Há um centro de inovação em Guimarães onde se sonha com carros voadores
O Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros (PIEP) foi fundado há 25 anos, por um conjunto de empresas do setor dos plásticos, o IAPMEI e a Universidade do Minho. O objetivo era servir de interface entre o conhecimento que é produzido no único curso de Engenharia de Polímeros da Península Ibérica (em Guimarães) e a indústria. Passado um quarto de século, este centro de investigação está envolvido em mais de 350 projetos de investigação e, em 2024, serviu para cima de 750 clientes. A investigação do PIEP abrange coisas tão “utópicas” como carros voadores, ou tão pragmáticas como a utilização de resíduos plásticos como matéria-prima para fazer móveis.

© PIEP
O FLY.PT é um dos projetos mais impressionantes do PIEP pelo imaginário que invoca: os carros voadores. Trata-se de uma cabine que se pode acoplar a uma plataforma com rodas (skate) para deslocações terrestres, mas que também se pode unir a um drone, para deslocações pelo ar.
Desde o ano 2000, o PIEP tem vindo a desenvolver soluções inovadoras para a indústria dos plásticos e setores associados: automóvel, embalagem, aeronáutica, espaço, defesa, ferrovia, energia, calçado e saúde. Ao nível do desenvolvimento da economia circular, o PIEP é o coordenador científico do projeto “Better Plastics” que visa criar práticas mais sustentáveis nesta indústria. O projeto envolve 52 membros: fabricantes de embalagens, retalhistas, universidades e da indústria de reciclagem.

© Rui Dias / Mais Guimarães
O “Better Plastics” procura atingir a circularidade de várias formas: pelo design de materiais, design de produto, através da reciclagem e da utilização de matérias-primas alternativas. Este projeto já deu origem a 15 novos materiais e 17 novos produtos que incluem na sua composição materiais reciclados e que são recicláveis no seu fim de vida: embalagens para queijo e para carne processada em vácuo. Estão também a ser desenvolvidos materiais biocompustáveis em 60 dias, nas centrais que existem hoje em Portugal.
Fazer móveis com resíduos de plástico que seriam muito difíceis de reciclar
O projeto Ecoboard é um exemplo de como a criação de uma economia circular pode ajudar a resolver procura resolver um problema de falta de disponibilidade de matéria-prima virgem para a construção de mobiliário. Trata-se de aproveitar resíduos da indústria do plástico, que não poderiam ser reciclados, para fazer em pranchas (board), que substituem a madeira.
Uma cápsula de café totalmente em plástico
As cápsulas de café, nos últimos anos, tornaram-se omnipresentes, e são um desafio para a indústria da reciclagem. A presença de vários materiais diferentes, plástico, papel, alumínio, obriga a uma separação para que possa ser feita a valorização dos resíduos. Em colaboração com a Bicafé, o PIEP ultrapassou este problema com o desenvolvimento de uma cápsula, já patenteada, feita a partir de um único polímero.

© Rui Dias / Mais Guimarães
Nem tudo o que parece “verde” é realmente
Os plásticos constituídos por vários materiais são os mais difíceis de reciclar e Bruno Silva, diretor de relações públicas e sustentabilidade do PIEP alerta para algumas substituições “revestidas de motivações ecológicas” que podem ser enganadoras. “Os copos para café em papel, tem um revestimento em plástico e são mais difíceis de reciclar do que os antigos feitos apenas de plástico”, sinaliza. “Fazem-se leis para fazer substituição de materiais, sem suporte científico”, acrescenta. A diretora-geral do PIEP, Cláudia Cristóvão, destaca a importância da investigação que se faz neste centro de investigação, “porque não é possível imaginar o nosso futuro sem polímeros”.
Soluções para a Agência Espacial Europeia e para o CERN
Os polímeros estão nas pequenas coisas do dia a dia, desde logo no vestuário, nas embalagens, nos automóveis e em quase tudo o que nos rodeia, mas também são necessários para os grandes desafios tecnológicos da Humanidade. O PIEP, em parceria com a Corticeira Amorim, está a desenvolver materiais sustentáveis e não inflamáveis para revestir o futuro Telescópio Einstein, do CERN (Organização Europeia para a Investigação Nuclear) e criou uma cápsula de de reentrada atmosférica, para a ESA (Agência Espacial Europeia), destinada a proteger amostras recolhidas no solo de Marte.
Com o seu edifício sede no campus de Azurém da Universidade do Minho, o PIEP é uma associação de direito privado, sem fins lucrativos, que reúne mais de 60 associados, perto de 100 colaboradores (entre os quais 16 doutorados e 44 mestres) e que, no último ano, serviu mais de 750 clientes. Este centro de investigação acumula mais de 20 milhões de euros de investimentos e, em 2024, faturou 5,4 milhões de euros.
Por Rui Dias.





