Houve lojas que não abriram caixa na experiência de corte de trânsito no centro
Muitos comerciantes até concordam com a pedonalização, mas queixam-se que não há estacionamento de proximidade e que temem ter de mudar ou de fechar os negócios.
O Município encerrou ao trânsito automóvel a zona norte da alameda de São Dâmaso, a parte superior do Toural e a rua de Santo António, entre quinta-feira (dia 17) e domingo (dia 20), numa experiência para corte definitivo que pretende fazer nestas zonas. A meio da manhã de sexta-feira, na rua de Santo António, havia clientes que ainda não tinham aberto caixa. O MG encontrou vários lojistas favoráveis à pedonalização destas ruas, mas queixam-se que, antes, é preciso criar mais estacionamento de proximidade.
Cristina Faria, presidente da Associação de Comércio Tradicional de Guimarães (ACTG), com uma loja de lingerie na rua de Santo António, diz que no primeiro dia sem carros nas ruas (quinta-feira) teve uma quebra de faturação de 80%. “O meu caso nem sequer é o mais grave. Há lojas que não abriram caixa”, assegura. Posicionada no meio de uma rua onde, num dia normal, estão sempre a passar carros, aponta para a falta de trânsito e de pessoas nos passeios e pergunta: “Com isto assim como é que se espera que o comércio possa sobreviver?”
No outro extremo, na “Sardas”, uma loja de roupa para criança, na alameda de São Dâmaso, Isabel Freitas não se lembra de ter tido um dia como na passada quinta-feira, “em que não entrou uma única pessoa na loja”. A comerciante queixa-se da forma e do momento que o Município escolheu para avançar com esta experiência. “É preciso criar infraestruturas, nomeadamente de estacionamento, mas também de transportes. Os autocarros param no início da alameda e depois fazem todos este trajeto que está fechado ao trânsito sem terem uma única paragem, só voltam a apanhar e largar passageiros junto ao edifício dos Correios”, apontou. “Além disso, esta experiência devia ter sido feita na primavera, quando as pessoas podem andar na rua, não agora, com chuva”, acrescentou.
“O presidente da Câmara não tem nenhuma loja aqui no centro, se tivesse não cortava o trânsito”
Maria Manuela Nobre regressa a casa com as compras do dia em dois sacos de plástico. Lamenta a sorte dos comerciantes que, na sua opinião, estão a ter a mesma sorte que ela. “Morei toda a minha vida aqui no centro, agora tive de sair, o senhorio queria uma renda louca. Fui expulsa por essa praga do alojamento local”, reclama. “Os turistas não dão nada a estes comerciantes das lojas de roupa, sapatos, farmácias, oculistas. Os estrangeiros compram um íman e tomam um café”, afirma. “O presidente da Câmara não tem nenhuma loja aqui no centro, se tivesse não cortava o trânsito”, atira esta munícipe.
Avisados à última da hora
Às 11.00, na Farmácia Nobel, além da diretora técnica, Maria Manuela de Sousa havia mais três funcionários, mas nenhum cliente. “Já viu isto? A esta hora?” – questionava a farmacêutica. A Farmácia Nobel enfrentou um problema de abastecimento, uma vez que a carrinha que fez as entregas da tarde foi impedida de entrar. Os comerciantes dizem que foram avisados dos cortes de trânsito muito em cima da hora e que não tiveram tempo de alertar os fornecedores. “Há três semanas atrás, tivemos uma reunião com a Divisão Económica da Câmara e disseram-nos que o encerramento seria só no sábado e no domingo”, indigna-se Cristina Faria.
No quiosque da rua Paio Galvão, Manuel Couto também se queixa de uma quebra de 50% no negócio, apesar da artéria não estar fechada ao trânsito. “Dependo de quem passa na rua e com estes cortes tem havido menos gente”, refere.”Admito que a pedonalização é o futuro”, afirma o comerciante, “mas, não se pode pôr o carro à frente dos bois, é preciso criar estacionamento primeiro”, acrescenta.
Loja do Cidadão vai beneficiar o Continente
Nuno Duarte, proprietário de uma loja de moda infantil na rua de Santo António diz que “o comércio de proximidade deixa de o ser se o cliente não pode chegar perto”. Para este comerciante, “o facto de o cliente poder vir até à porta da loja com o carro ainda era a última vantagem que tínhamos relativamente aos centros comerciais, agora até isso nos tiram”. Nuno Duarte acredita que para se poder avançar para a pedonalização destas ruas, “era preciso, primeiro, atrair lojas âncora e criar estacionamento de proximidade em quantidade suficiente”. O comerciante lamenta que “a prometida loja do cidadão, afinal já não venha para o centro e acabe por ir para uma zona próxima do Continente”.
De acordo com a Câmara Municipal, “este teste, mais que uma experiência técnica, constitui um marco na transição para um modelo de mobilidade mais sustentável, centrado nas pessoas”. Recorde-se que o presidente da Câmara, Domingos Bragança tinha revelado vontade de encerrar ao trânsito automóvel a parte norte da alameda de São Dâmaso, a zona superior do Toural e a rua de Santo António, até ao final de 2023. Em novembro do ano passado, juntou-se a este desígnio o projeto para a avenida D. João IV, que liga o largo República do Brasil à estação de caminho-de-ferro. Neste caso, o objetivo é reduzir a largura da faixa de rodagem, nivelá-la com o passeio, reduzir a velocidade máxima a 30 quilómetros por hora e torná-la numa via partilhada entre peões, ciclistas e automobilistas.
Apesar de questionada pelo MG, a Câmara Municipal não fez, até ao momento em que esta notícia foi publicada, um balanço da experiência de corte de trânsito. A ACTG, numa apreciação preliminar, diz que os resultados da experiência foram muito negativos e apela a que a Câmara “não volte a fazer-nos uma coisa destas porque está mesmo a fechar-nos as portas”. A associação está a fazer um levantamento junto dos comerciantes e promete apresentar um relatório mais detalhado até ao final desta semana.
O estudo continua de 24 a 27 de outubro
A Câmara informa que esta foi apenas a primeira fase de um estudo com que pretende avaliar o impacto das alterações em diferentes cenários de circulação, como dias úteis, de mercado e de fim de semana. Entre 24 e 27 de outubro, será feita uma nova avaliação, desta vez sem condicionamentos ao trânsito. De acordo com o Município, isto vai permitir “uma comparação direta entre os fluxos atuais e os simulados”. Ainda segundo a informação do Município, esta “análise comparativa será essencial para determinar a viabilidade das mudanças propostas”.
A ACTG, numa apreciação preliminar, diz que os resultados da experiência foram muito negativos e apela a que a Câmara “não volte a fazer-nos uma coisa destas porque está mesmo a fechar-nos as portas”. A associação está a fazer um levantamento junto dos comerciantes e promete apresentar um relatório mais detalhado até ao final desta semana.
Jornalista Rui Dias
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