro para ver os detalhes. Contava a toda a gente quais os carros que iam existir.

© Cláudia Crespo / Mais Guimarães

Mudei de rua. Deixei de acompanhar o processo todo. Os carros passaram a ser surpresa. E confesso: passou a haver alguma magia nisso.

Dois anos depois de pausa, com “apenas” – que tanto trabalho deram! – exposições pela cidade, a Marcha Gualteriana voltou a sair. Que felicidade ao encontrar tanta gente na rua. Muitos deslocaram-se à cidade para, pela primeira vez, apreciarem o trabalho dos obreiros da Casa da Marcha. Outros voltaram a cumprir a tradição de sair, com ou sem a sua cadeira, de se sentarem mais ou menos perto da estrada. Houve, contudo, algumas coisas que foram comuns: o espanto com os pormenores presentes nos carros e as gargalhadas partilhadas com os números vivos, houve espaço para críticas à cidade e à sociedade, para celebrar o centenário do Vitória e para mostrar que nos mantemos de braço dado com a Ucrânia.

O carro da cidade, que alguns obreiros já nos tinham confessado ser sempre aquele pelo qual têm mais carinho, levou-nos a um breve passeio pelo jardim do Carmo, com uma réplica da fachada do Lar de Santa Estefânia, inaugurado em 1863, e o busto de Martins Sarmento. Voamos, depois, com Gago Coutinho e celebramos o centenário da primeira travessia aérea do Atlântico Sul.

O chamado “carro da criança”, trouxe consigo a primeira personagem da Disney de descendência asiática, a princesa Mulan. No ar, viam-se confetis. Ouviam-se músicas que marcaram a nossa infância. E as crianças, sentadas nos passeios de Guimarães, não podiam estar mais felizes.

© Cláudia Crespo / Mais Guimarães

Dos risos e da alegria contagiante, passamos ao silêncio que se fez ouvir entre aplausos. A pomba branca, símbolo da paz, anunciava aquilo que podíamos esperar. Amarelo e azul, as cores da Ucrânia. Pela paz.

Projetado por um grupo de estudantes oriundos de diferentes cursos, seguiu-se o carro da Escola de Arquitetura, Arte e Design da Universidade do Minho. Um carro que marcou pela diferença de não levar pessoas, mas que tinha, ainda assim, um bocadinho o que a universidade significa: “a alegoria tradicional de um caldo que se entorna; como um líquido que cobre todo o entorno – o território, a cidade –, mas que avança criticamente com ambição, perseverança e vontade de aprender”.

O património minhoto não podia passar ao lado da edição de 2022 da Marcha Gualteriana. A arquitetura, os trajes, o rio Ave, as festas, os cantares ao desafio que extrapolam fronteiras, o coração de Viana ou o galo de Barcelos, a cantarinha dos Namorados e outros tantos pormenores. “Não há outra Terra” deu o mote para o carro seguinte. Um carro muito aplaudido por todos e que trazia consigo um pedido: “cuidem do planeta, salvem o ambiente”.

© Cláudia Crespo / Mais Guimarães

Chegou depois o momento pelo qual todos esperavam. O carro alegórico ao centenário do Vitória Sport Clube era certamente, e pelo que fomos ouvindo, o que todos mais queriam ver. As modalidades do clube foram todas elas aplaudidas e os adeptos que marcaram presença ao longo do percurso fizeram questão de se fazer ouvir.

Chegamos ao fim, com o Balonas. Marcou os dez anos da Capital Europeia da Cultura. Sem os tradicionais foguetes, os vimaranenses fizeram, ainda assim, a festa. Há uns anos, depois do último carro passar a alameda, íamos aos carrinhos, que na altura ficavam bem mais perto da Casa da Marcha. Só depois íamos para casa. Contudo, não sem antes ficar a ver os obreiros a desmontar os carros. O que levou meses a ser construído desaparece em minutos. E depois? Depois já só se pensa no ano seguinte.

Já não se veem vestígios da festa. Passou o dia, passou a romaria. Esperamos por 2023, na esperança de que todos os anos superem o ano anterior e com um agradecimento, dos que não cabem em palavras, aos obreiros da Casa da Marcha.

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