“Jungle Book reimagined”: A importância de falar de mais do que “somente o necessário”
A junção (quase) perfeita da dança, da música, da animação e da voz está presente em "Jungle Book reimagined" da companhia Akram Khan - que o público tão ansiosamente esperava -.
Terminar o GUIdance a aplaudir de pé. Mas com o infeliz pensamento de que o que vem de fora enche e outros, igualmente bons – ou melhores -, não o fazem.
A junção (quase) perfeita da dança, da música, da animação e da voz está presente em “Jungle Book reimagined” da companhia Akram Khan – que o público tão ansiosamente esperava -.
“O Livro da Selva”, de Rudyard Kipling, contava, em 1894, a história de um menino, Mogli, abandonado na selva. Adotado pelos animais, conhece Baloo, a pantera Bagheera, a jiboia Kaa e o tigre Shere Khan. Em 2022, a companhia trouxe uma versão diferente da história que já todos ouvimos antes de dormir ou vimos na televisão.
“Jungle Book reimagined” trouxe a importância de se escrever no feminino, de se mudar atitudes para um mundo melhor. Uma nova perspetiva e uma leitura crítica da obra. Mogli é, agora, uma personagem feminina. Os animais invadiram a cidade que querem para si. As alterações climáticas fizeram com que os cidadãos tivessem de sair.
Uma peça que se faz com base na afirmação de que “a humanidade tem sido arrogante ao agir perante o espaço, o ambiente, o planeta, como se fosse seu dono e senhor e julgando que controla a natureza”.
E, sem figurino que identifique, o público facilmente percebe quem é quem. E os movimentos encaixam como uma luva nas falas que, ao longo do texto, vão sendo ditas – e traduzidas -. A dança contemporânea, mas também a dança tradicional indiana fundem-se.
Mogli encontra, agora na cidade, os amigos ideais para continuar ali. E, através dos olhos de um refugiado climático, leva-nos a perceber a importância de nos relacionarmos com e de respeitarmos o mundo natural.
Para trabalhar neste espetáculo, contaram alguns dos bailarinos na conversa com o público, viram vídeos dos próprios animais. Pui Yung Shum, que fez de Mogli, não o fez. Mas passou a reparar em todos os detalhes dos movimentos do quotidiano. “Mesmo o simples pegar numa garrafa, passei a perceber que as pessoas olham antes de o fazer”, exemplificou.
Curiosamente, aos 10 anos, Akram Khan fez de Mogli numa versão do clássico de dança-teatro indiano. Mas há mais que o liga à obra: “as lições de semelhança entre as espécies, a interdependência obrigatória entre os seres humanos, os animais e a natureza e, finalmente, um sentido de família e a nossa necessidade de pertença”.
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